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MALDIÇÃO (CAPÍTULO I)

Maldição I

Evitava Fernanda de todos os meios possíveis. Não retornava suas ligações, não retornava seus recados. Era mais que preciso. Era necessário.

Fernanda tinha passado do limite que me era permitido. Tinha conquistado meu coração. Tinha despertado a paixão mais arrebatadora que já havia experimentado.

Agora, sá me restava retirá-la definitivamente de minha vida. Eu, um amaldiçoado, a quem não era permitido jamais tais sentimentos. Como pude não perceber que Fernanda tomava meu coração e minha alma? Como pude cometer tamanho erro?

Fernanda não conseguia compreender meu desaparecimento, em sua cabeça passava milhares de explicações que não faziam o menor sentido. Teria sido usada? Teria se enganado com os meus sentimentos? Eu era um louco? Sádico?

Claro que não. De alguma forma ela sabia que eu a amava. Tudo entre nás tinha sido tão perfeito, o jeito como nos conhecemos, como nos tornamos amigos e principalmente como começamos a nos apaixonar. O tempo juntos era cada vez mais essencial, a presença cada vez mais urgente. Eu deveria saber que essa paixão arrasadora já tinha se instalado e agora eu precisava por um fim nessa loucura. Mas não hoje, não nessa noite. Essa noite eu preciso me afastar, esconder-me em meu refúgio seguro e secreto.

Ouço passos e não acredito. Hoje não. Ninguém pode entrar aqui! O sol já deve estar se escondendo no horizonte, e as únicas companhias que eu posso ter são minha maldição e a escuridão desse lugar.

Eu reconheço o andar, é Fernanda que se aproxima. Senhor, ela não pode! Eu não posso! Vai querer explicações! E eu não tenho tempo, não hoje...

Fernanda caminha pelo bonito casarão rústico que ela pensa ser meu refúgio para escrever.

Ouço seus passos descendo as escadas, abrindo porta apás porta que eu devia ter trancado. Como sou idiota!

Os passos se aproximam. As fracas luminárias do corredor que dão acesso ao meu refúgio lançam luzes bruxuleantes, colorindo o lindo rosto de Fernanda de um dourado vivo, que luta com as sombras para possuir toda sua pele perfeita e bronzeada.

Ela chega até meu calabouço particular, as grades grossas, as paredes de pedras. Não um calabouço medieval sujo e empoeirado. Possui uma rusticidade semelhante, porém, parece limpo demais até mesmo para um porão ou lugar pouco frequentado. NA sala, não há nenhuma iluminação artificial, apenas a luz natural que entra pela pequenina janela, também de grossas grades. Fernanda consegue enxergar a pequena fonte artificial de água e uma plataforma também de pedras, coberta com grossas madeiras bem polidas e enceradas. O lugar se não era bonito, não deixava de ter o seu charme rústico, básico e poderoso. Não fosse a ausência total de qualquer mobiliário e o tom sombrio, o lugar lhe pareceria até agradável.

Fernanda procura a maçaneta para alcançar o interior e encontra apenas uma estranha engenhoca. A fechadura que abre a porta de grossas grades encontra-se embutida em um local estreito, onde somente pode ser aberta enfiando-se uma das mãos. Ela nota que não pode ser aberta por uma pessoa com mãos muito grandes ou gordas. E que é necessário alguma calma para destravar a entrada.

Estou sentado em um canto, o mais longe possível da pouca luz que o poente insiste lançar dentro do sombrio cômodo. Já sinto os efeitos da minha maldição. Minha cabeça já não pode raciocinar, já não posso formular motivos para sua partida. Quero afasta-la, mas meus pensamentos confusos não conseguem formular nada que a faça partir. Não tenho tempo para perguntas ou questionamentos. O sol já se pôs.

Fernanda se aproxima e ajoelha-se à minha frente. Suas mãos suaves tocam meu corpo já arrepiado. Seu cheiro embriaga-me absolutamente. Muito mais que o normal, provavelmente pela aproximação de minha maldita situação, que me aguça terrivelmente os sentidos. Imploro a Fernanda que parta, mas, sem conseguir formular um argumento, um motivo para meu afastamento, ela cada vez se chega mais, com seu cheiro e seu toque. Beija-me e retribuo com uma animalidade que nunca tínhamos experimentado. Meus instintos e sentidos amplificados me tiram o controle. Fernanda em sua inocência entrega-se ao exagero daquele momento, a agressividade animal de nossos beijos e carinhos. Suas roupas são rasgadas por mãos que se movimentam furiosas. Mãos que agarram doloridamente seu corpo e cabelos. Mãos que deslizam sobre sua pele dourada e aveludada, percorrendo toda a extensão de suas costas, nuca e coxas. A mão forte agora já penetra as entranhas encharcadas de Fernanda, bolinando, invadindo, machucando, deixando um cheiro que desperta a mais louca fera dentro de mim. Arrasto-a, completamente entregue, para a plataforma que uso como cama quando o mal se apossa de minha alma.

