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DOMESTICAÇÃO

Meu nome é Gregário Mada, tenho 23 anos. Eu não sou um ser humano. Sou uma coisa na qual meu dono se esfrega, enfia e satisfaz. Ele comanda minhas ações, ou seriam reações? Já não sei mais distinguir. Perdi a capacidade de raciocinar. Mas infelizmente ainda posso sentir, embora essa habilidade esteja alterada. Para mim o dia passado sem muita dor, seja de natureza física ou psíquica é um bom dia.

Quem disse que se pode ter liberdade de espírito mesmo vivendo encarcerado é um sonhador ou um idiota, ou melhor, um idiota sonhador. Somos o corpo que habitamos, sei disso agora.

O nome do meu dono é João Scorpio, um homem muito poderoso, influente e de muito dinheiro. É 19 anos mais velho que eu. É potente e voraz. É maior e mais forte que eu, me domina facilmente.

O corpo... meu corpo é perfeito, exceto por algumas escoriações e cicatrizes. Não sou muito alto, João é alto, pelo menos para mim é, tem dez centímetros mais que meus um metro e setenta e cinco centímetros. Somos ambos morenos, temos o corpo definido, o dele é mais, tem a chamada barriga de tanquinho. Seus braços são potentes seu pênis é ... bem, assustador.

Ele gosta das minhas pernas que, ao contrário das dele, são longas, diz que isso dá aos meus quadris um balanço provocante, assim meio felino, quando ando. Ele gosta de me ver andar... Quando ordena que caminhe para ele tenho que ir avançando devagar para ele desfrutar do meu balanço de quadris. Isso me envergonhava no início, agora sinto orgulho.

Meus olhos são azuis, grandes e rasgados, de cílios fartos e longos, os dele são menores, castanho escuros, seus cílios também são longos. Meu cabelo é castanho ondulado, devo usá-los repicados para acentuar o volume, devem ter um tamanho médio que cubra a metade da nuca e na frente toque minhas sobrancelhas, ele gosta que formem cachos. Os dele são quase pretos, usa-os curtos, como imagina, usavam os centuriões romanos.

Nossos narizes são afilados, meus lábios são carnudos e bem definidos, os dele são mais finos. O formato do meu rosto é um oval delicado com a linha do queixo formando um círculo gracioso. O rosto dele é quadrado, tem o queixo também quadrado com um furo. Para minha infelicidade sua barba é cerrada.



O começo

A primeira vez que nos encontramos foi num vernissage. Esbarramo-nos e começamos a conversar. Foi um papo casual, mas estranho. Era tão convincente e encantador, parecia um bom sujeito. Assim, comecei a falar e a abrir algumas informações minhas, onde trabalhava, o que fazia para me divertir, não abri meu endereço, mas trocamos cartões. Tudo um grande erro. Quando já era tarde demais fiquei sabendo que mandara um de seus seguranças atrás de mim naquela noite para descobrir meu endereço.

Uma semana depois desse encontro veio o primeiro telefonema. Queria se encontrar comigo, num happy hour, coisa inocente que tive de recusar devido ao excesso de trabalho. Era meu primeiro trabalho de verdade como auxiliar de projetos num escritário de arquitetura, me formara no ano anterior. Desligamos o telefone e segui preocupado com o trabalho. Dois dias depois disso topei com ele na saída do trabalho. Conversamos um pouco, tudo muito casual “Nossa que coincidência...”. Novamente me convidou para uns drinks, recusei com a desculpa que precisava ver minha namorada. Era heterossexual na época em que podia ser alguma coisa. Ele insistiu. Recusei com maior veemência. Nos separamos, quase corri para me afastar dele. “Cara estranho, eu heim!”

Na semana seguinte fui incumbido de visitar um cliente numa casa na região dos jardins. Fui recebido por um criado que me conduziu até a grande sala de visitas. João surgiu do outro lado da sala. Levei um susto assim que o vi. O coração acelerado, mal consegui expressar minha raiva. Ele começou a falar imediatamente. “Que bom que veio...”. “O que você quer comigo?” perguntei.

Ele disse que gostaria de passar algum tempo comigo. Suas intenções eram mais do que claras. Quando recusei, respondeu que poderia pagar pela minha disponibilidade, que era muito rico e que me daria um apartamento se concordasse em vê-lo. Horrorizado com a forma banal como tratava o assunto neguei mais uma vez, dei meia volta e sai.

Assim que cheguei ao escritário fui informado que estava demitido, a alegação era simplesmente a de que meus serviços não eram mais necessários. A partir daquele momento o inferno se abateu sobre mim. Todos os escritários os quais busquei me empregar pareciam gostar do meu currículo num primeiro momento, mas jamais consegui passar das primeiras etapas do processo de seleção. João usava seu poder para que não me empregasse. O tempo passava e meus recursos iam minguando. Uma noite, dois meses mais tarde voltando de mais um dia infrutífero pela busca de emprego entrei em meu apartamento e horrorizado encontrei João sentado no meu sofá.

- Como vê, controlo a situação. – declarou calmamente.

Mandei que saísse, apanhei o telefone para contatar a polícia. Ele pediu mais uma vez que fosse com ele, repetiu que me daria tudo o que quisesse, pediu para que refletisse sobre sua oferta e saiu.

Em crise, absolutamente descontrolado, não completei a ligação para a polícia, grande erro. Ao invés disso, dei vazão ao desespero, chorei, gritei, blasfemei, quebrei os poucos objetos que ainda possuía. Esgotado adormeci. Fui acordado por alguns homens que me apanhavam pelos braços e mandavam que andasse. Tentei reagir, mas me socaram o estômago, ação que me fez perder o fôlego e a oportunidade de fazer algum barulho. Cai de joelhos tentando desesperadamente retomar o fôlego. Agiram com tamanha rapidez e precisão que me foi impossível reagir. Num minuto estava dominado, imobilizado e a caminho do furgão que me transportaria para o meu cativeiro.

(Continua...?)