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Simplesmente K

Por Harry Haller (entendedores, entenderão).

O tempo passa, algumas lembranças permanecem. Nem sempre as emoções que vêm tarde, vêm frias... Foi um ano complicado aquele. Muitos acontecimentos. Muitas desilusões. Foi também momento de recomeço depois do fim de um relacionamento.
Voltara a estudar. A faculdade encontra-se alojada em uma ala adaptada de um mosteiro em minha cidade. Poucos monges e cursos à distância pipocando pelo país, fez do local uma boa escolha para um polo EaD de uma universidade famosa. E assim, nos estertores dos meus 40 anos, estava de volta à faculdade...
Faço uma advertência: assim como Umberto Eco em “O nome da rosa”, se permite ocultar o lugar e os nomes, também assim o farei. A chamarei simplesmente de K. Era uma jovem. Corpo de mulher feito para chamar atenção. Ao vê-la pela primeira vez, impossível não notar seus cabelos longos, seus olhos jabuticabados, seus peitos proporcionais e sua tez morena.
Apesar de ser uma faculdade com ensino no modelo à distância, sempre ia ao polo presencial para utilizar a biblioteca ou para evitar ficar sozinho em casa, pois sempre foi difícil acostumar-me com a solidão em qualquer tempo...
Em algumas ocasiões via K. Para surpresa minha, numa atividade acadêmica que deveria ser presencial, descobri que fazíamos o mesmo curso.
A partir daquele momento, algo diferente aconteceu. A bela e jovem mulher mostrou-se interessada em ter meu contato e até se propôs a estudarmos juntos, o que achei exagerado e apenas um recurso retórico.
E assim, como que envolvido numa trama do destino, me vi trocando mensagens por celular com aquela mulher tão mais jovem e de interesses tão distantes dos meus. Eram assuntos escolares e algumas mensagens de corrente que existem aos milhões por aí, mas que acabam sendo reproduzidas para dar um bom dia ou para ilustrar momentos divertidos.
Já em março, numa disciplina de cálculos, ela propôs estudarmos juntos. Marcamos no polo e por cerca de uma semana estudamos todas as noites. Esses momentos serviram para conhecê-la melhor e indagar sobre sua vida, bem como ela da minha. Apesar de jovem e bonita, nunca nutri senão admiração platônica e jamais arvorei em invadir sua privacidade ou avançar sobre assuntos que denotassem intimidade.
Em abril resolvi ir ao cinema e comentei com ela. Para minha surpresa ela disse que me faria companhia, pois queria ver o filme também. Fiquei sem saber o que estava acontecendo, pois não queria imaginar que algo diferente estivesse em andamento. Não consentiria dar realidade ao que pudesse ser apenas uma fantasia minha...
Portei-me com formalidade durante o filme. Estava constrangido e desconfortável pela diferença de idade e pela possibilidade de encontrar conhecidos e surgir algum comentário leviano. Depois, resolvi trata-la de forma próxima à impessoalidade e ao longo de semanas evitei conversas e mensagens pelo celular.
Dois meses depois, subindo as escadarias da faculdade, no fim de uma tarde, deparei-me com K em sentido contrário. Ela usava um vestido estampado e se postou num dos degraus, acima. Tinha o olhar lânguido e mercurial. Sua presença era imponente, ainda mais vista de baixo para cima... Impossível não contemplar.
Com o elevador instalado, ninguém mais usava as escadas, até porque o acesso por ela se dava no fim do corredor. Servia, atualmente, como uma saída ou entrada secundária, talvez emergencial. Como era parte adaptada de um mosteiro, o lusco fusco do entardecer projetava luzes difusas na escadaria ao passar pelos vitrais. Naquela tarde tomara as escadas sem imaginar o que viria...
