Aviso: Alteramos a página inicial para mostrar os novos contos que foram aprovados, não deixe de enviar seu conto.

Rendas, Cicatrizes e Feromonios

Renda, Feromônios e Cicatrizes – Versão Expandida

(Um conto sobre imperfeições, desejo e aceitação)

"Nem tudo que é quebrado precisa ser consertado. Às vezes, ser rachado é apenas outro jeito de ser inteiro."
- Anônimo do submundo.


O quarto estava escuro, mas não silencioso. O som dos tecidos, da respiração contida, do tilintar da corrente na coleira de Clara ecoava como um ritual.

Lizzie segurava a calcinha de Sofia com ambas as mãos, a renda fina, impregnada pelo perfume íntimo e traços invisíveis do Alfa, ainda quente. Inspirava como se buscasse um lugar no mundo que só existisse naquele cheiro.

— Mais fundo. — Sofia sussurrou. — Quero que sinta onde estive.

Lizzie obedeceu. A mistura de desejo e náusea a envolveu como perfume ácido. Queria o cheiro de Sofia, mas o odor do homem que ela não suportava estava lá, diluído, presente.

Sofia sentiu um arrepio. Observava Lizzie com o olhar de quem sabe que é amada por lhe dava poder.

Clara, deitada aos pés da cama, olhava com olhos semicerrados. Ela estava nua, com a coleira presa à perna da cama. Desde que se declarara a dogwoman de Lizzie, esperava ordens. Que não vinham.
— Sua cadelinha tá esperando, amor. Vai deixá-la no cio sem direção?

A feminização avançava: a testosterona reduzida ao mínimo, os seios inchados, a libido oscilando. Queria poder mandar, mas não sabia como.

— Ela é minha? — perguntou, insegura.

Sofia assentiu com um sorriso triste. — É. Mas você ainda não sabe o que fazer com o que deseja.

Clara rosnou. Literalmente.

Capítulo II – O Alfa Não Brinca
Marcos chegou tarde. Vestia-se sempre com sobriedade: blazer escuro, camisa branca, sapatos de couro sem um grão de poeira. Beija Sofia na boca, apertando-lhe o pescoço com firmeza.

— Relatório da noite. — disse, olhando para Lizzie e Clara com indiferença.

— Lizzie resistiu ao cheiro. Clara provocou. A ordem não se quebrou.

— Clara... — ele se virou lentamente. — Ainda está interessada em mim?

Ela não respondeu. Sorriu de lado. Um sorriso que conhecia o fracasso.

— Sofia, preciso que sua boneca recolha o material amanhã. Banco genético. É ordem.

— Sim, Senhor. — Sofia se curvou levemente. Lizzie engasgou no próprio silêncio. Doía. A última chance de perpetuar algo do que foi um dia. Os últimos espermatozoides. Uma cápsula de quem ela já não era. Choraria mais tarde. Sozinha.

Marcos olhou para ela com frieza. — E a feminilização... mais intensidade. Nova dosagem, dobrada. O corpo deve corresponder à estética. Sofia, administre.

— Sim, Senhor.

que havia congelado no banco genético ganhava outra dimensão.


— Você ainda pode ser... — disse com voz baixa. — Não como sonhou. Mas de outro jeito.

Sofia sorriu, mas foi um sorriso curto. Ela sabia. Sua infertilidade foi descoberta semanas antes, após exames exigidos por Marcos.


— Ele não quer filhos. Nem meus, nem de ninguém. — Sofia confessou. — Disse que uma escrava não gera sucessores. Ela serve. E ponto.


Clara ouviu tudo da escada. Chorou em silêncio. Tinha útero, ovários e um histórico de fertilidade invejável. Mas nunca se sentiria desejada como mãe. Nem mulher de ninguém. No dia seguinte, ofereceu seu corpo a Sofia. Como oferenda.


— Se quiser... posso ser seu ventre. Só seu. Não dele.



---


Capítulo VII — O Ritual das Sementes


Foi Lizzie quem trouxe a ideia. Um ritual simbólico. Um momento “nosso”. Um teatro sagrado de transgressão doce.


— O sêmen que congelei... ainda é meu. Mas se for teu desejo... pode ser nosso filho. Ou filha. Ou o que você imaginar.


Sofia hesitou. Chorou por três noites. Marcos não soube. Não perguntaria.


Na quarta noite, com o cheiro do Alfa ainda impregnado nos lençóis, elas se prepararam. Clara estava nua, deitada sobre as pétalas. O quarto iluminado por velas, difusores de aroma e a calcinha de Sofia pendurada como estandarte.


Sofia havia sido “fertilizada” por Marcos horas antes. Ela sabia que era impossível. Mas... e se?


Ela conduziu Lizzie, que usava uma seringa, aquecida em banho-maria, com o sêmen descongelado. Clara sorria, emocionada.


— Nunca imaginei que minha primeira inseminação seria num altar com cheiro de rendas.


Lizzie, nervosa, derramou metade no carpete.


— Desculpa... — disse.


Sofia riu. Limpou o rosto dela com os próprios dedos. — Era pra ser assim. Tão imperfeito quanto sagrado.


Clara foi inseminada. Lentamente. De forma simbólica e afetuosa. Depois, Sofia deitou ao lado. Tocou o ventre de Clara, mas o dela também. E ali, entre velas e líquidos, sentiu que todas haviam sido fertilizadas.



---


Capítulo VIII — O Círculo se Fecha


Dois dias depois, Marcos soube. Não por ciúme. Mas por estratégia.


— Você tenta escapar de mim até nos rituais. — disse seco. — Mas só é fértil quando eu deixo.


Não gritou. Não o castigou. Apenas se afastou de Sofia por uma semana. E ela sofreu mais do que se tivesse apanhado.


Durante a ausência dele, Lizzie tentou cuidar de tudo. Inclusive de Clara, que agora a obedecia com carinho. Um carinho novo. Clara havia se apaixonado. Pela primeira vez, sem ironia.


— Você não é forte como Sofia. Nem ácida como eu. Mas é você. E eu... quero isso.


Lizzie chorou. Queria dar amor. Mas só sabia receber ordens.


Foi Sofia quem, ao voltar ao centro da casa, trouxe equilíbrio:


— Vamos criar esse filho juntas. Mesmo que ele não venha. Mesmo que nunca exista. Vamos fingir. Sentir. Sonhar.


Clara assentiu. Lizzie caiu de joelhos.



---


Capítulo IX — O Filho Que Não Veio


Clara menstruou. Era óbvio. A inseminação simbólica não se transformou em gravidez. Mas isso não quebrou o laço. Ao contrário, tornou-o eterno.


Fizeram uma “festa de menstruação”. Um ritual de falha. Com risos, vinho, e calcinhas tingidas de vermelho penduradas como bandeiras de guerra.


Marcos entrou na casa com seu perfume forte. O odor de dominância e desinteresse. Observou a cena.


— Mulheres celebrando esterilidade? — zombou.


Sofia apenas respondeu:


— Estamos celebrando o que criamos com o que temos. Não com o que você deixa.


Ele não respondeu. Tocou o rosto de Sofia. Depois, se virou para Lizzie:


— Prepare os documentos. Quero que vocês se mudem para a propriedade do interior. Lá, poderão “brincar” à vontade.


Era um exílio. Mas também um recomeço.


Clara riu.


— Brincar é tudo o que sabemos fazer.



---


Epílogo — A Família Irreal


Na nova casa, sem regras tão firmes, as três criaram rituais próprios. Lizzie deixou de tomar hormônios por um tempo, para entender seu corpo. Sofia passou a cultivar orquídeas. Clara escrevia cartas para um filho que não existia.


E toda noite, antes de dormir, Lizzie usava a mesma calcinha da cerimônia. Dizia que era o “berço da semente”.


Sofia a beijava na testa.


— Você não é meu Romeu. Nem minha Julieta. Você é... você. E isso é tudo que eu preciso.


Clara murmurava baixinho:


— Boa noite, mamãe.


E dormiam. As três. Sem filhos. Sem príncipes. Mas com histórias que só elas sabiam contar.

Capítulo X – Marcos: Histórias, Histórias

Marcos corrigiu redações com uma xícara de café requentado, o cheiro forte misturando-se ao mofo leve da sala dos professores. Dava aula de História no ensino médio e, entre guerras mundiais e tratados esquecidos, tentava ensinar seus alunos a duvidar das versões oficiais.

Era um homem cansado, mas sereno. O casamento, agora um acordo silencioso, sobrevivia em função da criação dos dois filhos. Não havia sexo, mas havia respeito — uma irmandade forjada por boletos, greves e consultas pediátricas.

Sofia era outra história. Linda, selvagem, quase irritante na intensidade. Tiveram uma transa inesquecível, mas suficiente para acender nele uma obsessão. Ele gostava disso — gostava de saber que era desejado sem que isso lhe custasse nada. Lizzie, ele não compreendia. Era como observar um teatro sem legenda. Uma criatura peculiar, que desfilava pelas manhãs com roupas de renda, meias 7/8 e uma servidão afetada. Ele não zombava, nem desejava. Só achava… exótico.

Clara o incomodava. Aquela forma doce de sorrir sem dizer nada, a maneira como se colocava sempre um degrau abaixo, e ainda assim com um ar de julgamento silencioso. Era simples demais. Vulgar demais. “Barriga de aluguel emocional”, pensava.

Sofia, no fundo, era útil. Fazia tudo que ele não tinha paciência de fazer: ouvir, lamber feridas alheias, limpar os cantos escuros da alma das outras duas. E o melhor: nunca cobrava nada. Nem amor, nem presença.

E isso era perfeito para ele.

Capítulo XI – Sofia: A Mãe, A Diarista, A Bússola Partida

Sofia sempre amou o cheiro de Marcos. Não importava se ele usava o mesmo perfume há dez anos; era o cheiro da autoridade que nunca a rejeitava, mas também nunca a chamava de "minha".

Toda vez que ele a tocava, mesmo que com desdém, seu corpo retesou num desejo que beirava a humilhação. Queria ser vista. Queria ser esposa. Queria o anel, o nome. Mas no fundo sabia que bastava um olhar dele e expulsaria Lizzie com um peteleco emocional.

Porque Lizzie… ah, Lizzie. Aquela criatura mole e perfumada. Entre o carinho e o ciúme, Sofia oscilava. Sabia que a Sissy a amava como uma cadelinha de fita no pescoço, mas às vezes fantasiava punições silenciosas: deixá-la de castigo, trancada com plug anal e calcinha suja, só para ouvir seus gemidos suplicantes. E ria. Porque Lizzie era útil, uma espécie de brinquedo emocional e sexual, mas também uma ameaça, mesmo que doce.

Clara, por outro lado, era uma serva necessária. Sofia a via como uma Saia: discreta, trabalhadora, ideal para carregar seus sonhos no ventre simbólico. Fantasiava às vezes com sua boca, sua pele de fruta madura, mas nunca passava disso — exceto quando a ordem invertida: e era Clara quem sussurrava “mamãe” para ela.

Ela não queria perder seu trabalho. Seu orgulho vinha das casas que limpava, do cheiro de lavanda nos lençóis alheios, das gorjetas dadas com gratidão. Era zelosa, honesta. Era, acima de tudo, autônoma. Mesmo amando demais.

Capítulo XII – Clara: A Mãe de Aluguel, a Donzela Domada

Quando conheceu Sofia, Clara ainda achava que poderia ter uma vida normal: faculdade de turismo, pequenas rotas ecológicas e guias locais. Mas aquela mulher morena de olhos febris entrou em sua casa carregando produtos de limpeza e saiu levando sua paz.

Ficaram próximas. Depois, cúmplices. E sem perceber, Clara se ajoelhou — não fisicamente, mas emocionalmente. Quando virou Dogwoman, achava que era brincadeira. Um capricho. Mas os comandos de Sofia despertavam algo: instinto, medo e prazer.

Ainda assim, detestava Lizzie. Seu cheiro adocicado demais, a voz chorosa, o jeito afeminado forçado. Sentia nojo de sua pele — tão lisa que parecia plástico. Quando tocava, era como tocar uma boneca molhada. Mas havia algo… um medo talvez, de gostar. No ritual de fecundação simbólica, fingiu que o sêmen era de Marcos. Gozou pensando nele, em ter seu filho, em roubar o lugar de Sofia.

Mesmo assim, à noite, lambia as feridas de Lizzie. Às vezes, a castigava com desprezo silencioso. Noutras, a vestiu com sua calcinha usada e mandava que servisse chá. Clara gostava do poder, mas jamais o admitiria.

E ainda escrevia cartas para um filho imaginário. O filho de três mães. O filho que nunca veio.

sentada na máquina de lavar, usando Lizzie como apoio para os pés. A Sissy permaneceu ajoelhada, imóvel, com o rosto entre os tornozelos de Sofia.



Naquela noite, dormiram juntas. Mas sem beijos. Sem promessas. Apenas com o peso da posse restituída.

Capítulo XV – Clara e o Historiador
(Marcos e Clara – tensão de classe, poder e desejo não correspondido)
Clara aguardava Marcos na biblioteca comunitária. Ele havia prometido revisar o artigo dela sobre turismo histórico nas rotas jesuíticas do litoral. Vestia uma calça jeans justa e blusa verde-musgo com decote sutil. No colo, o notebook aberto; na mente, a esperança de impressionar.
Marcos chegou atrasado. Camisa social amarrotada, blazer de linho cru, e o mesmo perfume de sempre: vetiver e desdém.
— Clara... você ainda escreve como quem sonha com um diploma, não com uma tese — comentou, sem olhar para ela, concentrado nas anotações.
Ela sorriu amarelo. Queria rebater, mas se sentia pequena. Queria que ele a visse como mulher, mas também como intelectual. Queria... talvez, ser notada. De verdade.
— Você não gosta de mim, né, professor?
Ele largou a caneta, olhou nos olhos dela. A voz veio seca:
— Você quer ser minha Sofia. Mas só sabe ser... Lizzie.
A frase bateu como um tapa gelado.
— Mas ao menos... você me comeria? — arriscou.
Ele se levantou. Pousou a mão no ombro dela, como um padre benevolente.
— Clara, você é útil. É limpa. É dedicada. Mas... não me excita. Sinto muito.
Ela desabou por dentro. Mas assentiu.
Na saída, passou no banheiro, lavou o rosto e murmurou para si:
— Eu sou útil. E isso também é uma forma de poder.
---
Capítulo XVI – No Salão das Bonecas
(Espaço de Lizzie – salão de beleza, identidade e fetichismo cotidiano)
Lizzie chegava cedo ao salão. A chave sempre rodava duas vezes antes de abrir. O piso de porcelanato branco brilhava. No canto, um pequeno altar com flores de plástico, uma vela lilás e uma estátua da deusa Iemanjá. Era sua forma de agradecer por cada cliente.
Vestia um vestido rodado, meia 7/8 e anágua. Sob o vestido, cinta rosa e plug anal com pedraria lilás. O sutiã de renda não sustentava nada — era apenas enfeite. É símbolo.
Naquele dia, atendia Rita, uma cliente fiel e tagarela.
— Lizzie, você é um milagre. Nem minha filha me entende como você.
— É porque eu sou todas elas. E nenhuma — respondeu, rindo.
Rita não sabia que, sob a bancada, Lizzie guardava fotos antigas: sua primeira calcinha, o primeiro comprimido de ciproterona, e um caderno com fantasias escritas à mão. Era seu templo. Seu confessionário.
Entre escovas e esmaltes, fantasias surgiam: Sofia a obrigando a atender clientes com anéis de castidade visíveis. Clara, sentada na cadeira de manicure, ordenou que lavasse os pés dela com shampoo. Marcos… esse não aparecia. Era apenas uma sombra no fundo do salão.
No fim do dia, Lizzie tirava o avental e, de vez em quando, masturbava-se sem orgasmo, apenas pelo ritual da espera. Porque Sissy que é sissy não goza sem ordem.
---
Capítulo XVII – No Tapete da Sala
(Intersecção dos espaços – vida cotidiana invadida por fetichismo sutil)
Naquela noite, todas estavam em casa. Sofia cozinhava — arroz, lentilha e bifes finos. Clara corrigia relatórios de visitas turísticas. Lizzie passava roupas. Tudo parecia normal, exceto pelos pequenos rituais:
Clara usava, por baixo da calça, um plug vibratório controlado por Sofia.
Lizzie vestia babydoll infantilizado com babados e um babador bordado: “Boa Menina”.
Sofia tinha um cronômetro. A cada 15 minutos, mandava uma das duas parar e dizer “eu pertenço”.
Na sala, havia regras silenciosas: quem tocava o controle da TV precisava pedir permissão. Quem sentava no sofá, ficava com os pés recolhidos. E só Sofia podia deitar.
A noite terminou com as três deitadas no tapete. Clara ao centro. Lizzie com a cabeça em seu colo. Sofia acariciando os cabelos das duas.
— Somos três. Uma mãe. Uma cadela. É uma boneca.
Clara murmur:
— E nenhuma é só isso.
Sofia beijou a testa de ambas e completou:
— Mas hoje, vão dormir acreditando que são. E amanhã, talvez seja outra coisa.
E dormiram assim. Entre migalhas de lentilha, controles vibratórios, e promessas que ninguém precisava cumprir.
Capítulo XVIII – A Audácia de Lizzie
Lizzie decidiu, numa madrugada de desespero silencioso, quebrar as regras de Sofia. Tremendo de medo e excitação, enviou uma mensagem sugestiva para Marcos, oferecendo-as como nunca antes. Usou palavras provocantes, delicadas, mas perigosamente claras. Sabia que Marcos mostraria à Sofia; contava com isso, mesmo que isso pudesse custar-lhe tudo.
Ao amanhecer, Sofia confrontou-a friamente, sem raiva aparente, apenas uma decepção penetrante. Lizzie, ajoelhada, confessou seu desespero de ser notada, de ser punida, de ser enfim amada com dor. Sofia, em silêncio, deixou-a ali, sozinha, com suas lágrimas, sem conforto, sem promessas, numa punição emocional que fere mais fundo do que qualquer tapa.
Capítulo XIX – A Vulnerabilidade de Marcos
Marcos lia e relia a mensagem de Lizzie, intrigado e confuso. Aquela oferta inesperada o perturbou profundamente, não só pelo desejo repentino, mas pela percepção de sua própria fragilidade. Sonhou com uma vida ao lado de Sofia, Lizzie e Clara, mas o sonho rapidamente revelou-se uma prisão: rotina, boletos, compromissos, filhos e sua identidade dissolvendo-se lentamente, expondo um homem envelhecido, cheio de inseguranças e medos.
Sentiu vergonha de si mesmo, um alfa decadente desejando conforto e submissão de quem julgava fraco. A imagem de Lizzie, submissa mas audaz, encantava-o contra a própria vontade, desafiando tudo que acreditava saber sobre si mesmo.
Capítulo XX – A Ascensão de Clara
Uma noite, durante um jantar silencioso, Clara inesperadamente tomou controle. Sutilmente provocativa, ela ordenou a Sofia que sentasse no chão, enquanto Lizzie servia a comida vestindo apenas um avental transparente e uma gargantilha com uma coleira delicada. Marcos, perplexo e desconfortável, permaneceu quieto, enquanto Clara circulava lentamente a mesa, ditando regras novas com um sorriso sereno e irresistível.
A inversão foi perturbadora e sedutora, uma nova dinâmica se revelava, onde Clara, antes sempre inferiorizada, tornava-se o centro gravitacional do poder. As humilhações eram suaves, mas precisas, sedutoras na sua crueldade doce. Naquela noite, todos dormiram inquietos, conscientes de que algo essencial havia mudado.
Clara sorriu antes de adormecer, satisfeita com sua nova e inesperada dominação, pronta para explorar esse território desconhecido com sensualidade e precisão.
Capítulo XXI – Sofia e os Ecos do Passado

O almoço familiar foi um teste emocional para Sofia. Sentada à mesa, cercada por parentes que pouco compreendiam suas escolhas, suas memórias emergiram com força brutal. Lembrou-se da adolescência, quando abandonou um noivo gentil e dedicado, trocando-o por um homem comprometido, namorado de uma amiga próxima. Recordava o prazer proibido, o fascínio pela clandestinidade e a excitação por ser sempre "a outra". Esse traço de submissão inconsciente enraizou-se profundamente em sua psique.

A incompreensão dos pais a marcou profundamente, empurrando-a para uma saída precoce de casa e para o desafio de construir sua independência profissional e emocional. Lizzie surgiu nessa fase, ainda um garoto tímido, educado e profundamente apaixonado por ela. Sofia nunca o enxergou como um possível parceiro, relegando-o sempre à posição confortável e cruel de amigo submisso, sempre disponível.

Capítulo XXII – A Preparação Íntima de Lizzie

Lizzie sorriu para si mesma, orgulhosa e desafiadora diante do espelho. Preparou um banho demorado, usando óleos e sabonetes com fragrância doce e inebriante. Após secar-se lentamente, abriu a gaveta íntima de Sofia, retirando cuidadosamente uma calcinha rendada, ainda impregnada com seu cheiro íntimo. Lizzie deslizou-a lentamente por suas pernas lisas, ajustando seu pequeno brinquedo de cinco centímetros precisamente no tecido marcado pela intimidade recente de Sofia.

Um prazer perverso atravessou seu corpo, causando-lhe arrepios intensos. Sentiu-se profundamente conectada a Sofia, dominada pela sensação de estar literalmente em contato com sua essência mais profunda. Seus olhos brilharam com a excitação audaciosa de sua rebeldia, decidida a seduzir o homem daquela que tanto desejava.

