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TRANSFORMAÇÃO – ACEITAÇÃO PESSOAL E SOCIAL

Os fatos aqui narrados são reais. Não tenho a intenção de criar ficção ou erotismo nesta narrativa, mas apenas expor apenas fatos reais acontecidos em minha vida. Também não entrarei em detalhes de nomes de médicos ou remédios que utilizei, pois acho extremamente perigoso a auto-medicação, ainda mais nestes casos de alteração de gênero.

Quero apenas tentar de forma simples ajudar pessoas que podem estar passando pelo que passei, e que se não fosse o apoio familiar, estaria em maus lençáis. Quero apenas que quem se sentir espelhado (a) nesta narrativa, pondere e se preciso façam seus pais lerem para enxergarem que existem coisas muito piores que uma alteração de gênero.

Também não tenho MSN, orkut, etc, não faço programa, não dou conselhos, apenas quero divulgar estes fatos, e se ajudarem apenas uma pessoa que seja, já estarei feliz.

Bem, vamos aos fatos.

Nasci André Luiz Maciel Andrade, em uma família de classe média alta do interior paulista, continuo com este nome em meu RG, porém entre meus amigos e familiares sou mais conhecida por Andréa. Menino normal, até os treze anos mais ou menos. Nunca fui efeminado, sempre brinquei com meninos, meus pelos começavam a aparecer até um dia que fiquei sozinha em casa. Nem sei porque, fui até o quarto de meus pais e comecei a mexer nas roupas de minha mãe. No closed, havia um punhado de sapatos de salto. Comecei a experimentar e andar com eles, e não sei porque, gostei. Disso foi um pulo para que toda vez que ficava sozinha, visitar o closed. E aquilo foi crescendo, primeiro as sandálias, depois uma calcinha, depois um soutien, depois uma meã-calça. Até que um dia me montei inteira e tentei a maquiagem. Minha cabeça realmente estava um turbilhão, pois eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Pensava na época: - será que sou gay?

Lágico que nem sempre as coisas que eu mexia ficavam exatamente como estavam e minha mãe começou a desconfiar de algo, sempre jogava no ar algo assim: - Parece que eu deixei tal coisa assim e agora está assado.

Eu sempre na minha e tomando cuidado. Acho que nunca aconteceria nada de mais se não começasse com uma amizade com um vizinho de 19 anos que eu tinha. Esse rapaz foi ficando meu amigo, bem chegado mesmo, mas eu não tinha desejo por ele. Muitas vezes víamos filmes ora em sua casa, ora em minha casa, tudo sem problemas nenhum. Até o dia que na casa dele estávamos sozinhos e ele começou com um papo de troca-troca, que era bom, que eu iria gostar. Isso durou mais ou menos um mês, até que dia na minha casa, sozinhos, ele me agarrou de jeito no sofá, (eu estava sem camisa), e começou a morder meus mamilos. Eu tentei me soltar, mas ele era mais forte e continuou. Nunca havia saído com uma menina, nem beijado na boca nesta época, e posso dizer que ele me deixou mole,s em reação. Disso as carícias foram crescendo até que aceitei me entregar para ele, com um tremendo medo, mas aceitei. Deste dia em diante, além de eu gostar do que acontecia e dos sentimentos que se apossavam de mim, passamos a transar quase todo dia, e eu sempre como passiva.

Minha mãe não era tonta, e percebia que dia a dia eu ficava mais estranha e fechada, e me perguntava o que estava acontecendo. Eu sempre dizia que não era nada, mas ela sempre desconfiada.

Até que como não poderia deixar de ser aconteceu. Sá na cabeça da gente achamos que os pais são tontos. Ela saiu para trabalhar, como sempre, meu vizinho veio até em casa e começamos a namorar. Ainda me certifiquei que a porta estava trancada antes de começarmos. Sá que bem na hora que eu estava naquela posição comprometedora ( de quatro), na minha cama, maquiada, se salto alto, peladinha, com ele em cima de mim, ou pior, dentro de mim, minha mãe abre a porta do quarto de dá aquele flagrante. Meu mundo caiu. Ela, na maior discrição, em voz baixa, disse para ele voltar para a casa dele e para mim me recompor, tirar aquela maquiagem e ir conversar com ela na sala.

Imagine um adolescente de quase quatorze anos ser pego nessa situação. Meu vizinho saiu correndo pedindo desculpas. Eu chorava enquanto tirava a maquiagem e colocava as roupas.

Fui chorando até a sala conversar com minha mãe.Ela na maior calma me perguntou se eu sabia o que estava fazendo. Eu disse que sim, não há como negar o que ela viu.

Então me perguntou se eu gostava ou foi ele que forçou para acontecer. Contei a verdade mais uma vez, que realmente ele forçou um pouco, mas se eu realmente não quisesse não teria chegado a tanto.