Fernanda geme e se contorce com a violência que é manuseada, explorada, violada, mas completamente dominada pelo desejo e a beleza de um coito animalesco. Nosso beijo é a extensão de toda essa violência, ilustrando a loucura que nossos corpos experimentam.

Fernanda geme alucinadamente, tateando desordenadamente as partes de meu corpo que alcança. Ela tem urgência do contato cada vez mais poderoso e extremo. Os aromas me embriagam cada vez mais. Agora, além do cheiro de seu sexo, o do seu suor e de seus hormônios, entranham em meu cérebro e minha alma, tanto quanto suas unhas riscam minhas costas e suas mordidas marcam meus ombros.

Em meu último momento de lucidez humana, penso em me afastar e correr daquele lugar, que tanto me sinto seguro, antes que meu falo penetre minha amada mulher ou quem sabe meus dentes estraçalhem sua carne tão quente e macia. Os instintos mais selvagens apagam rapidamente a idéia de afastar-me e me empurram para consumir aquela fêmea tão sedenta quanto a prápria fera que se aproxima.

Percorro seu corpo com minha boca, beijando, lambendo, mordendo. Um animal que saboreia a carne que saciará sua imensa fome. Provo o gosto das entranhas de Fernanda, enlouquecendo com o sabor e cheiro do prazer que impregna minha pele, sua pele, o ar. Os gemidos de minha fêmea entram profundo em minha mente.

A violência da minha boca combinando com o clima animal faz com que minha amada tenha gostosas convulsões, terminando em um quase grotesco orgasmo. Fernanda sente seu ar faltar nos pulmões. Jamais sentira tanto prazer em sua vida. Um gozo alucinado, selvagem.

Fernanda me segura com sua fúria, puxando-me para um beijo ardente e saciado. Pega meu falo completamente latejante e engole-me com sua vulva selvagem e agora ainda mais encharcada.

O sol já se pôs há muitos minutos. As sombras de nossos corpos pintam nas paredes de pedra um bizarro filme acelerado, como dois porcos selvagens em um cio arrebatador. Os corpos suados se tocam e se procuram. A mistura perfeita entre a paixão latente de Fernanda e os instintos mais primitivos do demônio que a possui.

Cada vez que goza, Fernanda impregna o ar com seu cheiro delicioso, e cada vez mais o sexo é animalizado.

Fernanda me sente crescendo dentro de si, minha pele ficando grossa e áspera. Seriam seus sentidos lhe pregando peças depois de tantos e tantos orgasmos? Meu corpo cresce e se deforma, enquanto Fernanda, transtornada de prazer parece não notar...

Agora de costas para mim e com as mãos espalmadas na fria parede de pedra, Fernanda é estocada com todo vigor, que já lhe machucam tanto quanto dão prazer.

A lua cheia volta a iluminar meu secreto abrigo, quando Fernanda, virando-se para ver seu amado, enfim, vê o monstro que lhe monta como uma cadela. Seu rosto de pavor jamais sairá da minha cabeça. É tarde demais. O mal já tomou meu corpo e minha alma e a fera insaciável, agora toma forma de um colossal lobo bizarro, com o tamanho de um touro, violenta as entranhas de minha amada com sua ferramenta desproporcional e poderosa demais para se suportada por uma fêmea humana. Fernanda tenta escapar da fúria sexual do terrível monstro, com o seu membro latente e gigantesco, que lhe rasga as entranhas como uma feroz britadeira. A frágil fêmea desfalece. A dor e o horror são insuportáveis. A fera a ignora, e continua a devorar sua carne até a explosão do seu grotesco e farto orgasmo, em um urro horripilante.

Nessa noite os gritos de dor e pavor são ouvidos por toda a parte, impregnando o ar da noite de medo, juntamente com os já conhecidos uivos horrorosos que apavoram moradores das cercanias.

Pela manhã, alguém que adentre o antigo casarão sá escutará o barulho de pá a cavar na terra dura e seca a sepultura do meu único amor.