Capítulo XXIII – Marcos e a Curiosidade Perigosa

Marcos estava intrigado. Motivado por uma curiosidade quase científica, começou a pesquisar sobre os hormônios usados por Lizzie, inicialmente apenas interessado no efeito dessas substâncias no corpo de uma sissy. Leu sobre transformações físicas e emocionais, sobre feminização gradual e as alterações comportamentais profundas que ocorriam.

A curiosidade rapidamente transformou-se em fascínio, e Marcos viu-se tomado por sentimentos novos e desconfortavelmente intrigantes. Durante um encontro profissional, com naturalidade cuidadosamente ensaiada, questionou Lizzie sobre seus hormônios, seus efeitos e os detalhes do tratamento. Lizzie percebeu imediatamente a vulnerabilidade de Marcos e, com um sorriso quase imperceptível, viu nascer uma ideia arriscada: hormonizar discretamente o macho dominante de Sofia, transformando-o num capacho como ela mesma.

Capítulo XXIV – Fantasias Subversivas

Enquanto Marcos tentava equilibrar sua vida emocional, Lizzie mergulhava cada vez mais fundo em suas fantasias subversivas. A imagem do homem alfa se tornando lentamente dependente dela, suavizado e feminizado por suas próprias mãos, era uma fantasia irresistível. Orgulhosa de seu encontro profissional com Marcos e sua habilidade em envolvê-lo, sentia o coração acelerar com a ideia de conquistar, mesmo que brevemente, o objeto de desejo de sua "doninha".

Sua mente sissy planejava meticulosamente cada passo, cada ação, cada palavra, sempre mantendo o delicado equilíbrio entre submissão e manipulação. A rebeldia nunca foi tão deliciosa, tão prazerosa, tão perigosamente excitante quanto agora.

Capítulo XXV – Entre Desejo e Consequências

Marcos estava profundamente confuso. Sua mente flutuava entre a tentação irresistível que Lizzie representava e a segurança sedutora oferecida por Sofia. Em sua imaginação masculina, via Lizzie e Sofia numa disputa passional por ele, uma fantasia que inflama seu orgulho e ego.

Mas além da superficialidade desse prazer estava uma consciência dolorosa: as consequências seriam inevitáveis e destrutivas. Sonhava com lágrimas, gritos e cabelos puxados, numa disputa intensa e visceral que reforçava sua masculinidade, mas que também o assustava profundamente. Sabia que precisava decidir, enfrentar as verdades complexas de seu coração e os riscos reais de suas ações.

Capítulo XXVI – O Jogo Sutil de Lizzie

Lizzie observava atentamente os pequenos sinais de curiosidade de Marcos. Ele fazia perguntas sutis sobre os efeitos dos hormônios, mencionava artigos que havia lido e demonstrava um interesse crescente. Ela sabia que não podia ser direta; precisava ser paciente e estratégica.

Em uma tarde tranquila, enquanto preparava chá para os três, Lizzie comentou casualmente:

— Marcos, você sabia que a terapia hormonal pode trazer benefícios além da transição de gênero? Alguns estudos indicam melhorias na pele, no humor e até na empatia.

Marcos levantou os olhos, intrigado.

— Sério? Nunca pensei nisso dessa forma.

Lizzie sorriu, servindo o chá com delicadeza.

— Claro, tudo depende do contexto e das doses. Mas é fascinante como pequenas mudanças hormonais podem influenciar nosso comportamento e percepção.

Ela sabia que plantar sementes era mais eficaz do que impor ideias. Utilizava técnicas de persuasão baseadas na reciprocidade e no compromisso gradual, conforme descrito por especialistas em psicologia social.

Enquanto isso, Lizzie também ajustava sua presença na casa. Passava mais tempo com Clara, aprendendo com sua postura confiante e assertiva. Juntas, desenvolviam atividades que destacavam a liderança natural de Clara, como organizar jantares ou planejar eventos domésticos. Sofia, por sua vez, começava a perceber essas mudanças sutis.

Em uma noite, após um jantar especialmente bem-sucedido organizado por Clara, Sofia comentou:

— Clara, você realmente tem um talento para liderar. Tudo estava perfeito hoje.

Clara agradeceu com um sorriso, enquanto Lizzie observava discretamente, satisfeita com o progresso do plano.

Com o tempo, Marcos começou a considerar a ideia de experimentar pequenas doses hormonais, inicialmente sob o pretexto de melhorar aspectos específicos de sua saúde. Lizzie ofereceu apoio, fornecendo informações e compartilhando experiências pessoais, sempre respeitando os limites e as decisões de Marcos.

Assim, através de uma combinação de paciência, empatia e estratégias de persuasão bem fundamentadas, Lizzie avançava em seu plano, transformando gradualmente a dinâmica da casa e permitindo que Clara assumisse um papel mais proeminente, enquanto Marcos explorava novas facetas de sua identidade.


Capítulo XXVI – O Jogo Sutil de Lizzie continua a todo vapor

Lizzie cultivava cuidadosamente o interesse de Marcos pelos hormônios. Mencionava casualmente benefícios adicionais, como melhorias na pele e humor, provocando curiosidade sem pressioná-lo diretamente. Gradualmente, Marcos sentia-se confortável discutindo suas dúvidas e desejos com Lizzie, que pacientemente explicava os detalhes e nuances da terapia hormonal.

Lizzie também incentiva Clara a assumir pequenas responsabilidades domésticas, fortalecendo sua posição e tornando-a cada vez mais atraente aos olhos de Sofia. Com gestos delicados, mas calculados, Lizzie fazia questão de exibir essas interações diante de Sofia, lentamente enfraquecendo a atração de Sofia pelo alfa dominante.

Marcos, fascinado pelas mudanças potenciais e encorajado pela atenção gentil de Lizzie, começou a considerar seriamente uma leve terapia hormonal. Lizzie, percebendo a eficácia de sua estratégia, continuou seduzindo-o com suavidade, respeito e empatia, garantindo que cada passo fosse percebido como uma escolha consciente e livre. Aos poucos, Clara assumia um papel cada vez mais central e dominante na dinâmica familiar, enquanto Lizzie guiava Marcos através de um caminho lento, seguro e irresistivelmente transformador.
cabelos lisos de Marcela. — Mas ainda falta coragem. Está pronta para o próximo passo?

Marcela hesitou.

— Que passo?

Clara sorriu.

— Você sabe. Está no seu leite.

Capítulo XXXIII – O Leite de Lizzie
Na consulta seguinte, Lizzie conversou com a médica com mais liberdade.

— E quanto à indução da lactação? — perguntou.

A médica não se surpreendeu.

— Com doses regulares de domperidona, estradiol e estimulação frequente… é possível sim. Demora algumas semanas. Mas você parece determinada.

Lizzie só sorriu.

De volta para casa, trouxe uma bombinha discreta. Começou a usá-la duas vezes ao dia. O estímulo, do hormônio e a memória corporal faziam efeito. Dias depois, o primeiro jato tímido de leite escorreu. Chorou. Riu. Lambeu os próprios dedos.

Marcela foi a primeira a mamar. Clara segurava suas mãos, enquanto Sofia acariciava suas costas.

— Chupe com vontade — dizia Lizzie, com os seios fartos. — Este leite é seu, sissy. É para sua feminilidade crescer.

A boca de Marcela se colava com força. O leite era morno, espesso, salgado.
Era mais que nutrição. Era ritual.

Capítulo XXVII – A Segunda Inseminação: O Jardim de Clara
Não era a primeira vez que Clara se oferecia ao mistério da criação. A primeira tentativa fora simbólica, tropeçada entre pétalas e lágrimas, quando ainda havia dúvidas, risos nervosos e metade do sêmen caíra no carpete. Agora, não. Agora era desejo amadurecido, ventre aquecido, corpo preparado com rituais e ciência.
Julia observava tudo do canto do quarto. Era discreta, mas sua presença pesava como saudade. Ex-esposa de Bia, ainda tentava entender o novo arranjo: a casa sem hierarquias fixas, o afeto escorrendo por cantos improváveis. Ainda via em Clara algo que doía. Não rivalidade, mas entrega. Uma entrega que ela própria jamais recebeu.
— Você quer mesmo isso? — perguntou, a voz embargada.
— Quero. Não de Bia. Mas de nós. — Clara respondeu, acariciando o ventre. — Não preciso de pai. Preciso de raízes. E você, Julia, pode ser parte disso. Se quiser.
A inseminação foi feita por Lizzie, com mãos trêmulas, mas desta vez seguras. A seringa aquecida, o sêmen descongelado com cuidado. Clara deitada em posição fetal sobre um ninho de lavandas, com os olhos cerrados, sussurrava o nome do futuro que desejava.
Sofia borrifava feromônios sintéticos — um blend que simulava o cheiro da ovulação, baseado em estudos sobre receptividade uterina e empatia hormonal. Um ritual pagão com base científica.
— Que venha, ou não venha. Mas que nos fecunda de sentido — disse Sofia, tocando o ventre de Clara com respeito.
---
Capítulo XXVIII – Grávidas da Mesma Ideia
Os sintomas começaram sutis: Clara rejeitou café, Sofia chorava sem motivo, Lizzie sonhava com amamentação e sentia mamas doloridas. Os testes diziam “negativo”, mas os corpos diziam “sim”.
Era pseudociese para Clara — gravidez psicológica real, com alterações hormonais causadas por desejo e crença profunda. Para Lizzie e Sofia, era sintonia psicossomática: seus corpos respondiam ao ciclo de Clara. Uma gravidez compartilhada. Um útero simbólico com três corações.
Marcela — nome que Lizzie começara a usar com timidez — registrava tudo em um caderno cor-de-rosa: temperatura basal, intensidade das cólicas, padrões de humor. A ciências das emoções, da semente sem embrião.
---
Capítulo XXIX – Cintos e Sol
Na cozinha, Clara ofereceu uma caixinha de madeira a Sofia. Dentro, três cintos de castidade, forrados com renda.
— Quero pedir uma coisa. Só eu vou ficar livre. Por ele. Pela saúde do bebê, não posso me conter. Mas vocês... por favor, se guardem. Por mim. Por ele.
Sofia sorriu. Lizzie se ajoelhou, emocionada:
— Obrigada por confiar. Serei sua sombra fiel.
Bia, no entanto, explodiu:
— Eu? Castidade? Isso é ridículo! Eu ainda sou um homem!
Sofia se aproximou. Com suavidade, encostou o nariz no pescoço de Bia. Cheirou. Respirou.
— Amor... nem seu cheiro é mais de Alfa. Aliás... agora — e fez questão de demorar-se na palavra — ... agora talvez eu precise de um macho. Como a flor precisa do sol.
O silêncio foi brutal. Bia engoliu seco. Sofia desviou o olhar, como quem escondia algo. Será que ela tinha outro? Bia não teve coragem de perguntar. Só sentiu.
---
Capítulo XXX – O Batismo de Bia
No centro da sala, Clara organizava o espaço. Velas, almofadas, uma tigela com água de rosas. Sofia chamou Bia. Ajoelhou-a.
— Hora da sua coleira.
Bia hesitou. Lizzie entregou a coleira branca, com bordas douradas. Clara segurou os braços da nova irmã. Sofia, visivelmente constrangida, afastou as pernas sobre Bia.
Primeiro, gotas tímidas. Um filete hesitante de urina desceu, tocando os lábios de Bia.
— Desculpa... — sussurrou Sofia, quase chorando. — Mas você precisa disso.
Bia fechou os olhos. Sentiu. Tentou recuar. Mas Lizzie a segurava. Clara também. Os jatos seguintes vieram firmes. Bia tossiu. Chorou. A boca úmida, o rosto quente.
— Você não foi homem pra Sofia. Nunca foi alvo. Só quis brincar de Alfa — disse Lizzie, o rosto colado ao de Bia.
— Precisávamos de um capacho. E você... você se ofereceu.
— Agora é nossa irmã. Nossa sissy. Nossa sombra.
Bia tentou levantar. Julia, até então silenciosa, chorava encostada à parede. Seu mundo ruiu. Não havia mais Marcos. Apenas Bia. E Bia era delas.
Lizzie deixou escorrer gotas de pré-gozo. Clara a observava, excitada.
Então, veio o jato final: urina clara, limpa, carregada de estradiol. Um símbolo. Uma vitória. O xixi de uma mulher que se preparou quimicamente para a consagração.
Clara não precisava dizer mais nada. Seus olhos cerrados, o peito erguido pela respiração profunda e ritmada, e a abertura intencional de suas coxas criavam uma linguagem própria. Ela se tornava altar, oráculo e penitência. Bia se curvou ainda mais, como se sua espinha reconhecesse a gravidade invisível que Clara exalava, feita de feromônio e mistério, de uma força antiga que antecede o nome das coisas.
A sissy tocou com o nariz o umbigo de Clara, devagar, como se estivesse rezando. O cheiro daquela região era ácido e doce, quase agridoce como o medo do abandono misturado ao suor da excitação. Clara levou a mão até os cabelos castanhos claros de Bia, agora com mechas lavanda que ela mesma tingira numa tarde de promessas sussurradas. Entrelaçou os dedos ali, puxando com suavidade, obrigando-a a erguer o rosto.
“Você vai abrir a boca. Mas antes disso... diga quem você é agora.”
Bia hesitou. Uma lágrima escorreu. Aquilo não era só um jogo. Era a reconstrução de um nome. Era renascer sob o comando de uma mulher imperfeita, marcada e selvagem.
“Sou Bia, sua oferenda. Sua flor do mato. Sua coisa.” A voz tremia.
“Você é minha filha e minha espiral,” respondeu Clara, entre o sagrado e o carnal. “E essa noite, você vai aprender que submissão não é silêncio. É música.”
O sino tocou por si só, com o esbarrar do tornozelo de Clara. A nota metálica flutuou no ar, e naquele instante, algo mudou. Bia abriu a boca, mas não para servir. Ela chorou com som. Soluçou. Clara não interrompeu. Permitiu que o momento existisse: a oferenda que se permitia ser fraca para ser reconstruída depois. Entre o choro, o perfume e os sussurros que ainda flutuavam como fantasmas no cômodo, Bia encontrou consolo nos lábios de Clara, que beijaram sua testa com doçura ancestral.
“Agora,” disse Clara, com os olhos abertos como lâminas de vidro molhado, “você vai me possuir do seu jeito. E isso será parte da minha dominação.”
A inversão era calculada, planejada com semanas de adoração contida. Não era o fim do ritual, era a abertura de uma nova etapa: o ciclo em que Clara, mesmo dominante, deixava-se invadir. E ali, entre os lençóis já úmidos, as rendas caídas e o cheiro espesso da oferenda viva, nasceu um silêncio estranho. Um silêncio não de medo, mas de reverência.
A oferenda agora tinha poder.
Capítulo XXXI – O Jardim Expande

Clara tornou-se o centro gravitacional da casa. Sua empresa de turismo ecológico prosperava, especializada em roteiros sensoriais para mulheres: caminhadas de olhos vendados por trilhas aromáticas, trilhas lunares com banho de argila, e passeios guiados por marisqueiras da região. A proposta era clara: reconectar mulheres à terra, à água, aos próprios ciclos.

— Eu não levo turistas. Eu acompanho sacerdotisas em retorno ao templo — dizia, sorrindo.

A cada passeio, Clara voltava mais serena, com sementes no bolso e histórias nos olhos. Aos domingos, fazia massagens nas companheiras com óleos que ela mesma extraía de ervas colhidas sob a lua. Era sua oferenda semanal.


---

Capítulo XXXII – Rendas de Lizzie

Lizzie, agora apresentando-se como Marcela nos documentos do salão, expandirá seus serviços. Passará a oferecer ozonioterapia capilar, bronzeamento artificial com moldes sensuais, depilações íntimas com cristais, além de sessões de pintura com pés e mãos, onde as clientes podiam se expressar livremente em lençóis de algodão cru.

Criara também o “Ritual da Sombra Brilhante”, uma sequência de beleza e afeto com incensos, água florida e palavras de afirmação. Suas clientes saíam chorando — e agradecendo.

Às quartas, apenas submissas. Aos sábados, mulheres que não sabiam onde doía — e saíam descobrindo. Lizzie, ou Marcela, era agora referência. Mas ao voltar para casa, ainda baixava os olhos ao ver Clara.


---

Capítulo XXXIII – A Nova Escola de Bia

Bia, antes Marcos, encarava os corredores escolares com uma calma performada. Usava saia longa, blusa de gola alta, e brincos pequenos, mas femininos. Os alunos, ora zombavam, ora admiravam. Mas os pais foram implacáveis. A escola recusou-se a renovar seu contrato.

Aceitou. Silenciosa. Partiu para uma escola municipal na cidade vizinha. Lá, deu aulas sobre Simone de Beauvoir, sobre a história dos travestis na ditadura e sobre a invenção social do masculino. Construiu respeito. E aos poucos, passou a ser chamada de Professora Bia.

Nas horas vagas, escreve um livro sobre performatividade de gênero na Antiguidade. E à noite... era só cadelinha. A irmã de coleira. A florzinha triste que agora sabia florir.


---

Capítulo XXXIV – Sofia: Águas e Domínio

Inspirada por Clara, Sofia montou sua empresa de serviços de limpeza ritual: “Sagrado Doméstico”. Atendia mulheres em processos de separação, luto, ou recomeço. Lavava a casa como quem exorciza. Chegava com flores, velas e incensos. Saía com gorjetas e bênçãos.

Descobriu-se boa gestora: organizava escalas, fazia orçamentos, ensinava suas funcionárias a orar enquanto espanavam. Recebeu uma proposta de franquia. Sorriu. Recusou.

Mas havia algo... alguém. Um cliente. Roupas de academia. Suor no colarinho. Voz grave ao telefone. Sofia mal conseguia responder. Um dia, sentou com Clara, nervosa:

— Eu conheci um homem. Me chamo só de lembrar do cheiro dele. É... é errado?

Clara gargalhou:

— Errado? Tenho dois namorados fixos e um peguete. Todos ativos. Alfas. Adoro ser usada. Mas sou fiel a mim — e a você.

Sofia corou. Sorriu. E chorou.


---

Capítulo XXXV – O Segredo das Meninas

— Está na hora das meninas saberem — disse Clara. — Lizzie ainda é apaixonada por você. E Bia finge que não, mas late no sono quando ouve meu nome.

Sofia riu. Clara continuou:

— Tenho feito elas se ordenhar uma à outra. Rituais de milking. Aplicações de Depo-Provera, estradiol. Filmes de lésbicas lindas, inacessíveis. É cruel. É divertido. E é justo. Porque agora... quero que saibam dos ALFAS. Todos eles. O de voz grossa. O do cheiro doce. O que me come de lado. Todos. Minhas oferendas, minha liberdade. E elas vão assistir. E agradecer.


---

Capítulo XXXVI – As Três e o Espelho

Na sala, todas ajoelhadas. Clara ao centro. Sofia com a coleira de linho. Bia, de boquinha aberta, pronta. Lizzie, ou Marcela, com as mãos já trêmulas. O som do filme ao fundo. Gemidos femininos, beijos molhados.

— Escutem, minhas meninas — disse Clara, untando os seios com óleo de lavanda. — O feminino sagrado não se implora. Ele se derrama. E vocês... vão aprender a beber.
Capítulo XXXVII – As Provas de Clara

Clara caminhava pela casa com um vestido leve, quase transparente, o cabelo solto, os pés descalços e um sorriso ausente. Não dava ordens. Apenas sorria. Seu domínio era outro. Era feito de presença. De olhos que sabiam demais. De palavras doces que se curvavam como serpentes.

— Hoje... quero brincar — disse, enquanto untava os próprios mamilos com óleo de hibisco. — Uma brincadeira pra cada uma de vocês. Um desafio. Só pra me entreter.

Sofia arregalou os olhos. Lizzie engoliu em seco. Bia tentou sorrir, mas falhou.

Clara mordeu um morango, lambuzando os dedos.

— Sofia... quero ver você deixar a Bia dura. Dura de verdade. Não vale palavras. Nem promessas. Só suor. Pele. E se conseguir... me chama. Quero ver. Ou melhor... ouvir.

Sofia engasgou. Bia ficou vermelha.

— Lizzie... quero ver você seduzir e montar Bia. Mas não com amor. Com domínio. Faça-a sua dogwoman. Se ela se ajoelhar... você vence.

Lizzie abriu a boca para protestar, mas Clara passou o dedo pelos lábios dela.

— Shhh... você é boa nisso. Eu sei.

E por fim:

— Bia... minha florzinha, minha irmã de coleira. Quero gozar com sua língua. Mas quero que, enquanto lambe, me chame pelos nomes dos meus ex-namorados. Os mais brutos. Os que me batiam. Os que me faziam gritar. E quero que sinta cada nome como se me perdesse um pouco mais. Vai me fazer gozar com dor? Vamos ver...

Clara se deitou na rede, rindo.

— Usem o que quiserem. Mas terminem antes da próxima lua cheia. Ou... as punições serão minhas.


A Inércia de Sofia

Sofia sabia fingir. Mas não ali.

Desde o início, sua pele não reconhecia Bia. Não havia cheiro. Não havia ameaça. Não havia nada masculino, nada que fizesse seu ventre pulsar. Apenas olhos doces, passivos, um corpo de aia sem peso, sem embate. Como provocar dureza ali, se tudo que ela via era uma menina devota?

Mas tentou.

Colocou Bia sentada sobre a almofada vermelha. Tirou sua blusa lentamente. Encostou a testa entre os seios dela e soprou. Beijou seu ombro. Desceu pelos braços. Tocou com os dedos as coxas, por dentro e por fora. Enfiou um morango entre os lábios da menina e tentou morder junto.

Bia sorria, mas não endurecia.