Disse que já desconfiava de algo entre eu e o vizinho, mas não sabia bem quem era a “menina” na situação, embora achasse que era eu mesmo, por causa das roupas mexidas no closed. Apás um sermão de palavras de perguntas, me disse enfim: - Como ficamos? – Se você gosta desta situação então terá de assumir, e assim, hoje a noite colocamos tudo em pratos limpos para seu pai. Se achar que não é isso que quer, podemos ir tentar algum tratamento hormonal sem seu pai saber para vermos se você desencana destas coisas. – Como vai ser?

Eu na maior tremedeira, disse que seria melhor o médico.

Fomos a um urologista, onde apás minha mãe explicar o ocorrido, ele me mandou entrar e me examinou inteira. Disse que fisicamente não havia nada de errado comigo, fez um monte de exames hormonais, e apás algumas semanas receitou alguns remédios, (hormônios) masculinos, dizendo que era para sentir resultados em mais ou menos um mês.

Sem brincadeira, aquilo para mim foi uma tortura. Minha cabeça já estava programada para ser menina, eu gostava daquilo. Ainda bem que os pelos aumentaram muito pouco. Apás um mês, minha mãe achava que tudo estava curado, mas não existe cura quando não há doença. Tentei mesmo sair com garotas, até beijei e dei uns malhos, mas não sentia nada, não me excitava aquele cheiro de mulher, era o cheiro que eu queria em mim, não nelas. Eu sentia inveja delas, por poderem sair arrumadas e eu com aquelas roupas de menino que não me faziam sentir bem.

Pensei então: - Bem, a coisa já desandou, minha mãe sabe que sou gay, e pelo papo dela, parece aceitar até que bem. Se aceitar, posso contar com a ajuda dela para contar para meu pai, o que não pode continuar são estes malditos hormônios masculinos, que vão acabar com meu corpo e com qualquer pretensão de feminilização.

Havia a poucos dias completado quatorze anos, quando cheguei para mim mãe disposta a colocar toda a verdade para fora. Chamei-a para a conversa mais séria de minha vida, e abri meu coração. (Desde o flagrante eu não tinha mais me encontrado com meu vizinho).

Ela na maior calma ouviu tudo o que eu disse e disparou. Filho, eu quero sua felicidade. Se você acha que será feliz como mulher, quem sou eu para provar o contrário. Tentei o médico antes pois poderia ser apenas alguma fantasia sua, que poderia passar e depois já seria tarde demais. Nunca quis seu mal, apenas sua felicidade. Se realmente a coisa está na situação que você acaba de me contar, vamos partir para outro caminho. Vamos buscar ajuda especializada para estes casos. Quanto ao seu pai, pode ficar tranquilo, pois desde aquele dia que vi você com o moço, contei a ele. Nada aqui em casa acontece escondido. Ele está ciente, e agora iremos apenas atualizar as informações para ele. Ele também te ama e nunca iria fazer qualquer coisa para te magoar. O que aconteceu com você, acontece em milhares de lares, e se os pais tivessem consciência do que ocorre na cabeça dos filhos, nunca colocariam para fora de casa.

Depois disso, de uma tremenda cabeça boa dessa, fiquei mais tranquila, e esperamos papai chegar para lhe contar as novas!

Meu pai ouviu, ouviu, ouviu, e enfim se virou para mim, abriu os braços e disse: - Bem vinda, filha!

Chorei de monte.

Começamos então as visitas aos médicos, um falava uma coisa, outro falava outra, até que achamos um profissional que já havia tratado de distúrbios de gênero de pelos menos 50 pacientes. Com ele começamos meu tratamento hormonal, tudo com doses controladas e exames periádicos. Visitas mensais ou até mais curtas quando havia alguma reação colateral.

Passado quase um ano, eu já beirando os 19 anos, dava-se para notar a grande diminuição dos pelos do corpo, diminuição do escroto e do pênis, amaciamento da pele, dos cabelos, alguma mudança pequena na voz, as auréolas dos mamilos maiores e os mamilos começando a crescerem. Durante todo este ano fica inclusa. Saia apenas para ir na escola, conversava muito pouco com os colegas (estava na oitava série). Nesta época ainda me vestia de menino. Minha mãe queria que quando realmente assumisse minha nova identidade estivesse mais “menina”.

Minha libido estava super em baixa, não tinha mais ereção, e também não procurava mais meu vizinho. Durante todo o tratamento fiquei somente com minha família, nunca mais encostei em um rapaz.

Por fim completei 19 anos, não fui fazer o primeiro colegial pois tinha vergonha de como minha aparência estava. O rosto estava afilado, meio andrágeno, meus seios já aparecial se colocasse uma camiseta, meu traseiro estava mais arrebitado, enfim, meu corpo inteiro parecia reagir bem aos hormônios, e faziam dele um corpo digamos, “arredondado”.