Não impedi sua passagem, mas ela não se moveu. Tampouco eu. Seu olhar ainda era opressor, misterioso e direto. Entendi que havia desejo. Um desejo jovem, indomado, hormonal. Palavras não eram necessárias, pois o corpo também fala. Sem palavras, mas pode ser desvelado... Quanto tempo se passou nessa contemplação? Pouco. Muito. Não sei...
Sei que alcancei-a com meus braços, agora extensão de minha vontade máscula e insuspeitável. Foram beijos quentes e urgentes, suspirados no silêncio imposto pela precariedade da ocasião, mas permitidos, rápida e sacrilegamente, pela volúpia que se nos apossou.
Consumido pelo desejo primal, minhas mãos deslizaram sobre aquele corpo de mulher, e puxaram seu vestido para o contorno da cintura, deixando à vista sua intimidade que devassei quando arriei sua calcinha molhada.
Meu membro latejava quando ela, em gesto de desnudamento recíproco, desatou meu cinto, abriu minha calça, e, de forma frívola e incontida, o direcionou à sua boca encantada.
Por algum tempo acolheu meu látego em sua boca, arrancando-me arfantes gemidos. Já não cabia em mim. Levantei-a e posicionei-a à minha frente. Levantei-lhe uma das pernas e devido nossa diferença de altura, compensada pelo degrau, rocei- a com meu membro e aos beijos em sua boca silente, abracei-a com o braço livre, encontrando caminho entre suas pernas, penetrando-a de forma vertiginosa.
Senti seu corpo cedendo ao poder da luxúria e do fogo que se espalha desimpedido em corpos que ardem. Segurei-a com as pernas envoltas em meu torso. Recostei-me naquela escadaria e facilitei-lhe a cavalgada que se fez bruta e alucinada, arrancando-lhe gemidos guturais e prazerosos, além de lampejos de sorrisos etéreos, enquanto uma das mãos a segurava pelos cabelos e a outra tentava sufocar os sons que denunciassem o local onde poderíamos ser encontrados.
Aquelas paredes ebúrneas se tornaram ecos de um sexo primitivo e presenciaram aquela mulher se esvair pelo esforço e pelos gozos exasperados e espasmódicos, sendo acolhida sobre meu peitoral suado e pelas minhas mãos que procuravam pelo seu rosto numa carícia inútil.
Por incrível que possa parecer, ainda não tinha consumado meu clímax. Sentei-me num degrau com ela ainda colada a meu corpo, beijei-a. Ela se encaixou no meu membro e, e como na posição de lótus, iniciou seu bailado sensual e enfeitiçante. Meu membro incandescente pulsava e resistia aos seus movimentos, mas não por muito mais...
Estava enlouquecendo quando segurei-lhe os cabelos longos e, puxando-a para mim, levantei-me com ela ainda possuída pela minha carne dura que se alojava dentro dela. Projetei suas costas na parede e a utilizei como encosto, grampeando K pelas dobras das pernas que se arcavam sobre as dobras dos meus braços, deixando-a vulnerável para a minha tara. Penetrei-a num vai e vem ritmado, célere e profundo.
Com as mãos livres K livrou-se das alças de seu vestido e ostentou os seios que, com as minhas investidas, pareciam saltar em cumplicidade compatível com o prazer que se aproximava.
Foi um gozo brutal, demorado e definitivo. Minhas pernas bambearam e tive que soltá-la. Nos sentamos naquela escadaria - agora trasmudada em alcova - e, ainda ofegantes, procuramos nos recompor. As pernas de K escorriam. Nossos corpos suavam. Ficamos ali por alguns minutos. Depois descemos as escadas e ganhamos a rua. Nada foi dito. Nenhuma promessa foi feita. Fomos, apenas, um homem e uma mulher num instante do tempo que passa e que deixa vestígios na alma.
A tarde chegara ao fim. Os sinos das horas vespertinas dobravam, como que celebrando o momento, mas a rua, com suas pessoas anônimas e apressadas, estendia-se longa e impassível, incapaz de reconhecer qualquer encantamento ou de apreciar qualquer devaneio...