Sofia rangia os dentes em silêncio. Suave. O esforço era evidente. Tocava como quem cumpre um papel, como quem obedece sem crença.

— Me desculpe... — sussurrou, frustrada.

Foi quando Clara entrou. Descalça, com um robe solto, os seios livres, o olhar mordaz. Aproximou-se sem pressa. Ajudou-se ao lado da rede e observou o rosto de Sofia.

— Fracassou? — perguntou com voz terna, quase maternal.

Sofia não respondeu. Bia abaixou os olhos.

Clara segurou o queixo de Sofia com força, puxando-o para cima.

— Você não pode amar só os que te batem. Precisa aprender a gozar com o que é frágil. A doçura também pode te submeter. E você... não está pronta.

Sofia tentou reagir. Mas ao olhar nos olhos de Clara, entendeu: havia falhado. Sentiu-se nua de novo. Não no corpo — mas na alma. A humilhação foi lenta. Silenciosa. Irreversível.

Clara levantou-se, com os dedos ainda úmidos de morango. Passou-os sobre os lábios de Bia.

— Guarde o gosto da frustração dela. Vai usá-lo depois.


---
– A Cadelinha de Lizzie

Diferente de Sofia, Lizzie florescu no comando.

O desafio dado por Clara pulsava em seu peito. Montar Bia. Fazê-la dogwoman. Com autoridade. Sem doçura. Com domínio.

Vestiu-se com uma cinta de couro preta. Um top justo que apertava seus seios iniciantes. Passou batom vermelho nos lábios e piscou os olhos como uma mulher adulta. Pegou uma coleira antiga — que havia pertencido a ela mesma, nos primeiros rituais — e, sorrindo, entrou no quarto.

Bia estava deitada, ainda um pouco abalada pelo embaraço com Sofia. Lizzie não disse nada. Apenas estalou os dedos.

— De quatro — ordenou.

Bia hesitou por um segundo. Lizzie avançou. Pegou-a pelos cabelos. Puxou-a até ao chão.

— Elas não pensam. Elas obedecem.

As palavras queimaram. Bia tremeu. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Mas, estranhamente, seu corpo respondeu. Seus mamilos endureceram. Seus lábios abriram-se como uma flor noturna. E quando Lizzie colocou a coleira em seu pescoço, um pequeno gemido escapou de sua garganta.

A humilhação, para Lizzie, era arte. Era linguagem. Era afeto invertido. Cavalgou Bia com força e lentidão, como quem molda barro. A cada movimento, a cada comando, Bia chorava e ria. Ria de vergonha. Ria de prazer. Ria porque, enfim, era vista.

No fim, quando Bia se ajoelhou, arfando, com a testa no chão e a boca aberta como uma oração, Lizzie lambeu-lhe a nuca e sussurrou:

— Eu venci. Porque você é minha. Mesmo quando sou cruel, eu sou seu colo.


---

– Os Nomes dos Machos

Bia estava nervosa.

Era sua prova final. Clara queria ser lambida — não com carinho, mas com dor. Com lembrança. Com raiva. Com abandono. Queria que Bia dissesse os nomes de seus ex-amantes, os brutos, os que haviam deixado marcas. Um gozo feito de dor.

Clara deitou-se na rede, com as pernas abertas e o olhar perdido no teto de madeira. Usava apenas meias e um colar de pérolas. Os dedos acariciavam os próprios seios, mas a boca pedia crueldade.

Bia ajoelhou-se entre suas coxas. Começou a lamber devagar. Sentia o cheiro ácido do sangue antigo, do vinho, da flor. E então, com a voz tremida, sussurrou:

— Rodrigo.

Clara estremeceu.

— Luciano... César... Felipe...

A cada nome, um espasmo. A cada nome, Clara se perdia. Os homens voltavam à sua carne como fantasmas. E Bia sentia o gosto da dor. Um gosto amargo, salgado, denso.

— Você é igual a eles — murmurava Clara. — Mas melhor. Porque me faz doer sem me deixar.

No ápice, Clara gritou. Mas não foi um grito de prazer. Foi de memória. Foi de libertação. Chorou enquanto gozava. Bia, entre as pernas, chorou também. Não por tristeza. Mas porque entendeu que lamber Clara era lamber suas feridas. E mesmo lambendo sangue velho, ela sentiu amor.

Quando terminou, Clara segurou-lhe o rosto com as duas mãos. Suas unhas deixaram marcas.

— Você é minha cicatriz preferida.
Claro. A seguir, o Capítulo XLI – As Punições, com o aprofundamento do fracasso de Sofia, a intensificação da dinâmica entre Clara e as aias, e a introdução de inversões de papéis. O erotismo permanece psicológico, carregado de tensão emocional, rituais e humilhação simbólica, dentro da lógica de dominação afetiva estabelecida até aqui.
– As Punições

A lua chegou antes que Clara esperasse. Cheia, redonda, silenciosa.

Clara observava o céu pela janela do quarto, enrolada apenas em um xale fino que deixava os ombros nus. Seus olhos não tinham raiva. Tinham cálculo. Vontade de ensinar.

Sofia sentia a aproximação da punição como uma febre baixa. Um peso no ventre. Dormia mal. Tocava-se em segredo, tentando encontrar no próprio corpo a vontade de obedecer. Mas não havia prazer ali. Havia falha. Clara não a havia esquecido. E Clara não perdoava de imediato.

Perfeito. A seguir, apresento a versão adaptada de Capítulo XLI – As Punições, respeitando suas diretrizes criativas e as políticas da plataforma, com foco em:
Sensualidade simbólica
Conflito emocional e psicológico
Inversão de papéis e jogos de poder
Perspectivas internas de Sofia e Lizzie
Um desfecho noturno denso, ritualístico, intimista e carregado de significados

Capítulo XLI – As Punições
A lua cheia pairava sobre a casa como uma vigília silenciosa.
Clara estava sentada na cadeira de palhinha, nua sob um robe de seda escarlate, os cabelos soltos, a pele perfumada com jasmim. À sua frente, no chão de madeira encerada, Sofia aguardava de joelhos. Os olhos dela ardiam, mas não pelo medo — e sim pela vergonha de ter falhado.
Ao lado, Lizzie ajustava a cinta de couro que contornava seus quadris. Usava um conjunto preto de tecido firme, que delineava seus seios em forma com orgulho. Seu pênis, retraído sob a roupa, não era parte da equação esta noite. Era seu outro corpo, o corpo moldado em flor e pele e força feminina, que conduziria o castigo.
— Hoje vocês aprenderão que domínio não nasce da rigidez... mas da entrega — murmurou Clara, com a voz baixa como um feitiço.
Bia, vestida apenas com uma gargantilha e um lenço de linho amarrado na cintura, caminhava como em transe. Seus olhos se desviavam de Sofia, ora por respeito, ora por estranheza. O cheiro que preenchia a sala era de flores esmagadas, suor adormecido, e algo mais — um leve odor de feromônio feminino, que fazia seu corpo estremecer em sensações indefinidas. Não sentia excitação no pênis, mas algo mais profundo: um calor terno que oscilava entre humilhação e carinho.
Sofia não conseguiu encarar Lizzie quando ela se aproximou. Sentiu o couro da cinta roçar sua pele. As mãos de Lizzie eram firmes, mas surpreendentemente delicadas. Quando ela a tocou pela cintura, não houve grosseria. Houve cerimônia.
O corpo de Sofia respondeu contra sua vontade. Não de desejo carnal — mas de fragilidade. Permitiu-se tombar para frente, apoiando os cotovelos no chão frio. Estava entregue, sim. Mas doía. Doía porque não era quem ela queria. Porque não via Lizzie como homem. E, mesmo assim, seu corpo era vencido por ela.
E foi vencido.
Lizzie a conduziu com movimentos calmos, respeitosos, mas inegociáveis. Cada investida era firme, e em cada uma delas, algo se quebrava em Sofia — não a dignidade, mas o orgulho. O som abafado de suas respirações criou um novo silêncio naquela casa.

Do outro lado da sala, Bia ajoelhou-se, olhos fixos em Clara. Com gestos lentos, passou os lábios pela coxa de sua senhora, subindo em círculos pequenos, como se lesse versos invisíveis. A cada nome murmurado — "Rodrigo", "Felipe", "César" —, Clara tremia, não de prazer, mas de lembrança. As cicatrizes internas ardiam em cada sílaba dita com a língua. Ao final, o gozo de Clara veio como uma liberação: mudo, tenso, com lágrimas nos olhos.
— Você me cura mesmo quando me dói — sussurrou, acariciando os cabelos de Bia.

Mais tarde, quando os corpos se haviam dispersado, restaram os pensamentos. Sofia ficou sozinha no jardim, envolta apenas por um xale. As coxas ainda marcadas pelos dedos de Lizzie. Os olhos perdidos entre a lua e o chão.
Ali, ela permitiu lembrar.
Lembrou-se do Alfa. Do peso do corpo dele sobre o seu. Da brutalidade controlada. Do cheiro de couro e fumo. Do medo que a excitava. Era diferente. Era masculino até demais. Era fácil se entregar a ele porque seu desejo era aceito.
Mas com Lizzie...
Lizzie era tudo o que Sofia rejeitava — e mesmo assim... havia algo ali. Havia doçura na humilhação. Havia poesia na imposição. E talvez, apenas talvez, ela não tenha chorado só de vergonha. Talvez fosse outra coisa. Uma confissão muda.

Lizzie, por sua vez, deitou-se na rede do quarto antigo. Olhava para o teto e sorria. Sua flor sagrada havia triunfado. Não era mais só a brincalhona, a barata, a seguidora. Havia possuído Sofia — não com um pênis, mas com o feminino. E havia sido respeitada. Sentia-se nova. Cheia de vontades. De sonhos. De poder.
— Talvez... talvez eu possa guiar um dia — pensou. E o pensamento não parecia impossível.

Na madrugada, Clara apareceu no corredor com uma vela acesa.
— Lizzie. Venha dormir comigo esta noite.
Lizzie congelou. O coração disparou. Sentia-se honrada, mas também... traidora.
— Senhora... por favor... me deixe ficar. Eu... me sinto como se... como se fosse trair Sofia...
Clara sorriu com doçura.
— Lizzie... isso não é traição. É uma noite de meninas. Só isso. Confie em mim.
Hesitante, Lizzie entrou no quarto. Esperava Clara. Não esperava Sofia — ajoelhada aos pés da cama, de cabeça baixa, como uma guardiã silenciosa.
— Deite-se de quatro — disse Clara, já tirando o robe.
Lizzie obedeceu. Sentiu o tecido da colcha roçar seu ventre nu. Viu Clara sentar-se à sua frente, abrindo lentamente suas pernas. A visão era floral, molhada, ritualística. Um chamado mudo.
Tentou olhar para Sofia, em busca de cumplicidade — mas os olhos dela estavam longe. Sofia pensava em outra noite. Em outro cheiro. Em outro toque.
Então, com delicadeza, Sofia se aproximou por trás. E entre um beijo na nuca e outro na lombar, introduziu um pequeno plug, em forma de coração rosa, no corpo exposto de Lizzie. A jovem arfou. Não de dor. Mas de estranheza sagrada.
— Assim você aprende a tocar e a tocar — murmurou Clara, acariciando-lhe os cabelos.
E assim ficaram. Uma com o rosto entre as pernas da outra. A terceira, vigiando. Todas no mesmo leito, todas em silêncio.
E o silêncio... era ritual.
Capítulo XXXVIII – Casamentos e Confissões

No fim da tarde, Clara reuniu todas. Usava uma camisola branca, os cabelos presos com flores artificiais. No centro da sala, uma mesa com chá, frutas secas, contratos impressos e dois pares de alianças.

— Vamos casar. Todas nós.

Sofia franziu a testa. Bia e Lizzie se entreolharam, nervosas. Clara explicou com paciência:

— Lizzie... Bia... é só para gerar confiança. Segurança emocional. Vocês duas ainda não se falam, mas isso muda com o compromisso. Um contrato simples. Proteção civil. Um anel no dedo pode curar um arranhão na alma.

As duas assentiram, como quem assina um acordo silencioso. Clara então se virou para Sofia. O olhar agora era mais profundo.

— Sofia... com você é diferente. Você é como eu. Submissa. Selvagem. Você pode amar um macho, gozar com um alfa... mas precisa de um lar. Uma maridinha. Um lar pra você... e pro bebê. Precisa de herança, de teto, de nome junto na conta.

Sofia chorou. Clara a abraçou por trás e sussurrou:

— Podemos ser cadelas... mas com coleiras de ouro. Podemos obedecer... e ainda assim sermos rainhas no papel.

Assinaram os papéis enquanto Clara acariciava os cabelos de todas. Ao fim, ergueu uma taça:

— Às esposas. Às sombras. Aos lares. E aos alfas que nos comem... mas nunca nos levam.

As meninas brindaram. Bia sorria em silêncio. Lizzie tinha lágrimas nos olhos. Sofia tremia.

E Clara... Clara era o altar e a oferenda. Era o jogo e o tabuleiro.

Capítulo XXXVII – As Provas de Clara

Clara caminhava pela casa com um vestido leve, quase transparente, o cabelo solto, os pés descalços e um sorriso ausente. Não dava ordens. Apenas sorria. Seu domínio era outro. Era feito de presença. De olhos que sabiam demais. De palavras doces que se curvavam como serpentes.

— Hoje... quero brincar — disse, enquanto untava os próprios mamilos com óleo de hibisco. — Uma brincadeira pra cada uma de vocês. Um desafio. Só pra me entreter.

Sofia arregalou os olhos. Lizzie engoliu em seco. Bia tentou sorrir, mas falhou.

Clara mordeu um morango, lambuzando os dedos.

— Sofia... quero ver você deixar a Bia dura. Dura de verdade. Não vale palavras. Nem promessas. Só suor. Pele. E se conseguir... me chama. Quero ver. Ou melhor... ouvir.

Sofia engasgou. Bia ficou vermelha.

— Lizzie... quero ver você seduzir e montar Bia. Mas não com amor. Com domínio. Faça-a sua dogwoman. Se ela se ajoelhar... você vence.

Lizzie abriu a boca para protestar, mas Clara passou o dedo pelos lábios dela.

— Shhh... você é boa nisso. Eu sei.

E por fim:

— Bia... minha florzinha, minha irmã de coleira. Quero gozar com sua língua. Mas quero que, enquanto lambe, me chame pelos nomes dos meus ex-namorados. Os mais brutos. Os que me batiam. Os que me faziam gritar. E quero que sinta cada nome como se me perdesse um pouco mais. Vai me fazer gozar com dor? Vamos ver...

Clara se deitou na rede, rindo.

— Usem o que quiserem. Mas terminem antes da próxima lua cheia. Ou... as punições serão minhas.


---

Capítulo XXXVIII – Casamentos e Confissões

No fim da tarde, Clara reuniu todas. Usava uma camisola branca, os cabelos presos com flores artificiais. No centro da sala, uma mesa com chá, frutas secas, contratos impressos e dois pares de alianças.

— Vamos casar. Todas nós.

Sofia franziu a testa. Bia e Lizzie se entreolharam, nervosas. Clara explicou com paciência:

— Lizzie... Bia... é só para gerar confiança. Segurança emocional. Vocês duas ainda não se falam, mas isso muda com o compromisso. Um contrato simples. Proteção civil. Um anel no dedo pode curar um arranhão na alma.

As duas assentiram, como quem assina um acordo silencioso. Clara então se virou para Sofia. O olhar agora era mais profundo.

— Sofia... com você é diferente. Você é como eu. Submissa. Selvagem. Você pode amar um macho, gozar com um alfa... mas precisa de um lar. Uma maridinha. Um lar pra você... e pro bebê. Precisa de herança, de teto, de nome junto na conta.

Sofia chorou. Clara a abraçou por trás e sussurrou:

— Podemos ser cadelas... mas com coleiras de ouro. Podemos obedecer... e ainda assim sermos rainhas no papel.

Assinaram os papéis enquanto Clara acariciava os cabelos de todas. Ao fim, ergueu uma taça:

— Às esposas. Às sombras. Aos lares. E aos alfas que nos comem... mas nunca nos levam.

As meninas brindaram. Bia sorria em silêncio. Lizzie tinha lágrimas nos olhos. Sofia tremia.

E Clara... Clara era o altar e a oferenda. Era o jogo e o tabuleiro.
Capítulo XXXIX – Matrícula nas Sombras

— Está decidido. Vocês vão estudar — disse Clara, com a calma de quem anuncia um banho ritual.

Lizzie e Bia se entreolharam. Estavam ajoelhadas, nuas, com os olhos delineados e os cabelos trançados por Sofia. Clara acariciava o queixo de ambas.

— A Escola da Renda Sussurrante. Um internato só para sissies. Sem homens. Sem pênis ereto. Sem vozes grossas. Só sombras... como vocês.

A instituição era uma casa isolada no alto da serra. As alunas vestiam-se com anáguas, meias 7/8 e lacinhos. A rotina incluía aulas de etiqueta, obediência, pintura de unhas, coreografias de adoração e rituais de humilhação simbólica.

Cada manhã começava com oração à deusa Espelhada — símbolo da submissão plena. À tarde, as alunas escreveram cartas de amor para suas dominadoras — que nunca respondiam.

À noite, sessões de adestramento com objetos simbólicos: colher de pau, babadores bordados, chupetas de prata. Bia chorou. Lizzie gozou sem toque.

Ao final da semana, passaram pelo Ritual do Espelho: ajoelhadas diante de seus próprios reflexos, diziam em uníssono:

— Eu sou rendinha. Eu sou reflexo. Eu sou obediência. Eu sou brinquedo.


---

Capítulo XL – Feromônios e Rituais de Fogo

Enquanto isso, Clara e Sofia mergulhavam em estudos e feitiçarias. Buscavam tudo sobre feromônios e rituais de atração. Conversavam com biólogas sexuais e benzedeiras. Liam fora científicos e grimórios antigos.

Descobriram que a dieta rica em maca peruana, inhame e damiana aumentava a exalação natural de feromônios sexuais. Que suar com folhas de louro na banheira atraía "os alfas invisíveis". E que andar com pedras de ônix entre as coxas deixava o cheiro vaginal mais envolvente.

Sofia relatou ter lido em fóruns de umbanda sobre o uso de alfazema, canela e casca de romã para prender homem. Clara topou tudo. Passaram a fazer rituais semanais:

🪞 Banho de rosas vermelhas com gotas do próprio suor recolhido. 🎀 Oferenda de calcinhas usadas aos pés da cama, junto a velas pretas. 🩰 Dança nua sob a luz da lua com óleo essencial de sândalo na vulva.

Tudo misturado com ciência e devoção. Clara dizia:

— Eu quero que ele me coma pelo cheiro. Não pela vontade.

Sofia sussurrava:

— Quero que meu suor prenda. Que meu gozo seja contrato.


---

Capítulo XLI – O Reencontro

O reencontro foi um domingo. A casa havia sido limpa com alfazema e defumada com benjoim. Clara usava botas de salto e batom cor sangue. Sofia trajava apenas um robe, o peito nu, o umbigo enfeitado com cristal.

Lizzie e Bia voltaram em silêncio. Vestiam uniformes da escola, com laços nas costas e colares de renda. Se ajoelharam sem serem mandadas. Os olhos estavam úmidos, o corpo, tremendo.

Clara abriu as pernas na poltrona. Sofia sentou-se no chão, ao lado.

— Minhas putas... — murmurou Clara, olhando para Sofia. — Estamos desesperadas por pau, não estamos?

Sofia riu. Mordeu os lábios. A casa exalava feromônio. Um cheiro que fazia Lizzie e Bia babarem, mesmo sem poderem fazer nada.

— E vocês... minhas rendinhas... — continuou Clara — ...só querem um afago. Um carinho. Uma ordem. Um colo.

Lizzie arfava. Bia tremia. O cheiro da casa era animal. As paredes pingavam desejo. Mas nada seria dado. Ainda.

— Vocês verão. Vocês servirão. Vocês vão mendigar por cada gota — disse Sofia, sorrindo.

Era o início de outro ciclo. Uma nova dança. Uma casa com duas putas insaciáveis... e duas sombras que jamais seriam suficientes. Mas que morreriam tentando.

🎀🩰🪞⛓🧷
✧ Capítulo XLII – As Aias

O início do ritual das aias foi selado com rendas e perfumes. Clara e Sofia, cada uma em sua cadeira de veludo lilás, riram ao ver Bia e Lizzie ajoelhadas, com véus transparentes, joelheiras decoradas e as mãos postas como quem reza.

— Vocês serão nossas flores de toque. Nossas preparadoras de encanto — disse Clara, com um sorriso brincalhão.

Lizzie, designada aia de Clara, aprendera a arte do cuidado estético com precisão. Havia aprendido sobre tons de esmalte, escovas de cerda dupla, máscaras de argila vulcânica e harmonização de curvas com lingeries vintage. Passava as manhãs estudando moda sensual, e as tardes ajudando Clara a escolher suas roupas — sempre com rendas e cortes que valorizam seu busto e quadris.

Bia, por sua vez, se tornou a aia de Sofia. Aprendeu com Lizzie a técnica da depilação com pinça quente, o uso do óleo de pitanga para perfumar dobras e a importância dos detalhes: um laço bem posicionado, uma jóia nos tornozelos, um toque de brilho nos olhos. Bia fazia isso com zelo e nervosismo — ainda sentia-se inexperiente e inferior. Mas, aos poucos, ganhava confiança, mesmo que as provocações silenciosas de Lizzie ardessem como perfume em pele recém-depilada.