Nisso chegou o dia que minha mãe veio conversar e dizendo que como eu não iria mesmo para a escola, pelo menos por enquanto, se já não estava na hora de começarmos a transformação total.

Assustei, mas era isso que eu queria afinal, e no ponto que estava meu corpo, com certeza não era para arrependimentos.

Para eu não me sentir mal nas lojas, ela saiu sozinha para as compras. Fez uma tremenda compra. Chegou em casa e começou a me mostrar tudo. Foi até meu quarto, esvaziou meu guarda-roupas, e começou a guardar as roupas novas.

No dia seguinte me levou até sua depiladora, que já sabia em detalhes de mim, e me deixou lisinha. Meu cabelo já havia crescido bastante, e foi sá fazer um corte bem de patricinha.

Neste mesmo dia retornamos para casa por volta das 3 da tarde, e ela começou a transformação final. Eu tremia, achava estranho todos os acontecimentos, mas por dentro gostava muito. Eu não usava mais cueca daquele dia em diante. Eu tinha uma gaveta de calcinhas e soutiens!

Enfim, coloquei um jeans agarrado, um top, um sandália de salto, ela me deu algumas dicas básicas de maquiagem, e desci as escadas, já como Andréa.

Ficamos na sala vendo televisão e conversando sobre como eu deveria me comportar, sobre namorados, sobre aids, sobre prevenção, até que meu pai chegou. Mais um vez abriu os abraços e deu boas vindas para a Andréa, sua nova filha. Disse ser um sortudo, pois como eu era filha única, ele tinha tido filho e filha de uma vez sá. Compreensão assim é tudo nesses casos.

Hoje estou com 20 anos. Aos 19 meus pais pagaram meu implante de silicone nos seios, pois em clínicas sérias e responsáveis médico nenhum faz o implante em menores de idade, mesmo com o consentimento dos pais.

Aos 19 foi a vez das nádegas e panturilhas.

Hoje estou bem feminina ( o tratamento hormonal continua, embora em doses bem mais baixas ), certa de que minha escolha foi certa. Não sei se teria coragem de uma operação para mudança de sexo. Estou bem comigo mesma. Embora meu pênis não funcione mais a pelo menos 3 anos, acho melhor deixar como está.

Me sinto mulher e é isto que importa. Tenho o total apoio de todos meus familiares, não existe e nem nunca existiu discriminação em minha família. Meus amigos de verdade continuam sendo meus amigos. Os que se afastaram, provaram que não eram tão amigos assim.

Pareço e sou uma mulher. Qualquer um que não me conheça, me trata sem nenhuma desconfiança que se trata de uma travesti.

Quanto ao meu vizinho, que eu ainda acho que foi o culpado de tudo, pois foi ele que começou a me fazer mulher, pelo menos ele me assumiu e namoramos já a 6 meses, e meus sogros me adoram. E meus pais aceitam ele numa boa em casa. Colocam até hora para namorar, é mole?

Este ano, 2008, volto para a escola para terminar meu colegial. Daí vamos pensar no curso superior.

Se eu posso dar um depoimento de felicidade e alegria, de uma vida transformada sem traumas, é porque tive imensa compreensão de minha família. Família é tudo em qualquer momento de nossa vida.

É por isso que resolvi escrever esta narrativa. Se alguém se espelhar nisso, e tiverem problemas em casa, peçam para seus pais lerem isso.

Gay nem sempre é o filho do vizinho. As vezes acontece em nossa casa também.

Pais, nunca expulsem seus filhos de casa pois o que acontece é a marginalização, a prostituição de seus filhos. E um pai ou uma mãe jamais quer isso para seus filhos. E vale ao contrário também. Se sua filha se identifica com outras meninas, entenda e aceite. Nas ruas as chances de sobrevivência são mínimas. Existe assalto, pessoas maldosas, doenças que matam, implantes industriais, enfim, toda uma gama de coisas que pai nenhum quer para seu rebento.

Se todos pais fossem compreensivos como os meus foram, acredito seriamente que o mundo seria bem melhor. Não somos uma raça diferente, somos apenas humanos. Meu médico logo no começo de meu tratamento me disse uma frase que jamais esqueci:

- Se você quiser ser gay, seja gay. Se você quiser ser mais feminina, seja um travesti. Se quiser mais, seja uma mulher. Se Deus nos deu a sabedoria para fazer estas mudanças acontecerem, é porque ele quer o melhor para seus filhos.

Compreensão Senhores Pais, e os Senhores terão seus filhos sempre saudáveis, e sempre perto de vocês.



Andréa.