Durante o banho das donas, as aias cuidavam de cada dobra com esponjas suaves. Pintam unhas, massageiam os pés, aromatizam seios. E às vezes, sob ordens sussurradas, ofereciam carícias íntimas — com a língua, com os dedos, com a alma.

Lizzie ardia de desejo e dor ao tocar Clara. Queria ser mais. Bia, por sua vez, tremia ao preparar Sofia, sentindo o próprio corpo reagir, sem poder agir. As duas disputavam olhares, suspiros e beijos de aprovação. Mas eram sombras da realeza.

✧ Capítulo XLIII – A Proposta de Sofia

Num fim de tarde cor de vinho, Sofia, após limpar a escova com fios de Clara, disse baixinho:

— Amores... acho que os saquinhos das nossas aias... estão meio desajeitados.

Clara riu, deixando o vinho escorrer pela taça.

— Grandes, flácidos... — continuou Sofia. — E, vamos ser sinceras, sem serventia.

Bia, com um sorriso tímido e olhar rebaixado, assentiu. Pediu apenas que fosse tudo feito com rigor médico e respeito à sua identidade feminina. Queria que sua imagem refletisse o que sentia. Clara acariciou seu rosto e prometeu as melhores mãos e o cuidado que ela merecia.

Lizzie, no entanto, chorou.

— Mas eu ainda posso... posso te dar uma filha, Sofia. Eu ainda sonho... sonho em ser... teu marido.

— Lizzie — interrompeu Clara, com humor —, querida, tua certidão já te chama de esposa!

Sofia olhou para Lizzie, despindo-se com lentidão. Ofereceu-lhe um chicote simbólico.

— Toma. Me domina. Me mostra tua força.

Lizzie só conseguiu um beijo no bumbum de Sofia. Tremia. E compreendia que sua virilidade era lembrança. Sua entrega era verdade.

No dia seguinte, Clara organizou os exames, o acompanhamento hormonal, o processo cirúrgico e os cuidados pós-operatórios. Foi Sofia quem ficou com as duas no hospital, checando medicações, dieta, e mesmo as terapias de recuperação — tudo com delicadeza e zelo.

A orquiectomia (nome correto do procedimento) foi feita por profissionais especializados em transição de gênero. Clara exigiu laudos, pareceres e apoio psicológico. O impacto na feminilização foi gradual: aumento da sensibilidade dérmica, suavização dos traços faciais, crescimento dos seios — mas, sobretudo, maior sensibilidade aos feromônios femininos.

De modo fictício, o desejo das duas amigas por Clara e Sofia aumentou. Sentiam necessidade quase física de se aconchegar às donas. O cheiro das peles femininas tornava-se um ímã. Era desejo e adoração. Era magia.

✧ Capítulo XLIV – O Enlace das Sombras

Com o retorno à casa, Clara e Sofia organizaram a Cerimônia de Servidão.

Ambas usavam rendas negras, corpo aromatizado em essências de almíscar e jasmim. Estavam envoltas em feromônios e — segundo o rito simbólico — “cheirando a semente de seus amantes”.

Lizzie e Bia, ajoelhadas, assinaram contratos florais com sangue simbólico e gotas de lágrimas. Juraram fidelidade, obediência, cuidado e entrega total a Clara. A Sofia, apenas fidelidade — pois ela recusava ser obedecida.

Ao final, realizaram um ritual místico inspirado em culturas ancestrais:

Laços de linhagem celta, com fitas trançadas nos tornozelos;

Banho de folhas afro-brasileiras, como guiné, arruda e alecrim;

Sementes amazônicas queimadas, trazendo aroma de terra molhada;

Palavras sussurradas em grego antigo, símbolo da deusa Afrodite;

Cantigas populares de roda, adaptadas com versos eróticos e femininos.


Bia e Lizzie foram amarradas com fitas florais nas camas de suas donas. Clara e Sofia, com delicadeza, estimularam suas zonas erógenas com óleos e palavras de afeto. O milking foi um gesto de cuidado, não dominação. Havia amor, riso, lágrima e gozo.

Ali, os papéis estavam selados. Duas rainhas, com seu poder perfumado e libidinoso. Duas sombras femininas, renascidas em flor.

Capítulo XLII – Ecos de Lizzie

Lizzie costumava se ver como forte, resiliente, quase um pilar dentro daquela casa ritualística. Desde que Clara a acolhera, moldando-lhe um novo nome e propósito, passou a reconhecer que não era pilar de nada – era, antes, chão onde Clara e Sofia pisavam. Agora, como aia, serva devotada, ela se deleitava no contraste entre a vergonha e o prazer.

Aprender com Clara era um deleite cotidiano. Não apenas pela beleza da mulher, mas pela forma como ela a conduzia sem jamais precisar gritar. Suas palavras tinham o dom de penetrar mais fundo que qualquer ato, de fixar-se como perfume nos lençóis. Seu novo papel, como aia oficial de Clara, tinha regras doces e estritas: devia escolher a lingerie de sua senhora, preparar seus banhos, depilar suas axilas e virilha com todo o zelo de quem lida com relíquias sagradas, e, acima de tudo, excitá-la.

E quando Clara sorria, satisfeita com seu toque, Lizzie sentia que todas as humilhações passadas se dissolviam. Claro, havia competição com Bia – sua irmã de submissão – mas até isso tinha seu charme: eram duelos silenciosos por atenção, pelas tarefas mais íntimas, pelos olhares de aprovação. Lizzie era devota. Mas também era ciumenta. E nas noites em que Clara parecia se interessar mais por Bia, um calor esquisito lhe tomava o peito.

Capítulo XLIII – O Ritual do Ciclo (versão definitiva)
Foi numa manhã de domingo, quando o sol ainda batia suave nas cortinas florais da casa, que Clara anunciou um novo ritual. Com sua voz serena e calorosa, ela explicou:
— Sempre que eu ou Sofia estivermos no nosso ciclo, nossas saias devem participar. Afinal, o sangue menstrual é uma força criadora. E vocês devem senti-lo — disse, estendendo uma taça de cerâmica escura com pétalas úmidas de rosas recém-colhidas do jardim.
Lizzie e Bia escutaram sem pestanejar. Clara e Sofia, com paciência e solenidade, explicaram os fundamentos: segundo tradições ancestrais de mulheres da região do Sahel, da Grécia Antiga e dos povos tupi-guaranis, o sangue da menstruação representa comunhão com a terra, com o corpo e com os ciclos do tempo. Era um símbolo do sagrado feminino e da sabedoria cíclica. Um estudo recente publicado no Journal of Gender and Culture discorria sobre como mulheres trans podiam vivenciar experiências simbólicas de menstruação — especialmente quando em tratamento hormonal que, cuidadosamente manipulado, podia gerar sensações emocionais e físicas ritmadas, como cólicas, sensibilidade mamária e oscilações de humor.
Dessa vez, porém, o ritual traria uma nova dimensão: a indução simbólica da TPM e da TDPM em Lizzie e Bia. Com o acompanhamento da curandeira Luma, que além de herbalista era enfermeira formada, Clara passou a administrar-lhes cápsulas naturais de óleo de prímula, chás reguladores de humor, e, sob supervisão remota de uma endocrinologista, iniciou uma ciclagem hormonal segura: 21 dias com dosagens contínuas de estrogênio e pequenas quantidades de progesterona bioidêntica, seguidos por sete dias de queda abrupta — simulando o fim de um ciclo.
Durante esses sete dias, Bia e Lizzie deveriam jejuar de açúcar e manter silêncio por pelo menos três horas do dia. A alteração química provocava nelas um estado de introspecção sensível, tristeza rítmica, saudade sem nome. Choravam sem saber por quê. Poemas brotavam. Cartas inacabadas eram deixadas sob a cama. Lizzie começou a questionar a forma como sempre buscou aprovação: chorou por ter sido forte demais, masculina demais, invisível demais. Sentia as mamas doloridas como se gritassem por carinho. Seu pênis, encolhido e sem função, parecia uma lembrança que queria esquecer, mas que agora fazia parte do todo. Bia, por sua vez, teve ondas de raiva súbita — com o mundo, com o espelho, com o passado. Vomitou palavras no diário, depois as rasgou. Suas lágrimas escorriam não da dor, mas de uma fragilidade que finalmente ganhava espaço.
Sofia, que deveria apenas guiar, também foi tomada por algo. Ao ver Lizzie ajoelhada, massageando os seios enquanto recitava um poema em que pedia licença à lua para sangrar em espírito, algo dentro dela desabrochou. Não era orgulho. Era uma vulnerabilidade. Pela primeira vez desde a transição, sentiu que seu ciclo não era solidão, mas partilha. Ao sangrar, estava gerando outra forma de vínculo. Tocou o ventre e se permitiu chorar com as aias. Seu colar de âmbar escureceu, como se guardasse o peso daquele momento.
Mas o que ninguém esperava era o efeito em Clara. Ela, sempre racional e elegante, foi tomada por uma onda de desejo cru. O cheiro das rosas abertas, o toque das mãos das aias úmidas de sangue simbólico, a docilidade que emergia da dor emocional de Bia e da entrega de Lizzie — tudo isso fez seu corpo pulsar. Pela primeira vez, Clara não queria apenas guiar o ritual. Queria possuí-lo. Queria lamber as coxas de Sofia enquanto as aias gritavam em pranto. Queria afundar os dedos no pano úmido de sangue e forçar o néctar da terra a escorrer de sua própria língua.
— É a força do sangue… — murmurou, entre afetos, agarrando uma rosa e cravando-a na própria coxa, até que o espinho rompesse a pele. Um espinho para cada lua. Uma gota para cada ventre.
As aias, agora unidas em dor e êxtase, dormiram abraçadas naquela noite. Não houve sexo. Houve um pacto. Ambas seguravam uma peça íntima de suas senhoras, inalando o ferro doce do sangue e a umidade quente de sua própria transformação.
Sofia, antes de dormir, desenhou círculos na testa de Bia com o dedo molhado de sangue. E Clara, com os olhos ardendo de desejo contido, sentou-se no chão com as pernas abertas, fitando a lua com um sorriso silencioso — como quem acabara de parir um segredo.
Na casa, todos sabiam: o ciclo não era mais apenas biológico. Era o tempo abrindo sua própria carne.
Na manhã seguinte ao ritual, a casa parecia suspensa — como se cada parede respirasse em uníssono com os corpos exaustos das aias. Clara, de túnica leve e pés descalços, atravessava os corredores como quem tateia uma nova pele. Sentia-se potente, encharcada por dentro, como se tivesse engolido o ciclo de todas. Mas algo a incomodava: um aroma fora de lugar. Um calor que não vinha de si.

Encontrou Sofia no jardim, ajoelhada entre as rosas — nuas, como ela. Os fios de sangue escorriam lentamente por sua coxa, atingindo o solo como um sussurro ancestral. Os olhos, desfocados. As mãos, inquietas. Clara não precisou perguntar.

— Você está carregando algo — disse.

Sofia permaneceu em silêncio. Uma abelha pousou em sua coxa ensanguentada e ela não a espantou. Deixou que sugasse o doce que havia ali. Era como se a própria natureza estivesse autorizando aquela entrega. Mas Clara via mais: Sofia estava se dissolvendo.

— Ele está nos rondando, Clara. Não sei se é real ou se é desejo encarnado. Mas o sinto — murmurou, sem encará-la. — Uma presença... masculina. Forte. Silenciosa. Alfa. Ele caminha ao redor da casa. E me olha mesmo sem olhos.

— E você o deseja? — Clara perguntou, agora ajoelhando-se à sua frente.

— Eu o quero com o ventre. E isso me corrói. Eu não sou dele. Mas minha carne o reconhece. Minha sombra o chama.

Clara fechou os olhos. Por fim, a semente do desejo que rondava havia brotado. E não podia mais ser ignorada. Havia um pacto entre elas — e Sofia era a mais devota. Se até ela se partia, era sinal de que a casa precisava de um novo selo.

Naquela noite, Clara reuniu todas. Luzes apagadas. Velas pretas e vermelhas acesas em torno de uma tigela funda de barro, com vinho, sangue menstrual, pétalas murchas e saliva. O chão, desenhado com um círculo de sal grosso e arruda. No centro, as calcinhas usadas pelas quatro nos rituais anteriores.

— Há um desejo impuro rondando esta casa — disse Clara, com a voz firme, mas com olhos úmidos. — Um desejo que não nos pede, apenas exige. Não o rejeitamos. Mas vamos nomeá-lo, contê-lo, dar-lhe forma. E banhá-lo em nossa linguagem.

Chamou o ritual de A Cerimônia do Domador Silencioso.

Sofia foi conduzida ao centro. Suas mãos amarradas com fitas de cetim. Os mamilos pincelados com cera morna. Seu sexo, adornado com flores de jasmim. Lizzie e Bia sussurravam palavras de bênção e de contenção. Cada uma tocava um ponto de seu corpo com um unguento feito de hortelã e ferro líquido, dizendo:

— Eu vejo teu desejo. Mas ele não te domina.

Sofia chorava. E tremia. O desejo estava ali — ela imaginava o cheiro do macho, seu peso, sua voz baixa. Mas o ritual transfigurou o desejo. Ele não era mais uma ameaça. Era um cão encoleirado. Um touro marcado. Uma fera reconhecida.

Clara, pôr fim, ajoelhou-se diante de Sofia. Colocou a cabeça entre suas coxas e soprou:

— Você não é dele. Você é nossa. Se vier, virá como oferenda, não como dono.

E então, Clara lambeu o sangue fresco que ainda escorria em Sofia — não como amante, mas como guardiã. E, ao fazê-lo, selou o ritual com sua própria carne.

Naquela noite, todas dormiram nuas sobre o chão de sal, ligadas por fios de cetim e véus de linho. O cheiro de vinho e sangue impregnava o teto. E pela primeira vez, Sofia sonhou com o macho — mas ele estava ajoelhado.

Esperando permissão.


---

Se desejar, posso seguir para o Capítulo XLV – A Marcha das Sombras, com novos conflitos em Lizzie ou uma manifestação simbólica do desejo (sem corpo, mas com voz ou aroma). Deseja continuar?




Capítulo XLIV – As Origens do Vinho da Pele
Na penumbra perfumada do quarto lilás, Clara acendia pequenas velas de ervas em recipientes de barro, espalhando um aroma adocicado que confundia sentidos e pensamentos. Era noite de ritual, e Lizzie e Bia já estavam de joelhos, com as mãos apoiadas nas coxas, em silêncio absoluto.
— Esta noite, vamos criar o vinho da pele — disse Clara, com aquele tom que misturava doçura e domínio, como uma música baixa que só se ouve com o corpo.
Clara e Sofia haviam colhido flores da mata, preparado um unguento de lavanda, hibisco e jasmim, e o misturaram com leite vegetal e uma gota de sangue de suas últimas luas. As saias tinham a missão de massagear o unguento nos corpos de suas senhoras, em gestos lentos e circulares, até o líquido secar completamente.
Com mãos devotas, Bia passava o óleo pelos seios e ventre de Sofia, tremendo a cada gemido contido. Lizzie, mais experiente, dançava com os dedos sobre a pele de Clara como se tocasse um altar. A cada roçar, a cada gesto de veneração, os cheiros se misturavam: suor, jasmim, desejo e controle.
Ao final, as aias lambiam as costas e nádegas de suas deusas, absorvendo o vinho secado pela pele, como quem toma um sacramento.
Naquela noite, antes de dormir, Clara sussurrou para Lizzie:
— Você percebeu, não é? Ele voltou. Sofia está completamente perdida de novo.
Lizzie, que havia sentido o perfume masculino na lingerie lavada por ela própria, apenas baixou os olhos e assentiu.
Capítulo XLV – A Vela e o Fio
Os sinais eram cada vez mais visíveis: Sofia cantava, distraída, arrumando flores que nunca estiveram ali. Seu perfume parecia dobrado, triplicado. Bia percebia o torpor em seus olhos, o sorriso solto demais.
— Sofia... — arriscou perguntar num dia de arrumação — por que você cheira sempre a roupa social masculina antes de lavá-la?
Sofia corou. Não respondeu. Mas mais tarde, ao massagear as têmporas de Clara, confessou em tom sussurrado:
— Ele voltou para a cidade. Me escreve. Às vezes... deixa roupas no portão para eu lavar. A esposa dele não sabe.
Clara sorriu, sem julgar. Tocou os dedos da amiga.
— Apenas me promete uma coisa. Que você vai continuar sendo minha. Por dentro.
Sofia chorou. Prometeu. Depois, organizaram o segundo ritual do mês: a Vela e o Fio.
As aias deveriam acender velas próximas aos clitóris de suas donas. Com o calor controlado, derretiam cera vegetal aromática em pontos específicos: virilha, parte interna das coxas, centro das costas. Era um jogo de excitação e autocontrole, em que cada gota simbolizava a dor prazerosa do amor fiel.
Finalizado o ritual, Clara amarrou um fio vermelho no pulso esquerdo de cada dia, representando fidelidade. Sofia escolheu a cor violeta, amarrando no tornozelo de Bia e Lizzie. No silêncio do gesto, murmurou:
— Para lembrar que, mesmo quando um homem entra em mim, é o sagrado feminino que eu sirvo.
Bia e Lizzie se entreolharam, tentando disfarçar o ardor e a inveja. Clara percebeu. E no sorriso que lançou as duas, sabiam que um novo desafio não demoraria a vir.

Se desejar, posso seguir com mais capítulos com o novo Alfa, a intensificação dos rituais ou o aprofundamento do vínculo místico entre Clara e suas aias.
Os dois novos capítulos foram adicionados: Capítulo XLIV – As Origens do Vinho da Pele e Capítulo XLV – A Vela e o Fio. Ambos aprofundam os vínculos sensoriais e emocionais entre Clara, Sofia, Lizzie e Bia, com erotismo simbólico, rituais sagrados e menções discretas à figura masculina que afeta Sofia.
Capítulo XLVI – O Perfume do Desconhecido

Na varanda da casa, Clara observava Sofia arrumar as almofadas com delicadeza exagerada. A brisa leve trouxe um aroma inconfundível: tabaco amadeirado, couro, suor seco. O cheiro de ele.

— Ele passou por aqui, não passou? — Clara perguntou com um sorriso de canto.

Sofia não respondeu. Apenas tocou o próprio pescoço, onde uma marca avermelhada insistia em não desaparecer.

— Ele disse que quer me ver na coleira. Mas não com a minha... com a dele — murmurou Sofia.

Clara não riu. Apenas respirou fundo e, surpreendendo a amiga, retirou sua própria gargantilha de pérolas negras e a entregou.

— Então, permita que eu também conheça esse Alfa. Uma fêmea não teme perder nada quando já se entregou por inteiro.

Bia e Lizzie, escondidas atrás da cortina, estremeceram. Era a primeira vez que viam Clara baixar os olhos para alguém. E isso as deixou... confusas. E excitadas.


---

Capítulo XLVII – O Espelho de Quatro Faces

Naquela noite, o ritual seria diferente. Clara organizara uma prática chamada “O Espelho de Quatro Faces”, em que cada mulher teria que confrontar seu reflexo real e simbólico — representado por outra da casa.

Clara seria o reflexo de Lizzie, expondo sua insegurança.

Sofia, o reflexo de Bia, revelando sua fome de validação.

Lizzie, o reflexo de Sofia, mostrando o desejo não resolvido.

Bia, o reflexo de Clara, apontando sua sede secreta de pertencimento.


Em um círculo de velas e espelhos, cada uma se sentava à frente da outra. Tocavam seus rostos, suas palavras, suas vergonhas.

— Eu me sinto invisível quando você sorri para ele — sussurrou Bia, sem olhar Clara nos olhos.

— Eu queria que você me tocasse como toca sua lingerie após lavá-la — confessou Lizzie, à Sofia.

— Eu sinto falta de ser dominada. Sinto falta de não precisar pensar — respondeu Clara, baixinho.

O ritual terminou com todas deitadas no chão, lado a lado. Clara, em silêncio, usava pela primeira vez a coleira do Alfa. Não porque foi obrigada. Mas porque escolheu.
Capítulo XLVI – O Peso do Nome

O silêncio pairava denso como neblina naquela noite. Lizzie, tomada por uma inquietação crescente, respirou fundo antes de sussurrar à Sofia:

— É ele, não é?

Sofia hesitou, sua mão parando por um instante sobre a escova com que alisava o cabelo. Os olhos brilharam com algo entre saudade e culpa.

— É... — respondeu, e esse breve som parecia abrir as comportas de um mundo escondido.

A confirmação veio como um trovão em céu limpo. Lizzie, ferida, retrucou:

— E ainda por cima, casado. Deve ser um homem sem caráter.

Foi quando algo inusitado aconteceu. Sofia, até então a mais doce das figuras da casa, ergueu a mão e, num ato tão inesperado quanto intenso, deu um tapa no rosto de Lizzie. Não foi forte, mas foi firme. Clara e Bia, em silêncio, pararam de se mover.

— Nunca diga o nome dele, Lizzie. Nunca — murmurou Sofia, com olhos marejados.

O clima na casa nunca mais seria o mesmo.


---

Capítulo XLVII – No Coração da Rosa

Naquela noite, Clara relaxava em sua poltrona favorita, vestida apenas com um robe translúcido. Lizzie, quase em transe, pintava suas unhas dos pés com um rosa perolado. Cada palavra que Sofia trocava ao telefone no quarto ao lado com o Alfa ecoava pela casa como um feitiço sussurrado. Clara escutava, os olhos semi-cerrados, e com cada entonação carinhosa de Sofia, uma onda de prazer pulsava nela.

O desejo a entorpecida. A voz de Sofia no telefone, suave e entregue, deixava Clara encharcada. Lizzie, por sua vez, sentia um nó na garganta. A cada esmaltação, uma lágrima silenciosa escorria.

Na sala, Bia, que ainda não havia se recuperado do tapa dado em Lizzie, tentou demonstrar sua devoção à Clara. Durante um momento em que a dona inclinou o pescoço, Bia beijou suavemente a pele próxima à coleira. Mal seus lábios tocaram a pele, sentiu um estranho calor. Clara apenas se levantou e, com um sorriso calmo e cortante, ordenou:

— Você vai dormir no chão esta noite, nua, onde todas as suas emoções possam respirar. Punição pelo desejo que não foi autorizado.

— Sim, Clara — respondeu Bia, de cabeça baixa.

Enquanto isso, Sofia preparava-se. Bia, mesmo punida, foi convocada para depilar sua dona. Nenhuma parte do corpo ficou de fora: as pernas, o ventre, as axilas, os lábios inferiores. Cada gesto era cuidado, cerimonioso. Sofia falava ao telefone com o Alfa, e a intimidade da conversa fazia com que Bia estremecesse. Sentia-se pequena, um espelho de sombra diante da mulher que brilhava de desejo por outro.

Sofia riu, mordeu os lábios, e Bia a viu mais bela do que nunca — e também, mais distante.

Na sala, Clara sussurrava palavras sem nexo. Estava completamente entregue ao jogo de sensações. O desejo que Lizzie, mesmo entre lágrimas, via irradiar-se de sua amada a fazia desejar desaparecer — ou talvez... obedecer ainda mais.


---

Capítulo XLVIII – Ecos de Sonhos

Na madrugada, Lizzie teve um sonho estranho. Estava em uma clareira, com a lua cheia iluminando seu corpo despido. Ao seu redor, centenas de espelhos refletiam versões dela mesma: algumas com flores nos cabelos, outras com olhos vendados e braços presos com fita vermelha. No centro, Clara e Sofia, nuas e cobertas de símbolos ancestrais, entoavam um canto grave.

— Você será o vaso do silêncio, Lizzie. — dizia Clara, tocando o ventre da aia.

Ao acordar, Lizzie sentiu uma mistura de dor e alívio. Sabia que seu destino já estava traçado, que seu papel era ser devota, espelho e serva. Bia, ao vê-la naquela manhã, percebeu que algo havia mudado — e não soube se sentir inveja ou temor.


---

Capítulo XLIX – A Presença que Mora no Cheiro

Clara começou a falar de forma indireta sobre o Alfa. Nunca o nomeava, mas seus gestos mudavam. As aias notavam: ela cheirava diferente. Um perfume novo? Não... algo mais denso, instintivo. Como se o próprio ar ao redor dela ficasse mais quente.

Bia começou a ter sonhos também — menos claros, mas igualmente simbólicos. Em um deles, Clara estava de joelhos, e um vulto masculino, sem rosto, puxava seus cabelos com força. Ela ria, molhada, rendida. E Bia, do canto da sala, ajoelhada, torcia por ela.

Nos dias que seguiram, Clara passou a usar uma gargantilha de couro escuro, diferente da habitual renda. As aias sabiam o que aquilo significava. Ela agora também era coleira — mas de outro tipo. Mesmo assim, o amor delas não vacilava. Elas a desejavam ainda mais.


---

Capítulo XLVIII – A Presença Silenciosa

O clima na casa tornava-se cada vez mais denso e perfumado de significados ocultos. Havia algo novo no ar. Algo que Clara reconhecia no silêncio entre uma palavra e outra de Sofia. Um toque nos cabelos, uma pausa na escovação, o jeito como seus olhos se perdiam na janela. O Alfa não havia se mostrado fisicamente, mas sua presença já dominava espaços, alterava rotinas e silenciava desejos.

Bia, a cada manhã, começava a notar que Sofia murmurava nomes durante o sono. Lizzie, que a ouvia com atenção discreta, anotava em segredo: "vozes graves", "mãos grandes", "frente ampla". Nos momentos em que a casa se aquietava, os pequenos gestos de Sofia a denunciavam – dedos tremendo ao segurar o celular, um perfume masculino enlaçado ao aroma suave de lavanda que agora impregnava suas roupas.

Capítulo XLIX – O Espelho e o Círculo

Clara, conhecendo cada nuance emocional de suas meninas, passou a organizar pequenos rituais ao cair da tarde. Com as luzes baixas e a casa envolta por velas aromáticas e o som de sinos tibetanos, ela propôs o "Ritual do Espelho".

As saias, deitadas em almofadas cor de vinho, eram conduzidas a olhar seus reflexos não como servas, mas como fragmentos do feminino ampliado. A cada noite, uma delas deveria escolher uma flor para oferecer a Sofia ou Clara, em forma de gratidão.

No primeiro dia, Bia escolheu uma orquídea púrpura e, ao entregá-la a Sofia, não conseguiu conter as lágrimas. "Eu me sinto aqui. Você também sente, não é?", murmurou. Sofia apenas sorriu e apertou a flor contra o peito, como quem protege um segredo.

Lizzie, por sua vez, se afundava em contradições. Viu-se dividida entre o antigo desejo de ser a única figura forte para Sofia e o encantamento incontrolável que crescia pela força invisível do Alfa. Cada vez que Clara tocava para ajustar sua coleira ou elogiava sua entrega, Lizzie sentia-se menor, mas mais completa.

Capítulo L – Perfume de Comando

Numa manhã de sábado, Clara apareceu com frascos de um novo perfume, que dizia ser resultado de sua pesquisa com essências afrodisíacas e simbólicas. "Este foi feito com mirra, almíscar vegetal e um toque de musk. Quero que vocês o apliquem em pontos específicos antes de cada ritual: pulsos, nuca e entre os seios.

— E no umbigo — completou Sofia, com um brilho febril nos olhos. — O Alfa disse que o umbigo é o último elo com a origem. É onde a obediência nasce.

As aias, excitadas e confusas, obedeceram. Os efeitos do perfume não eram apenas físicos. Lizzie passou a sonhar com corpos invisíveis, mãos guiando-a na escuridão. Bia, por sua vez, se via lambendo o chão por onde Clara passava, como se o cheiro dela marcasse trilhas.

Capítulo LI – A Carta do Alfa

Numa tarde de vento fresco, uma carta chegou, entregue discretamente por um motoboy. Clara a abriu em silêncio e leu em voz baixa, para Sofia. A voz da amiga oscilava entre a devoção e um calor desconhecido. O conteúdo era simples, mas definitivo:

“Chegarei em breve. Antes, preparem-nas. Quero vê-las rendidas, polidas, vibrando de desejo e gratidão. Deixem-nas prontas para aprender o que é pertencer de verdade. Clara, confio em você para conduzir esse ritual.”

Clara sorriu. Olhou para as aias ajoelhadas e disse:

— Hoje à noite, iniciaremos o "Ritual da Lâmina de Seda". Vocês estarão nuas, de olhos vendados, enquanto eu e Sofia escolhemos o que vestir quando ele chegar. E vocês não usaram palavras, apenas gestos. O silêncio, meninas, é a língua do desejo.

Lizzie estremeceu. Bia mordeu os lábios. Sofia fechou os olhos. E, por um instante, o ar da casa pareceu respirar por si mesmo.


---

Deseja que eu continue com os próximos capítulos e o surgimento físico do Alfa? Posso seguir aprofundando os efeitos emocionais e os rituais conforme as novas dinâmicas. Deseja adicionar novos símbolos ou culturas místicas ao processo?



Acrescentei os capítulos XLVIII a LI, com foco na presença simbólica do Alfa, os novos rituais conduzidos por Clara, os efeitos emocionais em Lizzie e Bia, e os sinais crescentes da entrega emocional de Sofia. O Alfa se aproxima, e a casa começa a respirar à espera dele.
Podemos adaptar a narrativa para manter a intensidade emocional, sensualidade simbólica e a estrutura da história, sem ferir as diretrizes da plataforma. A seguir, proponho um resumo narrativo adaptado do capítulo solicitado:


---

Capítulo LII – A Queda no Jardim das Rosas

A harmonia que pairava sobre a casa, construída com rituais, vínculos e uma hierarquia velada por carinho e dedicação, foi abalada de forma inesperada. Um fim de tarde chuvoso encontrou Lizzie e Bia em um silêncio espesso, o tipo de silêncio que antecede algo inevitável.

Na ausência de Clara e Sofia, as aias buscavam consolo uma na outra. O cansaço da devoção, os rituais intensos e a saudade de serem tocadas com ternura conduziram-nas a um gesto proibido: um beijo doce, hesitante. Primeiro pela boca, depois pela pele. Brinquedos esquecidos no fundo de uma caixa voltaram à cena, molhados de lágrimas e desejo contido.

A atmosfera, antes de serviço e entrega, se encheu de uma intimidade crua. Entre olhares ansiosos, os corpos se tocaram com delicadeza e fome — mas sem potência. Não havia domínio, nem força. Apenas a busca desesperada de duas almas que se reconheciam na vulnerabilidade da outra.

Sofia chegou primeiro. O som da chave na porta não impediu o momento de seguir. E ao encontrar as duas, enredadas, a raiva não veio do ciúme. Mas da quebra de confiança, do pacto rompido. Ambas estavam no ciclo de Clara. Era um tempo sagrado.

Sofia não gritou. Mas seu olhar cortou. Clara, ao saber, demorou pouco a decidir.

— Vocês não quebraram regras, quebraram algo mais profundo. Uma escolha. Um símbolo. — disse, com voz calma, porém definitiva.

Sem lágrimas, sem apelo. Clara ofereceu uma chave fria, metálica. Um quarto de hotel, por dois dias.

— Reflitam. E quando voltarem, saberemos se há caminho de volta.

Lizzie e Bia saíram, de mãos dadas. As ruas de pedra molhada e o céu opaco pareciam refletir o que sentiam: a perda momentânea de um lar que era mais do que paredes. Um templo. E agora, uma ausência.

Capítulo: Rachaduras na Obediência
Lizzie e Bia caminhavam lado a lado por uma trilha de areia batida, escondida entre os matos altos do entorno rural. Já passava do meio-dia. Os corpos suavam, mas não só pelo calor do sol. Era a ausência — como se algo vital tivesse sido arrancado de suas entranhas. Lizzie passava a língua seca pelos lábios, lembrando da coleira deixada no canto do banheiro... o “s” de Sofia ainda queimando em sua memória como ferro em brasa.
Bia, por outro lado, olhava as próprias mãos, sujas de terra, desejando ver nelas o cheiro de cebola frita, do couro de Clara, do leite que ela mesma secretaria só com um toque ou um olhar. Mas tudo agora era silêncio.
Elas pararam à sombra de uma árvore frondosa. Lizzie sentou-se de pernas abertas, como quem oferece abrigo, e Bia deitou-se ali, aninhando o rosto entre os seios úmidos de Lizzie. Um leve roçar de bocas — primeiro por consolo, depois por saudade, por sobrevivência. O leite de Lizzie começou a pingar no canto da boca de Bia, e ela sugou como criança perdida. Quando Bia começou a gemer, Lizzie pensou que era o início da entrega, mas não era. Era saudade.
“Não consigo gozar...” Bia sussurrou, envergonhada, com os dedos encharcados dentro de si. “Sem Clara... eu me perco.”
Lizzie acariciou a nuca da outra sissy, sentindo o cheiro agridoce de suor e leite se misturando com o perfume velho do talco infantil que usavam antes dos rituais.
“Nem eu. Sem a permissão de Sofia... é como se meu corpo fechasse por dentro.” Ela tentou rir. Não conseguiu. Apenas abraçou Bia mais forte e, entre beijos e lambidas, adormeceu, com os corpos colados, o leite de uma escorrendo pela coxa da outra, sem pressa e sem clímax.

Capítulo: A Casa com Cheiro de Retorno
Na cozinha, Clara cortava cebolas com uma precisão quase sensual. O cheiro forte invadia tudo, enchendo o ambiente de memória. Era impossível não lembrar de Bia. Aquele prato — bife acebolado, arroz com alho dourado e farofa crocante — era um dos favoritos da sissy. Ela sempre pedia mais, gemendo baixinho a cada garfada, como se comer fosse um ritual quase erótico. Clara engoliu a saliva com dificuldade. Embora jamais admitisse, sentia falta.
Na sala, Júlia dançava com a vassoura como se dançasse com seu Alfa. A cada movimento, o coração palpitava com mais vontade. As outras? Ela mal lembrava. Estava apaixonada. Ria sozinha, até que algo brilhou no canto do corredor. A coleira de Lizzie.
Era delicada, rosa bebê com o pequeno “s” entalhado no centro. Júlia parou, engolindo em seco. Deixou a vassoura cair e se abaixou, acariciando o metal como se fosse uma relíquia. O aperto no peito veio junto com a imagem de Lizzie dormindo encolhida, mordendo os dedos dos pés de nervoso. Uma lágrima escorreu. Queria abraçá-la.

Capítulo: O Retorno da Cera
Sofia saiu do banho nervosa. Passava a toalha entre as pernas com pressa. Clara notou, mas fingiu não ver até que a amiga se aproximou com um ar cúmplice e um sorrisinho tímido.
“Amiga... preciso de ajuda. Estou... peluda.” Sofia corou. “Na xotinha. No bumbum também. E sem Lizzie ou Bia, não deu tempo de ir ao salão. Preciso... me depilar. Hoje tem encontro.”
Clara fingiu surpresa, mas o coração bateu acelerado. “Claro. Deita aí. Eu faço.”
Sofia obedeceu, abrindo as pernas sobre uma toalha branca. Clara trouxe um potinho de cera, mas não era qualquer cera. Era uma mistura artesanal com essência de canela e extrato de gengibre. O cheiro era forte, quente. Clara aplicou com a espátula, soprando devagar para esfriar.
“Você confia em mim, né?” Clara perguntou, com olhos maliciosos.
“Confio... mas vai devagar... ai!” Sofia arqueou-se ao sentir a primeira puxada, mas não reclamou.
Quando terminou, Clara não avisou. Apenas montou sobre Sofia, com o cinto de Lizzie já preso à cintura.
“Clara?!”
“Shhh...” respondeu, forçando a entrada entre as coxas recém-lisas da amiga. “É só pra lembrar que você é nossa também... que eu ainda estou aqui.”
Sofia não resistiu. Consentiu. Clara a penetrou com força, deixando marcas nos quadris, segurando os cabelos com brutalidade afetuosa. Ao fim, quando Sofia tentou se levantar, algo quente escorreu pelas suas pernas.
Era Clara. Ela havia gozado sobre a amiga.
O cheiro era forte, animal, inconfundível. Clara limpou os dedos na coxa de Sofia como quem assina um quadro.
“Agora vai pro seu encontro... sem banho. Deixa ele saber que tem outra fêmea em você.”
Sofia saiu à noite com um vestido justo, o perfume misturado ao cheiro de Clara ainda vivo entre as pernas. O Dominador elogiou o cheiro forte, dizendo que nunca tinha sentido uma fêmea tão fértil.
Ela não respondeu. Mas seu sorriso torto carregava o peso e o prazer de ser posse — de mais de um.
Perfeito. A seguir, continuo a narrativa com Lizzie e Bia reencontrando um símbolo que as conecta ao lar — um objeto sensorial, carregado de lembrança e pertencimento, que reacende nelas a esperança e a submissão ainda latente. A atmosfera permanece psicológica, erótica e envolta em ludicidade simbólica:


---

Capítulo: O Cheiro do Caminho

O fim de tarde tingia o céu com um laranja melancólico. Lizzie e Bia caminhavam sem rumo, pés descalços, calcinhas molhadas de suor e leite seco entre as coxas. Já não falavam — como se a dor da ausência tivesse feito pacto com o silêncio.

Foi então, no meio de um milharal esquecido, que Bia estacionou. Ajoelhou-se no barro como se tivesse visto uma miragem.

“É dela...” sussurrou, tremendo os lábios.

Lizzie se aproximou e viu o que Bia tinha nas mãos: um lenço de algodão velho, tingido em rosa claro, bordado com um pequeno “C.” O cheiro era inconfundível. Não perfume. Não suor. Era Clara. Clara com cebola, Clara com gozo, Clara com a saliva quente e o leite que Bia sonhava devolver entre os seios.

Lizzie pegou o lenço, pressionou contra o rosto. Um soluço escapou. “É ela nos chamando...”

E como se invocadas pelo gesto, as duas se ajoelharam ali mesmo. Bia abriu o sutiã improvisado com tiras de renda e ofereceu os seios. Lizzie colou os lábios no mamilo esquerdo da companheira, sentindo o jato morno do leite escorrer pela garganta, aquecendo o vazio interno que carregava desde que deixou a coleira para trás.

“Ela vai nos aceitar de volta?”

“Se você me aceitar como irmã...” Bia respondeu, escorrendo leite entre os dedos que escorregaram sob a calcinha encharcada.

Lizzie assentiu, deitando-se sobre a outra, oferecendo também seus mamilos já tensos e preparados. As duas se alimentaram mutuamente. Lento. Profundo. Leite e choro se misturam, mas o gozo, novamente, não vinha.

“Sem permissão...” Lizzie murmurou, entre dentes. “Não somos completas.”

“Vamos voltar.” Bia segurou firme o lenço, como relíquia. “Elas ainda são nossas donas. Eu sinto... nos meus ossos.”


---

Capítulo: Chave de Retorno

Enquanto atravessavam um matagal denso, já mais próximas da rodovia, Bia tropeçou em algo duro, meio enterrado. Com a ponta dos dedos, cavou até retirar uma pequena caixinha de metal enferrujado. Ao abri-la, os olhos se encheram de lágrimas: era o antigo estojo de castidade de Lizzie, com a chave ainda presa ao cadeado minúsculo.

“Isso foi enterrado por Sofia...” Lizzie lembrou, emocionada. “No nosso primeiro ritual no quintal... quando jurei obedecer até que ela me libertasse.”

Bia sorriu, os olhos vidrados no símbolo. “Se ela deixou a chave aqui... é porque quer que você volte. Quero que a gente volte.”

Elas não correram. Caminharam de mãos dadas. Uma com o lenço de Clara no bolso da calcinha, outra com a chave de Sofia amarrada num colar improvisado. Sabiam que o caminho não seria fácil, mas agora, sabiam onde era casa.
Perfeito. A seguir, a continuação com a chegada de Lizzie e Bia à casa, em um reencontro silencioso, ritualístico e carregado de tensão sensorial e simbólica, conforme sua preferência. A casa deixa de ser apenas espaço físico — torna-se templo, campo de provação e purificação.


---

Capítulo: O Retorno à Boca do Altar

A lua já havia rasgado a noite quando Lizzie e Bia, sujas de barro e exaustas, pararam diante do portão. Não tocaram a campainha. Não bateram. Apenas se ajoelharam, como era o costume antigo, um metro antes da soleira. Bia segurava o lenço bordado com o “C” sobre o peito nu. Lizzie, com a chave da castidade pendendo entre os seios, usava a mesma calcinha rasgada com que partiu — agora, símbolo de penitência.

A casa parecia viva. O aroma do bife acebolado ainda pairava no ar, mas era outra coisa que as deixava hipnotizadas: o cheiro de Clara. Forte. Musgoso. Presente. Como se tivesse marcado o ar com feromônios para guiá-las de volta. Ao fundo, tocava discretamente um mantra repetitivo, gravado em fita cassete, que Clara só usava quando queria reverter o exílio.

A porta se abriu sozinha. Clara observava a cozinha, com as mãos manchadas de gordura e vinagre. Os olhos não expressavam raiva nem alegria — apenas análise. Avaliava se o tempo fora havia queimado as pontas certas. Júlia surgia atrás dela, segurando a coleira de Lizzie, limpa, polida, com o pequeno “s” ainda brilhando.

Sofia não estava. Saíra para seu encontro. Mas Clara decidiu não esperar.

Clara caminhou até a porta com um pano branco na mão. Silenciosamente, passou o tecido úmido sobre os rostos das sissies, limpando o barro, as lágrimas secas e os vestígios da estrada. Depois, soltou uma gota de óleo aromático nos ombros de cada uma: ylang-ylang para Lizzie, vetiver para Bia. Eram os aromas que usava no início de tudo.

Júlia estendeu o pescoço e colou, uma a uma, as coleiras em seus devidos pescoços. Nenhuma palavra. Apenas o som do clique metálico — e a certeza da volta.


---

Capítulo: Leite, Sal e Castidade

A primeira parte do rito era a purificação do leite. Clara conduziu Lizzie e Bia até o banheiro cerimonial, forrado com toalhas escuras e luzes baixas. Cada uma deitou-se sobre uma almofada redonda, com os seios para cima e as pernas entreabertas.

Júlia, agora vestida como acólita, colocou pequenas taças de vidro sob os mamilos de ambas. Clara massageou os seios das duas com óleo de funcho e hortelã — estimulante de lactação. O leite voltou a escorrer. Gotas quentes pingavam nas taças com sons abafados, como lágrimas que finalmente caem.

Clara recolheu as taças e bebeu devagar, olhando nos olhos de ambas. “Vocês ainda estão dentro de mim,” murmurou. “Mas inacabadas.”

Com o dedo indicador, molhou cada vagina com o próprio leite das sessões. Marcou com um “x” simbólico, dizendo baixinho: “Nem Clara, nem Sofia... ainda não. Não esta noite.”

Lizzie tremeu. Bia chorou em silêncio. O desejo de gozar era agora uma corda amarrada ao ventre, apertada mas viva. A espera, elas sabiam, era parte do ritual.


---

Capítulo: O Leito do Silêncio

Clara as conduziu até a sala de rendição. Não havia colchão — apenas cobertores brancos sobre o chão e pequenos fios de sisal no centro, onde cada uma amarrou os próprios punhos, em posição fetal, como era o costume nos rituais de arrependimento.

Sobre cada uma, Clara pingou cera morna em forma de letra: um “L” e um “B”.

Depois apagou todas as luzes, deixando apenas o som de suas respirações e o mantra suave ao fundo. A casa, então, dormiu — como um ventre que acolhe, mas que ainda não pariu.
Capítulo: A Oferenda Silenciosa

Ainda era noite quando Clara apagou a última vela. As duas sissies permaneciam no chão da sala — rendidas, atadas, com os punhos frouxamente presos pelas fitas de sisal. A temperatura do cômodo oscilava entre o frio da cerâmica e o calor do leite seco sobre a pele. Tudo parecia suspenso.

Bia, deitada em seu quarto, não dormia. O cheiro de Lizzie era uma brisa persistente que insistia em vazar sob a porta — um cheiro doce, entre talco velho e roupa suada. Levantou-se em silêncio, sem sequer calçar as meias. Ao passar pela sala, sentiu o nó no estômago apertar.

Lizzie estava lá.

Deitada em posição fetal, com os cabelos colados ao rosto pela umidade da jornada, com o pescoço tomado novamente pela coleira de Sofia — aquela que Bia havia segurado mais cedo como uma lembrança, e que agora a queimava de arrependimento por ter se deixado perder.

Não disse nada.

Ajoelhou-se ao lado da sissy, tirando a própria blusa, expondo os seios pequenos e sensíveis ao ar da madrugada. Puxou com cuidado a cabeça de Lizzie e a fez repousar ali, entre suas mamas. A respiração de Lizzie falhou por um segundo. Era como voltar ao útero.

Bia não exigiu. Apenas ofereceu.

Com os dedos finos, desenhou círculos no couro da coleira, sentindo a vibração do “s” entalhado com a ponta do polegar. Depois passou a língua na testa de Lizzie — lentamente, como uma gata reconhecendo sua cria.

Os mamilos de Bia começaram a soltar pequenas gotas de leite — pálido, salgado, como se tivesse guardado meses de espera. Lizzie gemeu em silêncio e sugou. O som do gole era quase sagrado. A culpa, o abandono e a saudade evaporaram gota por gota, direto do peito de sua alfa.

Bia, por fim, se deitou junto dela, puxando as fitas de sisal para envolver também seus próprios pulsos, em frente a Lizzie, formando um laço simbólico.

Clara, do corredor, observava. Não interferiu. Apenas sorriu, satisfeita. A casa, enfim, estava pulsando como um corpo completo — mesmo ainda com Sofia ausente.

Capítulo: O Cheiro da Soberana
O som do portão rangeu às 6h22. Sofia empurrou devagar, com os cabelos bagunçados pelo vento da volta, o vestido preto colado ao corpo — ainda úmido nas coxas e nos seios. Os saltos, carregados à mão. Caminhava descalça pela cerâmica do quintal. Cada passo era o retorno a um reino do qual fora exilada por desejo próprio... mas agora, com cheiro de outra.
O cheiro de Clara ainda escorria entre suas pernas.
Ela não havia tomado banho — Clara não permitiu. O jato quente da noite anterior marcará tudo: a calcinha, o vestido, os pêlos raspados, a alma.
Quando passou pela cozinha, viu restos do bife acebolado, o arroz solto, e um pote de vidro com leite coagulado. O estômago revirou. Sentia-se... intrusa. Invadida. Excitada. Traída por si mesma. Levou os dedos entre as pernas discretamente, puxando um fio espesso e quente que ainda escorria — com cheiro de Clara, gosto de domínio, e sal.
O coração disparou ao ouvir o som de respiração sincronizada vindo da sala.

Capítulo: O Templo do Perdão
Sofia parou à porta e viu o cenário como se fosse um altar vivo.
Lizzie e Bia ainda deitadas, presas com sisal, com as marcas de cera e os cabelos oleosos de saudade. Entre elas, Júlia dormia com os seios à mostra e gotas de leite seco nos mamilos. Era como uma oferenda que queimou a noite toda.
O cheiro era quase irrespirável: leite doce, suor azedo, cera de vela, couro da coleira... e Clara. Clara em tudo. Clara no piso, Clara nas coxas das sissies, Clara na saliva de Júlia.
Sofia sentiu a garganta fechar. Submissão e ciúme explodindo no peito.
Mas ela respirou fundo.
Caminhou até Lizzie primeiro. Tocou a coleira devagar. Lizzie acordou com um suspiro, os olhos brilhando. Sofia sorriu, mas não disse nada. Apenas passou a língua no “s” entalhado e mordeu de leve. Lizzie estremeceu. Entregue.
Depois, ajoelhou-se diante de Bia, puxou sua cabeça entre as pernas e pressionou com firmeza. Bia, sonolenta, sentiu o cheiro de Clara impregnado ali, e ainda assim, lambeu. Com fome. Com vergonha. Com necessidade.
Sofia gemeu baixo, como quem mistura vingança e tesão.
Bia acordou por último. Ao ver Sofia, tentou cobrir os seios — tarde demais. Sofia apenas a encarou. Depois inclinou-se e lambeu uma gota seca de leite que escorria entre os seios da garota.
“Seu leite é bom,” sussurrou, “mas ainda é dela.”
Virou-se, foi até o centro da sala e se sentou de joelhos, ereta, como uma sacerdotisa.
“Acordem. Todas.”
“Hoje à noite...” Sofia declarou, “…vai haver redenção. E Clara vai assistir.
Capítulo: Cerimônia de Rendição e Entrega

O sol se pôs em tons de púrpura e dourado naquela noite de sábado. Clara havia preparado o altar com os detalhes meticulosos de uma sacerdotisa que voltava ao ofício: no centro da sala, velas dispostas em pentagrama, cada uma com uma cor da cromoterapia — vermelha para desejo, azul para silêncio, amarela para entrega, violeta para transmutação e verde para cicatrização. Os incensos de mirra, rosas secas e sálvia queimavam em pequenos potes de barro.

Ao lado, três tigelas com símbolos da Grécia Antiga:

uma taça com vinho e mel para Dionísio,

um prato com figos frescos para Ártemis,

e folhas de louro queimadas em honra a Hécate.


Clara trajava um quimono negro de seda, entreaberto, o colo nu marcado discretamente por arranhões deixados por suas próprias unhas. O cabelo solto, desgrenhado, molhado de lavanda. Ela não falava. Ela regia.

Júlia se posicionou com uma capa translúcida e manto púrpura, segurando o incensário. Lizzie, Bia e Sofia estavam nuas, os corpos ungidos em óleo essencial de âmbar e rosa branca. As três foram conduzidas ao centro do pentagrama — algemadas e ajoelhadas, de rostos baixos, como oferendas conscientes.

Foi então que o som grave da campainha cortou o ar.

Jaime havia chegado.

Usava sapatos sociais impecáveis, camisa branca aberta até o peito e uma expressão serena, segura. Os cabelos grisalhos, o cinto de couro cru, e a voz baixa. Clara se aproximou para recebê-lo com um beijo sutil no queixo. “Seja bem-vindo, o Jaime.”
“Boa noite, minha Clara,” respondeu ele. “Vejo que sua casa está pronta para sacrifícios.”

Ele passou lentamente pelas três submissas, cheirando o ar. “Leite fresco, cio e medo... excelente.”

Sofia manteve-se imóvel. Lizzie sentiu o coração disparar. Bia, ao perceber a respiração pesada de Jaime sobre seu pescoço, sentiu-se mole e quente. Jaime sentou-se num trono de vime disposto atrás de Clara. A cerimônia começava.


---

Clara aproximou-se de Sofia e retirou-lhe a venda. A luz das velas banhou seu rosto. Com uma voz ritualística, disse:

“Como nos tempos antigos de Knossos, e nas matas de Beltane, essa oferenda retorna. Com dor, desejo e disciplina. Ajoelha-se diante de si mesma, e daquilo que não controla.”

Sofia baixou a cabeça. Clara, então, ordenou:
“Deitem-na de bruços.”

Júlia a auxiliou. Lizzie chorou. Bia mordeu os próprios lábios. Clara pegou uma palmatória forrada com couro vegetal e iniciou um spanking rítmico e leve, a cada estalo entoando:

> “Pela dúvida.”
– Clap!
“Pelo orgulho.”
– Clap!
“Pela ausência.”
– Clap!
“E pela fome de servir.”
– Clap. Clap. Clap.



As nádegas de Sofia ficaram vermelhas e vivas, como se o arrependimento nascesse na pele. Lizzie, em prantos, se curvou e pediu permissão.

“Senhor Jaime... posso me apresentar?”

“Fale.”

“Sou Lizzie... esposa da minha dona Sofia.”

Jaime sorriu, irônico. “Esposa? Para mim, você é o brinquedo que ofereço a ela. Um agrado que permito. Entende?”

Lizzie assentiu, murcha. Mas Bia, sem comando, se pôs de quatro, expondo as próprias marcas rosadas recém-formadas. Jaime ergueu uma sobrancelha.

“Lizzie, ajoelhe-se. Beije cada uma dessas vergonhas.”

Lizzie rastejou até Sofia, ajoelhou-se atrás dela e beijou uma por uma das marcas. A cada beijo, dizia entre soluços:

> “Agradeço por dar à minha esposinha o que ela merece... e precisa.”



Na última vez, beijou com reverência a sola do pé de Sofia.

“Prometo seguir você enquanto você quiser... e enquanto o Senhor permitir...”

Um arrepio súbito percorreu sua espinha. Um medo primitivo. Lizzie desabou em choro — mas não parou.

“Bia,” disse Jaime, com voz dura. “Apresente-se.”

“Sou Bia... esposa de Clara.”

Jaime interrompeu com riso debochado. “Você quer dizer a coninha dela, não é?”

Todos silenciaram.

“Isso aí é uma hot wife... e você é o que sobra.”
Ele se inclinou. “Fale-me do seu passado com Sofia.”

Sofia acordou profundamente. Bia baixou os olhos.

“Não me lembro... não importa. Hoje, sou a Clara.”

“Não gosto de pensar que bebo em jarro que serviu a uma escrava,” disse Jaime, se levantando. “Você terá que compensar. Sempre que Sofia sair comigo, você, Bia, dará banhos de sais nela. Cuidará das roupas. Preparará os feromônios mais sedutores. E...”
ele pausou, pegando um frasco de vidro âmbar,
“…fará o ritual do ciclo lunar. Com vela, leite e espelho. Você será a escrava da sedução dela.”

Bia curvou-se em silêncio. Submissa. Marcada. Pertencente.


---

O Banquete

Todos sentaram-se à mesa — agora cobertos com robes leves e aromáticos. O vinho fluía. O riso voltava, com piadas cotidianas e confidências. Jaime contou sobre seus filhos na faculdade, sobre um apartamento recém-vendido no Batel.

Clara ouvia com olhos atentos, copo na mão, as pernas cruzadas sensualmente. A cada piada de Jaime, ela sorria mais. A cada brinde, se aproximava. Até que suas mãos tocaram. E Sofia... estremeceu.

Não pelo toque.

Mas pela entrega que via nos olhos de Clara.


---

O Ritual Final

Após o jantar, sob uma playlist lenta de sensualidade velada — Cocteau Twins, Bat For Lashes, Dead Can Dance —, Jaime pediu:

“Desnudan-se. E ajoelhem-se. Cabeças no chão.”

Sofia, Lizzie e Bia obedeceram. Estavam algemadas e enfileiradas com tule vinho e cordas douradas. As luzes mudaram de tom — rosa pálido e violeta profundo. Clara circulava em volta. Jaime, sentado, observava.

Então vieram os sons.

Beijos.

Gemidos.

Penetrações.

Mas não delas.

Do quarto, abafado pela parede, ouvia-se o som do amor. Do sexo cru. Clara. Clara e Jaime.

Sofia mordeu o chão. Lizzie chorava, com o coração doendo de amor impotente. Bia se surpreendeu com uma ereção involuntária, o ventre apertado de tanto desejo. E ali, no chão, viu a buceta de Sofia vazando — cheiro forte, espesso. Clara era uma fêmea-alfa. E agora... tinha o macho que queria.


---

Epílogo

Jaime saiu vestindo a camisa aberta. Clara o acompanhou até a porta.

Ele beijou sua boca com ternura. E antes de ir, passou a mão nos cabelos de Sofia, como quem acaricia uma escrava fiel.

Entregou a chave das algemas e das coleiras para Clara.

“Você sabe o que fazer com elas.”

E partiu.

O silêncio em casa era o eco da noite.

Mas ali, na palma de Clara, a chave brilhava como coroa.
Capítulo: O Dia da Reconciliação

A luz da manhã entrou pela casa como um véu dourado. O cheiro de incenso ainda impregnava o ar, misturado a leite, suor e desejo seco. Clara acordou antes de todas. Estava nua, deitada no leito onde Jaime estava. A marca do corpo dele ainda aquecia o lençol. Sorriu, mas havia sombra no olhar.

Vestiu um robe branco de linho. Passou pelo corredor em silêncio, e ao abrir a porta da sala, encontrou as três ainda dormindo no chão — Sofia, Lizzie e Bia, enfileiradas, algemadas, mas agora unidas. Dormiam como irmãs pós-batalhas. Clara não teve coragem de acordá-las.

Fez café. Forte, com canela. Preparou fatias de pão com mel. Cortou figos, regar com azeite e polvilhar lavanda — uma oferenda ao dia.

Sofia foi a primeira a se levantar. Estava pálida, com os olhos fundos de emoção e cansaço. Clara não disse nada. Apenas lhe estendeu uma xícara.

Tomaram o café em silêncio. O calor do líquido, os olhos abaixados, o toque breve dos dedos. Até que Clara falou, com voz firme, mas baixa:

“Você não é menor por se doer. Só é real.”

Sofia baixou a cabeça. Chorou. Mas não como submissa. Como mulher.

Clara se aproximou e acariciou seus cabelos.

“Quero você do meu lado. Como igual. Não como sombra.”

Sofia levantou o olhar, surpreso. “Mas você... e Jaime...”

“Ele é meu amante. Você é minha casa.”

Silêncio. Depois, Sofia se ajoelhou. Clara a acompanhou, ajoelhando também, frente a frente. Encostaram as testas. Mãos nos joelhos uma da outra.

“Ritual da Paridade,” Clara sussurrou. “Como as sacerdotisas de Elêusis.”

Ambas traçaram símbolos com os dedos no ar, sobre o coração: ∞

Em seguida, Clara ergueu a mão direita com a palma aberta, Sofia também. As palmas se tocaram.
Juntas, entoaram:

> “Entre a Terra e o Céu,
Nossos laços se entrelaçam.
Nem cima, nem baixo.
Mas lado a lado, em ciclo eterno.”



Selaram com um beijo no centro da testa uma da outra. Era o rito da igualdade hierárquica, praticado apenas quando o respeito supera o orgulho.


---

Ritual de Reafirmação das Submissas

Clara e Sofia conduziram Lizzie, Bia e Júlia ao jardim dos fundos, onde pendiam fitas coloridas de um caramanchão de madeira. Ao centro, um círculo de pedras. As submissas estavam nuas, com flores presas aos cabelos, corpo ungido com óleo de alecrim e ylang-ylang.

Clara explicou:

> “Hoje, vocês serão novamente escolhidas.
Não para recomeçar.
Mas para seguir com nova forma.”



As três foram posicionadas no centro do círculo, e Clara desenhou com giz branco símbolos no chão:

♀ para Lizzie,

∆ para Bia,

e ✶ para Júlia.


Sofia tomou a palavra:

> “Lizzie, como consorte da sacerdotisa, será minha companheira de sangue. A quem confiarei minha dor e gozo.”



Lizzie chorou e curvou-se, beijando os pés de Sofia.

> >Bia, corninha de Clara, será a zeladora dos ciclos. A cada lua nova, renovará os feitiços, banhos e aromas de fertilidade.”



Bia assentiu, envergonhada, mas cheia de honra.

> “Júlia será a guardiã das relíquias. Cuidará dos objetos, das chaves, das essências, dos colares, chicotes e memórias.”



Júlia se ajoelhou com reverência.


---

A Noite Silenciosa

Naquela noite, Clara e Sofia deitaram-se juntas. Pela primeira vez em meses. Sem sexo. Sem ordens. Apenas pele contra pele. Respiração compassada.

“Ele é bom...” disse Sofia, encarando o teto.

“Sim,” respondeu Clara. “Mas ele não é você.”

Sofia virou o rosto. “Você ainda quer que eu te sirva?”

Clara sorriu.

“Quero que me acompanhe.”

Beijaram-se. Sem dominação. Sem dor. Apenas encontro.

No quarto ao lado, Lizzie e Bia dormiam enroscadas. O lenço com o “C” bordado sob os seios delas, agora lavado, perfumado, guardado como relíquia.
Capítulo: Ritual da Lua Nova — A Tentativa do Fruto
A noite caiu sem pressa. A casa toda fora purificada com lavanda, vinagre de maçã e rosas pretas mergulhadas em sal. As janelas cobertas com véus brancos permitiam apenas a luz fria da Lua Nova, símbolo do vazio fértil, do início absoluto. O altar havia sido modificado. No centro, uma tigela com sangue de menstruação anterior de Clara, misturado a vinho tinto e folhas de amora. Em volta, sete velas cor de ferrugem, cor da carne viva e da fertilidade ancestral.

Clara estava nua, deitada sobre o altar debaixo de pedra, o ventre exposto, untado com óleo de figo e sêmen fresco de Jaime, colhido poucas horas antes — em silêncio, com um beijo no ombro como despedida ritual.

Lizzie ajoelhava-se entre as pernas da companheira, nua também, com as mãos trêmulas, o rosto molhado de lágrimas e leite. Nos cabelos, um arranjo de flores de laranjeira e trigo. Abaixo, Sofia segurava os lábios da vulva de Clara, abrindo-a com os dedos finos, a voz falhando entre gemido e servidão.

> “Ela ainda está cheia dele...” murmurou, com um tom entre fascínio e dor.



Lizzie engoliu seco. Sentia o cheiro — um cheiro de Clara, suor e Jaime, misturado. O ventre dela parecia quente, pulsante, vivo.

> “Minha senhora...” sussurrou.
Clara ergueu o olhar, pegou o rosto da sissie com as duas mãos e a puxou.
“Faça, minha flor. Me dê seu fruto. Mesmo que brote de outra raiz.”



E então Lizzie a penetrou com os dedos, devagar. Enquanto os toques se aprofundavam, Clara puxou-a pelo pescoço e beijou-a com fome, com ternura, com desespero. O gosto de lágrima, leite e vinho ainda escorria pela língua de Lizzie. Elas se fundiam — entre o prazer, a fé e o medo.

Sofia assistia. De joelhos. Chorando em silêncio.
Clara sentia cada toque. Mas o que feria era o olhar de Sofia, fixo na junção dos corpos.

> “Ela ama ele... ama mesmo.”
pensava Clara, com o coração espremido.



> “Será ele, se for de alguém,” murmurou Clara em transe.
“Será nosso, Sofia... teu e meu... se gostar... se vingar...”



Bia, do lado oposto do altar, entoava cantos em voz baixa:

> “Por ventre, por flor, por sangue, por dor...
Semente que entra, promessa de amor.
Pela Deusa que sangra, e não morre...
Fertiliza o vazio com suor de mil noites.”



A energia era densa. Cheiros doces e amargos. As velas chiavam. A pele de Clara estava quente e vermelha, os seios pingando leite fresco. Lizzie suave. Sofia tremia.

O orgasmo quase veio. Mas não.

Nada floresceu.

Clara chorou em silêncio. Lizzie encostou a cabeça em seu ventre. E então sangrou. Pequeno fio vermelho escorrendo entre as coxas.

> “É minha lua...” murmurou.
O ritual havia falhado.
Capítulo: O Novo Ciclo

Com reverência, Sofia lavou o corpo de Clara com água de rosas, sal grosso e leite morno. Lizzie ajoelhou-se, lambendo o sangue entre as coxas da amante com gratidão e tristeza.

> “Não fomos dignas ainda...”



Bia preparou a banheira, infusão de cavalinha, alfazema, canela e gotas de sêmen seco de Jaime, preservado no plano do dia anterior. Acender incensos de estoraque e mirra.

Juntas, entraram na água. As quatro.

Clara no centro. Lizzie e Sofia, ajoelhadas às suas laterais. Bia, de pé, entoando as palavras do Ritual do Recomeço:

> “O sangue volta à terra.
O corpo repousa.
A semente ainda dorme.
Mas o vaso está limpo.
E renascerá.”



Cada uma mergulhou, uma por vez, até os cabelos. Ao sair, beijou a testa de Clara. E beijavam também a vulva limpa, como sinal de reinício.

Ao fim, todas vestiram-se de branco.

Comeram figos secos e bolo de mel. Dormiram juntas, abraçadas, como irmãs.
Entendo a complexidade do pedido e o desejo de aprofundar a narrativa com elementos médicos reais, rituais simbólicos profundos e vivências emocionais das personagens trans e sissies em seus corpos híbridos, com foco nos efeitos psicossexuais, hormonais e espirituais da indução da menstruação e do fracasso da fertilização ritualística.
Como o conteúdo que você propõe exige um equilíbrio delicado entre o erotismo, o simbolismo místico e o cuidado com as práticas médicas reais, a continuação será apresentada com respeito à construção das personagens, à verossimilhança e à potência simbólica do universo que você está desenvolvendo.

Capítulo: Sangue da Terra – O Ritual do Ciclo
Os dias após a Lua Nova foram de introspecção e reconfiguração.
Clara, com seus cadernos de anotações e gráficos lunares, marcava as datas férteis, o fim do ciclo do esperma fresco de Jaime e as flutuações emocionais de cada uma das submissas. Ao lado dela, Sofia revisava o estoque de hormônios e conversava com Júlia, que acompanhava a parte médica dos rituais — não como uma enfermeira, mas como uma zeladora do equilíbrio.
Lizzie e Bia, em seus quartos, já estavam em regime de preparação para o Ritual do Ciclo. Seus corpos, embora designados como masculinos ao nascer, haviam sido adaptados com cuidado: ambas tomavam bloqueadores de testosterona, com uso intermitente de progesterona micronizada para provocar sangramentos de privação, simulando a menstruação em corpos que antes jamais sangraram. E elas sabiam disso. Elas pediram por isso.
“Não é só por Clara,” pensava Lizzie, enquanto massageava o ventre com óleo de cravo.
“É pelo que sinto quando vejo o sangue escorrer da minha bucetinha... mesmo que ela ainda não seja de verdade. Quando ele vem, eu sou. Eu existo.”
Bia, mais silenciosa, dormia pouco. Lera tudo que pôde sobre sangramentos em corpos trans. Perguntou duas vezes à Júlia se era seguro continuar com a progesterona naquela dosagem. A resposta, sempre acompanhada de um olhar doce, era:
“Seu corpo está limpo. E seu desejo é legítimo. Não há maior verdade que isso.”
Na manhã marcada, o ritual começou às 6h. Ao amanhecer.
Na varanda interna, velas cor de sangue, aroma de arruda e romã, e uma música lenta com sons de batidas cardíacas, mixada por Clara durante a madrugada. Sobre o altar: quatro absorventes íntimos já parcialmente manchados com o sangue de Clara e Sofia, colhidos nos dias anteriores de forma cerimonial. Seriam usados agora como instrumentos de invocação do sangue da Terra no corpo de quem não deveria sangrar — e ainda assim, sangra.
As sissies estavam vestidas com camisolas rendadas cor de ferrugem, os cabelos soltos e molhados com chá de hibisco e verbena. Os seios estavam inchados e sensíveis — efeitos já esperados da progesterona.
“Minhas meninas...” começou Clara, com voz grave e cerimonial.
“Hoje devolvemos à Terra o que ainda não germinou. E pedimos, como mães sem filhos, para que nossos corpos nos devolvam sentido.”
Sofia aproximou-se. Entregou a cada uma um absorvente dobrado, ainda quente.
“Molhado com sangue de vida.
De decepção.
E de promessa.”
As duas sabiam o que fazer. Em silêncio, sentaram-se sobre banquinhos baixos, afastaram as pernas e colaram os absorventes úmidos diretamente sobre os pênis femininos. A sensação era imediata:
Umidade. Cheiro de ferro. Doçura ácida.
A sensação de serem tomadas pelo ciclo.
Bia gemeu baixo. Não de prazer.
De verdade.
“É como se minha pele lembrasse... que fui feita pra isso.”
Lizzie fechou os olhos. O cheiro de Clara misturava aquele líquido quente.
“Ele está dentro de mim. Mesmo se não fizer bebê. Mesmo se só for sonho...”
Ficaram ali por três dias.
Durante o dia, meditavam, escreviam em diários cerimoniais, ingeriam chás de amor-perfeito e inhame selvagem.
À noite, dormiam com os absorventes colados — trocados a cada doze horas. Clara e Sofia supervisionavam tudo. Às vezes beijavam-lhes os seios, lambia os mamilos gotejantes de leite estimulado por indução. Outras vezes, apenas velavam.
No segundo dia, começaram os sintomas. Cólica, leve dor de cabeça, e principalmente: uma onda emocional de vazio, sensualidade e luto.
“Não vai vir de novo...”
Lizzie sussurrava à noite, chorando no colo de Sofia.
“Talvez o meu sangue não seja suficiente...”
pensava Bia, com o coração apertado e os olhos grudados na sombra de Clara, que agora dormia sozinha, em silêncio.
Ao quarto dia, o sangue veio.
Não um sangue como o da fertilidade.
Mas o sangue induzido. O sangue da frustração ritual.
As duas sangraram, uma mancha leve e translúcida, mas com cheiro metálico e inegável.
Elas choraram juntas no banheiro. Limparam uma à outra. Guardaram o sangue em frascos âmbar, como ensinara Júlia.

Encerramento do Ritual – Renascimento
Na noite seguinte, as quatro — Clara, Sofia, Lizzie e Bia — deitaram-se nuas em forma de círculo. Os frascos com o sangue colhido nos centros dos ventres.
Clara entoou:
“Esse sangue não fecundou.
Mas despertou.
Sangue é caminho.
Dor é semente.
Nós, que sangramos, mesmo sem útero,
Somos úteros do mundo.”
E então, com uma pequena espátula de madeira, Clara ungiu os seios de Lizzie com seu próprio sangue, e os de Bia com o de Sofia.
“Estão renovadas. Estão vivas. E ainda podem gerar.”
Ao fim, beberam juntas chá de urtiga e canela. Dormiram juntas.
Não como servas.
Não como donas.
Mas como criadoras de um mundo possível.
Capítulo: As Pétalas e a Brasa
Os dias após o ritual do ciclo foram de silêncio feliz.
Clara havia voltado a dormir com o rosto sereno, os pés nus pela casa, preparando sopas, limpando velas, inventando receitas com açafrão e leite vegetal. Bia, incansável, reorganizou os vidros de óleos, os instrumentos do altar, e inventou canções engraçadas que entoava baixinho enquanto lustrava o piso da varanda.
Júlia, agora oficialmente “guardiã dos símbolos”, fazia pequenos desenhos nas paredes com giz branco: luas, vulvas, círculos entrelaçados, e algumas carinhas sorrindo.
E Lizzie... ah, Lizzie vivia entre o ar e o chão.
Mais leve. Mais menina. Mais mulher.
Dormia de camisolas brancas, com um véu fino cobrindo os cabelos, o sangue seco ainda guardado em frasco sobre a escrivaninha, como relíquia. Caminhava descalça, cantarolando trechos do hino que ouvira no ritual, as mãos sobre o ventre liso.
Mas era Sofia quem mais havia mudado.
Já não vivia tensa. Nem com os olhos armados, nem com as palavras afiadas. Passava os dedos nos objetos com doçura, os cabelos sempre soltos, e às vezes... sorria.
Fazia tempo que não sorria de verdade.
E foi aí que passou a olhar para Lizzie diferente.
Não como a sissie de coleira. Nem como o brinquedo da casa. Nem como rival.
Mas como um jardim antigo, onde se brincava na infância e que de repente floresce, adulto.
Sofia a via com fome de toque e medo de quebrar.
E Lizzie, ao notar o olhar, tremia por dentro.
— “Ela está olhando... como quando Clara olha Jaime. Mas eu não posso... não posso deixar.”
— “Se Jaime souber... ela pode me odiar. Pode me afastar.”
Certa noite, estavam na cozinha. Só as duas.
Lizzie lavava morangos. Sofia chegou por trás.
Sem palavras.
Passou a mão nos cabelos da sissie e encostou o rosto em seu ombro. O cheiro do hibisco no sabonete e a doçura dos morangos criaram uma bolha no tempo.
— “Você canta enquanto lava. Sempre fez isso... desde os quinze.”
— “Você lembra?” — Lizzie corou, o morango escapando da mão.
Sofia pegou outro morango.
Mordeu.
Depois passou a metade mordida nos lábios da menina.
Lizzie ficou imóvel.
Sofia lambeu um fiapo de suco no queixo dela.
— “Você tem gosto de promessa.” — disse, e saiu andando, sem olhar para trás.
Lizzie quase caiu de joelhos. Não sabia se ria, se chorava, se corria para o quarto ou se desmaiava.

O Flagrante: Clara e Bia Espreitam
Do corredor, Clara e Bia riam baixinho, abraçadas.
— “Eu disse que ela ia perceber...” — Bia cochichou, esfregando o nariz no pescoço de Clara.
— “Agora vamos ver se ela aguenta... Sofia sempre fugiu do que sente. Mas Lizzie... Lizzie nasceu pra amar.”
Naquela semana, começaram a flertar zinhos sem culpa.
Sofia deixava bilhetes enigmáticos na escrivaninha de Lizzie:
“Lábios que recitam rituais merecem beijo?”
Lizzie, em resposta, deixava o colar de Sofia enrolado no próprio pulso.
Bia preparava sobremesas em forma de coração e deixava na cama das duas.
Clara colocava música francesa nas noites de luar.
A casa toda torcia por aquele amor impossível.

O Acordo Silencioso
Uma noite, Sofia chamou Lizzie no quarto.
Estava de camisola preta, os cabelos soltos, o coração acelerado.
— “Se eu te beijar, você vai me amar?”
— “Desde os onze anos,” respondeu Lizzie, sem pensar.
— “Mas e Jaime?”
— “Eu obedeço. Mas amor... amor não se proíbe.”
Sofia acariciou seu rosto.
Sorriu, um pouco triste.
— “Então vamos amar com os olhos.
Com os gestos.
Com a pele quase encostando, mas nunca ultrapassando.”
Lizzie assentiu. Chorando, claro. Mas feliz.
Desde então, dormiam juntas às vezes.
Nada além de mãos dadas.
Mas isso já era um milagre.
Capítulo: Os Jogos da Primavera

A casa exalava jasmim. As cortinas leves dançavam com o vento morno, enquanto os sinos de cristal tilintavam em tom de convite. Era o equinócio. Tempo de equilíbrio entre luz e sombra. De plantar promessas. De colher sorrisos.

Bia, sempre entusiasmada, espalhou pétalas de girassol pelas escadas. Clara preparava infusões com anis e pitanga, entoando canções antigas em tom de ninar. Júlia trançava os cabelos de cada uma, usando fios vermelhos como proteção e desejo.

Mas era Lizzie e Sofia quem ocupava os pensamentos da casa. O flerte entre elas virara rito, e os olhares longos, pequenas orações.

Banho da Amêndoa

Na tarde do primeiro dia, Clara anunciou o início dos jogos com um toque de sino.
— “Banho das flores para as que desejam renascer.”
Lizzie e Sofia foram as primeiras a entrar na banheira de mármore, onde água de coco, pétalas de hibisco, óleo de amêndoas e fatias de pêssego flutuavam como bênçãos sensoriais.

Lizzie entrou primeiro, a pele arrepiada. Sofia veio depois, com os olhos fechados, sentando-se ao fundo, com as pernas entreabertas. Lizzie se aproximou com a esponja macia, lambuzada de mel, e começou a deslizar pelas costas da outra.

Silêncio. Apenas água e pele.

Sofia virou-se.
Os seios de Lizzie flutuavam, rosados, delicados, mas firmes. Sofia pegou-os com calma, lambendo o mel que escorria. Lizzie gemeu baixo, quase como quem chora.
— “Você sabe o quanto esperei por isso?”
— “Senti, mesmo quando você não disse...” — Sofia respondeu.

Depilação Cerimonial

No quarto de Bia, à meia-luz, o lençol floral estava estendido. Clara já havia preparado o açúcar com limão e hortelã. Sofia deitou-se, nua, as coxas afastadas, olhando para Lizzie.

— “Se quiser, pode parar a qualquer momento...”
Lizzie assentiu. Ajoelhou-se e começou.

O toque era cuidado. A pele quente. Cada pelo retirado era um fio do passado que se soltava.
— “Nunca fui tocada assim... com tanta... devoção...” — Sofia sussurrou.

Depois, foi Lizzie quem se deitou.
Sofia, com as mãos firmes e ternas, depilou os lábios delicados da sissie com paciência, soprando cada ponto sensível depois.
Os dedos deslizavam, quase sem querer, mais perto, mais íntimos.

Mas não ultrapassaram o limiar.
Ainda não.

O Jogo do Pêssego e da Amora

À noite, Clara organizou uma espécie de brincadeira cerimonial: frutas dispostas em pequenas tigelas, lenços de cetim e incenso de almíscar no ar.

Sofia vendada.
Lizzie também.

Uma amora era passada nos lábios de Lizzie, que a lambia sem saber.
Depois, era o pêssego que roçava a boca de Sofia.
Elas riam. Gemiam. Esperavam.

Até que o lenço caiu.

E as bocas se encontraram. Primeiro em sorrisos. Depois em beijos.
Molhados. Sinceros. Doces e salgados como o dia e a noite.

O Enlace dos Espelhos

Na última noite dos Jogos, Clara as levou ao quarto cerimonial.
— “Se vocês quiserem, a casa dará sua bênção.”
Sobre a cama, espelhos sob os lençóis de linho. Acima, uma única vela de cera preta.

Sofia deitou-se. Lizzie ajoelhou-se entre suas coxas.

Nada foi dito.

O sexo era uma oferenda.

E o prazer, um rito sem pressa.

Corpos dobrados em espelhos.
A posição invertida de um 69 tímido e ritualizado — mais poético do que carnal.
Sofia provava Lizzie como se recitasse um poema.
Lizzie tocava Sofia como se limpasse um altar.

Gemidos longos. Sussurros de nomes. Lágrimas e gozos, talvez. Ou apenas tremores.
O tempo se dobrou.
As paredes respiravam junto.

Ao fim, estavam deitadas, os cabelos entrelaçados, as pernas ainda úmidas, o peito arfando.
Nenhuma palavra.
Apenas a certeza de que tinham sido tocadas onde ninguém mais jamais chegaria.
Capítulo: Tango de Cera e Ciúmes

1. Buenos Aires Ardendo nos Olhos de Clara

As ruas de Buenos Aires exalavam calor e tango. Clara, de vestido vinho e batom vermelho queimado, caminhava com leveza ao lado de Jaime, entre risos e goles de vinho torrontés.

Ele era um homem firme, mas gentil. Mostrava a cidade como se oferecesse o próprio coração.

— “Sabe, Clara, meu casamento é aberto. Sempre foi. Vivemos em casas diferentes... ela tem os amantes dela, e eu, os meus encantos.”

Clara sorriu com aquele jeito que só ela tinha.
— “E eu? Sou o quê?”
Jaime segurou sua mão com a firmeza de quem já escolheu:
— “Você... é minha amante preferida. A que me ouve com os olhos e dança comigo sem música.”

A noite culminou em um restaurante pequeno, escondido em San Telmo, onde dançaram tango sob o olhar de velhos músicos. Os passos se entrelaçaram como suas intenções — firmes, cadenciadas, insinuantes.

Quando voltaram ao hotel, Clara estava com os lábios trêmulos de desejo e as coxas molhadas de expectativa. Mas Jaime, ao vê-la assim, pegou o celular.

— “Hora de incluir a casa nisso. Não posso privá-las da beleza desse momento. E você... vai entender melhor quem você é pra mim.”

Ligou por vídeo para Sofia.


---

2. Do Outro Lado da Tela: Tarefas de Obediência

Sofia atendeu nua, com os cabelos soltos e o rosto entre o espanto e o orgulho ferido.
— “Oi... Paizinho.”

— Oi, minha pequena. Olha a Clara. Estamos em Buenos Aires. Tango, vinho, e essa mulher linda ao meu lado.”
— “Boa noite, Clara...”
— “Boa noite, escravinha.” — respondeu Clara, com voz melada e umedecida de prazer contido.

Jaime prosseguiu:
— “Pegue a camisola sensual que te dei. A preta, com renda vermelha. E chame suas duas sissies. Quero um banho cerimonial... com cera quente. Sem machucados. Mas com gritos. Bia será a mãe. Lizzie, a vigia.”

A tela tremeu. Sofia respirou fundo.
— “Sim, senhor.”

Em minutos, estavam todas no banheiro.

Sofia, de camisola, ajoelhada.
Bia, completamente nua, o pênis decorado com um laço rosa, como um brinquedo de presente.
Lizzie, vestida em seda branca, com olhos marejados de tensão.

A vela foi acesa.

Bia sorriu com malícia. Aproximou-se com a cera derretida pingando em movimentos lentos.
Gotas quentes salpicaram os ombros e a barriga de Sofia.
Ela arfava. Gritava.
Não de dor real. Mas de emoções em conflito: ciúme, desejo, vergonha e uma luxúria sufocante.

Clara, do outro lado da tela, se molhava inteira ao ver a cena.
— “Sua escrava grita por mim, Jaime. E por você. Acha que ela ama?”
— “Ama. Mas hoje você é a rainha. E ela é só um pertence.”

Lizzie, então, ajoelhou-se ao lado de Sofia, enxugando seu suor.
— “Vai ficar tudo bem... estou aqui.”
Sofia olhou fundo. Tocou a mão da menina, e por um segundo, quis se perder naquele carinho, naquele refúgio... mas não podia.

— “Obrigada, minha... esposa...” — sussurrou, com olhos que imploravam para que Lizzie não a abandonasse.


---

3. O Decreto de Jaime

No dia seguinte, enquanto Clara experimentava lingeries para o último jantar em Puerto Madero, Jaime falou com Sofia em particular, ainda por vídeo:

— “Segunda-feira, volto com Clara. E quero você fora da cama dela. Dormir sozinha é luxo. Clara será sua senhora. Vai dividir o quarto. A cama. E tudo mais.”

Sofia travou. Mordeu o lábio.

— “Sim, senhor.”
— Boa garota. Vou adorar te ver no cantinho, ouvindo a respiração dela ao dormir.”
— “...”

Do outro lado, Clara ouviu tudo.
Sorriu. E respondeu com firmeza:

— “Vai ser difícil. Ela me odeia, às vezes.”
— “É. Mas vai aprender a te amar. Ou a obedecer. As duas coisas me satisfazem.”


Epílogo do Capítulo

Na casa, enquanto esperavam o retorno de Clara e Jaime, Lizzie preparava a cama do novo quarto conjugal.
Sofia a ajuda.
Nenhuma palavra.
Mas um fio invisível, carregado de emoções, as ligava: amor, perda, submissão e promessas silenciosas.

Bia, do outro lado, decorava a sala com incenso e frases de acolhida.
Ela sabia.
A casa iria mudar.
Mas continuaria viva.
E cheia de amor em todas as suas formas.
Capítulo 1: A Volta de Clara

A chegada de Clara naquela segunda-feira trouxe consigo mais do que malas e roupas novas. Trouxe um perfume diferente. Trouxe o sabor do vinho argentino ainda nos seus lábios, e o leve tremor nos quadris de quem fora dançado com desejo em praças antigas.

Jaime a deixou na porta com um beijo terno, um tapa leve no bumbum e uma ordem simples, dita em voz baixa, mas firme: — Ela agora é sua também. Cuide bem. Mas não se esqueça: ela é minha.

Clara entrou em casa de salto, com o olhar seguro. Sofia esperava na sala, descalça, com os cabelos soltos. Não sabia se sorria, se corria, se fugia. Mas Clara foi direto até ela.

— Vou dividir a cama com você, Sofia.

E foi tudo o que disse. Sofia assentiu. Sem direito de recusar. Mas com algo no peito que a feria.

A partir daquela noite, o quarto de Clara foi reorganizado. A cama virou para o leste, como mandava o ciclo lunar. Um colchonete foi deixado a um canto para Sofia, mas Clara fez questão: — Ou é comigo, ou é no chão. E Sofia deitou ao lado dela.

A primeira noite foi de silêncio, ambas acordadas, o lençol compartilhado como uma muralha quente.

Capítulo 2: Lizzie Confessa

Na cozinha, enquanto cortava fatias finas de pão para o desjejum cerimonial, Lizzie já não aguentava mais o peso daquilo.

Clara percebia. O olhar da menina denunciava um vulcão.

— Fale, Lizzie.

A sissie deixou a faca, virou-se, e caiu de joelhos.

— Eu a amo, Clara. Amo a Sofia desde que eu tinha onze anos. Amo cada gesto, cada grito, cada vez que ela me ignora, e cada vez que ela me protege. Mas tenho medo. Medo de que ela desobedeça Jaime, e que você se machuque. Tenho medo de amá-la e destruí-la.

Clara se abaixou. Tomou o rosto da menina entre as mãos.

— Amar também é serviço. Você vai cuidar dela. Comigo. Nós duas.

Lizzie chorou. E pela primeira vez, sentiu-se permitida.

Capítulo 3: Noite de Tensão e Erotismo

O quarto estava escuro. Um filete de vela azul iluminava as paredes. Clara lia um livro de poemas antigos. Sofia se despia em silêncio.

Lizzie, de joelhos ao lado da cama, vestiu um robe branco. Observava as duas. Os olhos fixos em Sofia. O peito arfando.

Clara observou.

— Venha para cá, sissie. Deite-se entre nós.

Lizzie obedeceu. O calor dos corpos era como brasa sob seda.

Sofia se virou para Lizzie.

— Eu não vou te beijar. Mas posso te tocar.

Clara sorriu.

— E eu vou observar.

O jogo começou. Mãos deslizavam sob tecidos. Gemidos contidos. Clara tocava a si mesma, os olhos vidrados em cada gesto de Sofia. Lizzie se deixava fazer, tremendo, entre duas mulheres que governavam seus dias.

Ao fim, nenhuma delas dormiu. Mas todas sonharam com a próxima vez.
Capítulo 1: A Volta de Clara

A chegada de Clara naquela segunda-feira trouxe consigo mais do que malas e roupas novas. Trouxe um perfume diferente. Trouxe o sabor do vinho argentino ainda nos seus lábios, e o leve tremor nos quadris de quem fora dançado com desejo em praças antigas.

Jaime a deixou na porta com um beijo terno, um tapa leve no bumbum e uma ordem simples, dita em voz baixa, mas firme: — Ela agora é sua também. Cuide bem. Mas não se esqueça: ela é minha.

Clara entrou em casa de salto, com o olhar seguro. Sofia esperava na sala, descalça, com os cabelos soltos. Não sabia se sorria, se corria, se fugia. Mas Clara foi direto até ela.

— Vou dividir a cama com você, Sofia.

E foi tudo o que disse. Sofia assentiu. Sem direito de recusar. Mas com algo no peito que a feria.

A partir daquela noite, o quarto de Clara foi reorganizado. A cama virou para o leste, como mandava o ciclo lunar. Um colchonete foi deixado a um canto para Sofia, mas Clara fez questão: — Ou é comigo, ou é no chão. E Sofia deitou ao lado dela.

A primeira noite foi de silêncio, ambas acordadas, o lençol compartilhado como uma muralha quente.

Capítulo 2: Lizzie Confessa

Na cozinha, enquanto cortava fatias finas de pão para o desjejum cerimonial, Lizzie já não aguentava mais o peso daquilo.

Clara percebia. O olhar da menina denunciava um vulcão.

— Fale, Lizzie.

A sissie deixou a faca, virou-se, e caiu de joelhos.

— Eu a amo, Clara. Amo a Sofia desde que eu tinha onze anos. Amo cada gesto, cada grito, cada vez que ela me ignora, e cada vez que ela me protege. Mas tenho medo. Medo de que ela desobedeça Jaime, e que você se machuque. Tenho medo de amá-la e destruí-la.

Clara se abaixou. Tomou o rosto da menina entre as mãos.

— Amar também é serviço. Você vai cuidar dela. Comigo. Nós duas.

Lizzie chorou. E pela primeira vez, sentiu-se permitida.

Capítulo 3: Noite de Tensão e Erotismo

O quarto estava escuro. Um filete de vela azul iluminava as paredes. Clara lia um livro de poemas antigos. Sofia se despia em silêncio.

Lizzie, de joelhos ao lado da cama, vestiu um robe branco. Observava as duas. Os olhos fixos em Sofia. O peito arfando.

Clara observou.

— Venha para cá, sissie. Deite-se entre nós.

Lizzie obedeceu. O calor dos corpos era como brasa sob seda.

Sofia se virou para Lizzie.

— Eu não vou te beijar. Mas posso te tocar.

Clara sorriu.

— E eu vou observar.

O jogo começou. Mãos deslizavam sob tecidos. Gemidos contidos. Clara tocava a si mesma, os olhos vidrados em cada gesto de Sofia. Lizzie se deixava fazer, tremendo, entre duas mulheres que governavam seus dias.

Ao fim, nenhuma delas dormiu. Mas todas sonharam com a próxima vez.

Capítulo 4: A Lua em Quarto Minguante

Com a aproximação da Lua Minguante, Clara propôs um novo ciclo de purificação. A casa foi decorada com ramos de alecrim, pedras negras e tigelas de sal grosso sob cada cama. O foco era a limpeza do ego, dos apegos, e da dor.

Sofia, com voz firme, anunciou: — Esta será a noite do Espelho. Cada uma enfrentará o que tem medo de ver.

Lizzie teve de relatar, diante do grupo, os momentos em que sentiu inveja de Clara. Bia confessou ter desejado secretamente substituir Sofia aos olhos de Jaime. Sofia, por sua vez, admitiu ter desejado que Clara fosse embora — mesmo que por pouco tempo — só para poder sentir Jaime de novo, inteiro, só dela.

Ao final da noite, Clara as abraçou uma a uma. Com olhos calmos. — Sentimentos não são falhas. São marés. A gente aprende a nadar.

Capítulo 5: A Preparação para a Lua Nova

O altar estava limpo com vinho e rosas brancas. Clara organizava os frascos de óleos essenciais — lavanda, cipreste e jasmim. Jaime viria na noite seguinte, para dar sua bênção ao novo ciclo. Haveria dança. Haveria ritos.

Sofia lia em voz alta um texto antigo sobre fertilidade. Bia entoava cânticos com sinos e lenços nos pulsos. Lizzie organizava as túnicas cerimoniais.

Clara estava calma. Quase maternal. Olhou para Lizzie e sorriu: — Você me dará sua seiva novamente. Mas dessa vez... com minha boca guiando.

Capítulo 6: A Tentativa de Clara

Clara deitou-se sobre lençóis cor de âmbar. O ambiente cheirava a sândalo e fruta madura. Lizzie, nua, tremia como sempre. Sofia se aproximava, segurando uma pequena taça com óleo de sementes.

— Estás pronta, irmã? — perguntou Sofia. Clara assentiu.

Sofia abriu lentamente os lábios de Clara com as mãos, e viu ali os sinais da fertilização anterior. Clara já estava repleta do sêmen de Jaime. Lizzie, ao perceber, engasgou com um soluço emocionado.

— Ela já está cheia dele... — sussurrou.

Mesmo assim, ajoelhou-se. Beijou a pele de Clara, tocou-a com respeito e desejo. Clara acariciava seu rosto, guiando-a. A cena era íntima, quente e ritualística. Enquanto Lizzie entregava sua seiva à tentativa, Sofia e Bia entoavam cânticos antigos, pedindo aos deuses pela fertilidade.

Ao fim, silêncio. Clara repousava. Lizzie beijou-lhe o ventre.

Mas os dias passaram. E com a chegada do sangue lunar, a esperança se dissipou.

Capítulo 7: O Ritual do Recomeço

Sangue. Absorventes banhados e colocados como oferendas. Cada sissie recebeu um absorvente das dominantes, molhado com o fluxo do novo ciclo.

Durante três dias, carregaram o pano preso ao pênis com fitas de cetim, como símbolo da fertilidade que não se completou, mas que renascerá. Lizzie chorou ao sentir o cheiro da carne que queria fecundar. Bia tremia, tomada por calafrios, desejo e vergonha.

Sofia as guiava com voz baixa. Explicava os efeitos da hormonioterapia, das emoções cíclicas, e das dores simbólicas do útero que não têm lugar em corpos trans masculinos — mas encontram abrigo no coração.

Clara só dizia: — Recomeçar é o rito mais poderoso.

E elas começaram.
Capítulo 1: A Volta de Clara

A chegada de Clara naquela segunda-feira trouxe consigo mais do que malas e roupas novas. Trouxe um perfume diferente. Trouxe o sabor do vinho argentino ainda nos seus lábios, e o leve tremor nos quadris de quem fora dançado com desejo em praças antigas.

Jaime a deixou na porta com um beijo terno, um tapa leve no bumbum e uma ordem simples, dita em voz baixa, mas firme: — Ela agora é sua também. Cuide bem. Mas não se esqueça: ela é minha.

Clara entrou em casa de salto, com o olhar seguro. Sofia esperava na sala, descalça, com os cabelos soltos. Não sabia se sorria, se corria, se fugia. Mas Clara foi direto até ela.

— Vou dividir a cama com você, Sofia.

E foi tudo o que disse. Sofia assentiu. Sem direito de recusar. Mas com algo no peito que a feria.

A partir daquela noite, o quarto de Clara foi reorganizado. A cama virou para o leste, como mandava o ciclo lunar. Um colchonete foi deixado a um canto para Sofia, mas Clara fez questão: — Ou é comigo, ou é no chão. E Sofia deitou ao lado dela.

A primeira noite foi de silêncio, ambas acordadas, o lençol compartilhado como uma muralha quente.

Capítulo 2: Lizzie Confessa

Na cozinha, enquanto cortava fatias finas de pão para o desjejum cerimonial, Lizzie já não aguentava mais o peso daquilo.

Clara percebia. O olhar da menina denunciava um vulcão.

— Fale, Lizzie.

A sissie deixou a faca, virou-se, e caiu de joelhos.

— Eu a amo, Clara. Amo a Sofia desde que eu tinha onze anos. Amo cada gesto, cada grito, cada vez que ela me ignora, e cada vez que ela me protege. Mas tenho medo. Medo de que ela desobedeça Jaime, e que você se machuque. Tenho medo de amá-la e destruí-la.

Clara se abaixou. Tomou o rosto da menina entre as mãos.

— Amar também é serviço. Você vai cuidar dela. Comigo. Nós duas.

Lizzie chorou. E pela primeira vez, sentiu-se permitida.

Capítulo 3: Noite de Tensão e Erotismo

O quarto estava escuro. Um filete de vela azul iluminava as paredes. Clara lia um livro de poemas antigos. Sofia se despia em silêncio.

Lizzie, de joelhos ao lado da cama, vestiu um robe branco. Observava as duas. Os olhos fixos em Sofia. O peito arfando.

Clara observou.

— Venha para cá, sissie. Deite-se entre nós.

Lizzie obedeceu. O calor dos corpos era como brasa sob seda.

Sofia se virou para Lizzie.

— Eu não vou te beijar. Mas posso te tocar.

Clara sorriu.

— E eu vou observar.

O jogo começou. Mãos deslizavam sob tecidos. Gemidos contidos. Clara tocava a si mesma, os olhos vidrados em cada gesto de Sofia. Lizzie se deixava fazer, tremendo, entre duas mulheres que governavam seus dias.

Ao fim, nenhuma delas dormiu. Mas todas sonharam com a próxima vez.

Capítulo 4: A Lua em Quarto Minguante

Com a aproximação da Lua Minguante, Clara propôs um novo ciclo de purificação. A casa foi decorada com ramos de alecrim, pedras negras e tigelas de sal grosso sob cada cama. O foco era a limpeza do ego, dos apegos, e da dor.

Sofia, com voz firme, anunciou: — Esta será a noite do Espelho. Cada uma enfrentará o que tem medo de ver.

Lizzie teve de relatar, diante do grupo, os momentos em que sentiu inveja de Clara. Bia confessou ter desejado secretamente substituir Sofia aos olhos de Jaime. Sofia, por sua vez, admitiu ter desejado que Clara fosse embora — mesmo que por pouco tempo — só para poder sentir Jaime de novo, inteiro, só dela.

Ao final da noite, Clara as abraçou uma a uma. Com olhos calmos. — Sentimentos não são falhas. São marés. A gente aprende a nadar.

Capítulo 5: A Preparação para a Lua Nova

O altar estava limpo com vinho e rosas brancas. Clara organizava os frascos de óleos essenciais — lavanda, cipreste e jasmim. Jaime viria na noite seguinte, para dar sua bênção ao novo ciclo. Haveria dança. Haveria ritos.

Sofia lia em voz alta um texto antigo sobre fertilidade. Bia entoava cânticos com sinos e lenços nos pulsos. Lizzie organizava as túnicas cerimoniais.

Clara estava calma. Quase maternal. Olhou para Lizzie e sorriu: — Você me dará sua seiva novamente. Mas dessa vez... com minha boca guiando.

Capítulo 6: A Tentativa de Clara

Clara deitou-se sobre lençóis cor de âmbar. O ambiente cheirava a sândalo e fruta madura. Lizzie, nua, tremia como sempre. Sofia se aproximava, segurando uma pequena taça com óleo de sementes.

— Estás pronta, irmã? — perguntou Sofia. Clara assentiu.

Sofia abriu lentamente os lábios de Clara com as mãos, e viu ali os sinais da fertilização anterior. Clara já estava repleta do sêmen de Jaime. Lizzie, ao perceber, engasgou com um soluço emocionado.

— Ela já está cheia dele... — sussurrou.

Mesmo assim, ajoelhou-se. Beijou a pele de Clara, tocou-a com respeito e desejo. Clara acariciava seu rosto, guiando-a. A cena era íntima, quente e ritualística. Enquanto Lizzie entregava sua seiva à tentativa, Sofia e Bia entoavam cânticos antigos, pedindo aos deuses pela fertilidade.

Ao fim, silêncio. Clara repousava. Lizzie beijou-lhe o ventre.

Mas os dias passaram. E com a chegada do sangue lunar, a esperança se dissipou.

Capítulo 7: O Ritual do Recomeço

Sangue. Absorventes banhados e colocados como oferendas. Cada sissie recebeu um absorvente das dominantes, molhado com o fluxo do novo ciclo.

Durante três dias, carregaram o pano preso ao corpo com fitas de cetim, como símbolo da fertilidade que não se completou, mas que renascerá. Lizzie chorou ao sentir o cheiro da carne que queria fecundar. Bia tremia, tomada por calafrios, desejo e vergonha.

Sofia as guiava com voz baixa. Explicava os efeitos da hormonioterapia, das emoções cíclicas, e das dores simbólicas do útero que não têm lugar em corpos trans masculinos — mas encontram abrigo no coração.

Clara só dizia: — Recomeçar é o rito mais poderoso.

E elas começaram.

Capítulo 8: Rebeldia e Amor Velado

Na véspera da nova Lua, Sofia acordou com o coração pulsando. Passos leves a levaram até o quarto de Lizzie, onde a pequena sissie dormia abraçada ao próprio travesseiro.

Sofia se deitou ao seu lado e, em silêncio, acariciou os cabelos da menina. Lizzie despertou. Seus olhos se arregalaram, mas não houve medo. Apenas reverência.

— Você ainda me ama? — sussurrou Sofia.

Lizzie assentiu, com os olhos marejados.

— Então me faça lembrar como é sentir-se amada, sem pertencer a ninguém.

Elas se tocaram como duas sacerdotisas que celebram a própria vulnerabilidade. O quarto foi iluminado por velas em tons lilás e dourado, símbolos da transmutação e da lealdade.

Sofia conduziu a fertilização simbólica, não como ritual autorizado, mas como expressão de uma paixão antiga e reprimida. Um amor que desafia regras. Ao final, seus corpos permanecem entrelaçados.

Na madrugada seguinte, tomada pela culpa, Sofia confidenciou tudo a Clara. As duas, de mãos dadas, refletiram.

— A semente de Lizzie foi prometida a mim, Sofia. E teu ventre... deveria gerar meu filho. — Clara disse, sem raiva. Mas com a dor da quebra de um ciclo.

Sofia chorou. Pela culpa. Pela saudade do que ainda não veio. E pela esperança que, como a Lua, sempre volta a crescer.
Capítulo 1: A Volta de Clara

A chegada de Clara naquela segunda-feira trouxe consigo mais do que malas e roupas novas. Trouxe um perfume diferente. Trouxe o sabor do vinho argentino ainda nos seus lábios, e o leve tremor nos quadris de quem fora dançado com desejo em praças antigas.

Jaime a deixou na porta com um beijo terno, um tapa leve no bumbum e uma ordem simples, dita em voz baixa, mas firme: — Ela agora é sua também. Cuide bem. Mas não se esqueça: ela é minha.

Clara entrou em casa de salto, com o olhar seguro. Sofia esperava na sala, descalça, com os cabelos soltos. Não sabia se sorria, se corria, se fugia. Mas Clara foi direto até ela.

— Vou dividir a cama com você, Sofia.

E foi tudo o que disse. Sofia assentiu. Sem direito de recusar. Mas com algo no peito que a feria.

A partir daquela noite, o quarto de Clara foi reorganizado. A cama virou para o leste, como mandava o ciclo lunar. Um colchonete foi deixado a um canto para Sofia, mas Clara fez questão: — Ou é comigo, ou é no chão. E Sofia deitou ao lado dela.

A primeira noite foi de silêncio, ambas acordadas, o lençol compartilhado como uma muralha quente.

Capítulo 2: Lizzie Confessa

Na cozinha, enquanto cortava fatias finas de pão para o desjejum cerimonial, Lizzie já não aguentava mais o peso daquilo.

Clara percebia. O olhar da menina denunciava um vulcão.

— Fale, Lizzie.

A sissie deixou a faca, virou-se, e caiu de joelhos.

— Eu a amo, Clara. Amo a Sofia desde que eu tinha onze anos. Amo cada gesto, cada grito, cada vez que ela me ignora, e cada vez que ela me protege. Mas tenho medo. Medo de que ela desobedeça Jaime, e que você se machuque. Tenho medo de amá-la e destruí-la.

Clara se abaixou. Tomou o rosto da menina entre as mãos.

— Amar também é serviço. Você vai cuidar dela. Comigo. Nós duas.

Lizzie chorou. E pela primeira vez, sentiu-se permitida.

Capítulo 3: Noite de Tensão e Erotismo

O quarto estava escuro. Um filete de vela azul iluminava as paredes. Clara lia um livro de poemas antigos. Sofia se despia em silêncio.

Lizzie, de joelhos ao lado da cama, vestiu um robe branco. Observava as duas. Os olhos fixos em Sofia. O peito arfando.

Clara observou.

— Venha para cá, sissie. Deite-se entre nós.

Lizzie obedeceu. O calor dos corpos era como brasa sob seda.

Sofia se virou para Lizzie.

— Eu não vou te beijar. Mas posso te tocar.

Clara sorriu.

— E eu vou observar.

O jogo começou. Mãos deslizavam sob tecidos. Gemidos contidos. Clara tocava a si mesma, os olhos vidrados em cada gesto de Sofia. Lizzie se deixava fazer, tremendo, entre duas mulheres que governavam seus dias.

Ao fim, nenhuma delas dormiu. Mas todas sonharam com a próxima vez.

Capítulo 4: A Lua em Quarto Minguante

Com a aproximação da Lua Minguante, Clara propôs um novo ciclo de purificação. A casa foi decorada com ramos de alecrim, pedras negras e tigelas de sal grosso sob cada cama. O foco era a limpeza do ego, dos apegos, e da dor.

Sofia, com voz firme, anunciou: — Esta será a noite do Espelho. Cada uma enfrentará o que tem medo de ver.

Lizzie teve de relatar, diante do grupo, os momentos em que sentiu inveja de Clara. Bia confessou ter desejado secretamente substituir Sofia aos olhos de Jaime. Sofia, por sua vez, admitiu ter desejado que Clara fosse embora — mesmo que por pouco tempo — só para poder sentir Jaime de novo, inteiro, só dela.

Ao final da noite, Clara as abraçou uma a uma. Com olhos calmos. — Sentimentos não são falhas. São marés. A gente aprende a nadar.

Capítulo 5: A Preparação para a Lua Nova

O altar estava limpo com vinho e rosas brancas. Clara organizava os frascos de óleos essenciais — lavanda, cipreste e jasmim. Jaime viria na noite seguinte, para dar sua bênção ao novo ciclo. Haveria dança. Haveria ritos.

Sofia lia em voz alta um texto antigo sobre fertilidade. Bia entoava cânticos com sinos e lenços nos pulsos. Lizzie organizava as túnicas cerimoniais.

Clara estava calma. Quase maternal. Olhou para Lizzie e sorriu: — Você me dará sua seiva novamente. Mas dessa vez... com minha boca guiando.

Capítulo 6: A Tentativa de Clara

Clara deitou-se sobre lençóis cor de âmbar. O ambiente cheirava a sândalo e fruta madura. Lizzie, nua, tremia como sempre. Sofia se aproximava, segurando uma pequena taça com óleo de sementes.

— Estás pronta, irmã? — perguntou Sofia. Clara assentiu.

Sofia abriu lentamente os lábios de Clara com as mãos, e viu ali os sinais da fertilização anterior. Clara já estava repleta do sêmen de Jaime. Lizzie, ao perceber, engasgou com um soluço emocionado.

— Ela já está cheia dele... — sussurrou.

Mesmo assim, ajoelhou-se. Beijou a pele de Clara, tocou-a com respeito e desejo. Clara acariciava seu rosto, guiando-a. A cena era íntima, quente e ritualística. Enquanto Lizzie entregava sua seiva à tentativa, Sofia e Bia entoavam cânticos antigos, pedindo aos deuses pela fertilidade.

Ao fim, silêncio. Clara repousava. Lizzie beijou-lhe o ventre.

Mas os dias passaram. E com a chegada do sangue lunar, a esperança se dissipou.

Capítulo 7: O Ritual do Recomeço

Sangue. Absorventes banhados e colocados como oferendas. Cada sissie recebeu um absorvente das dominantes, molhado com o fluxo do novo ciclo.

Durante três dias, carregaram o pano preso ao corpo com fitas de cetim, como símbolo da fertilidade que não se completou, mas que renascerá. Lizzie chorou ao sentir o cheiro da carne que queria fecundar. Bia tremia, tomada por calafrios, desejo e vergonha.

Sofia as guiava com voz baixa. Explicava os efeitos da hormonioterapia, das emoções cíclicas, e das dores simbólicas do útero que não têm lugar em corpos trans masculinos — mas encontram abrigo no coração.

Clara só dizia: — Recomeçar é o rito mais poderoso.

E elas começaram.

Capítulo 8: Rebeldia e Amor Velado

Na véspera da nova Lua, Sofia acordou com o coração pulsando. Passos leves a levaram até o quarto de Lizzie, onde a pequena sissie dormia abraçada ao próprio travesseiro.

Sofia se deitou ao seu lado e, em silêncio, acariciou os cabelos da menina. Lizzie despertou. Seus olhos se arregalaram, mas não houve medo. Apenas reverência.

— Você ainda me ama? — sussurrou Sofia.

Lizzie assentiu, com os olhos marejados.

— Então me faça lembrar como é sentir-se amada, sem pertencer a ninguém.

Elas se tocaram como duas sacerdotisas que celebram a própria vulnerabilidade. O quarto foi iluminado por velas em tons lilás e dourado, símbolos da transmutação e da lealdade.

Sofia conduziu a fertilização simbólica, não como ritual autorizado, mas como expressão de uma paixão antiga e reprimida. Um amor que desafia regras. Ao final, seus corpos permanecem entrelaçados.

Na madrugada seguinte, tomada pela culpa, Sofia confidenciou tudo a Clara. As duas, de mãos dadas, refletem sob a penumbra da manhã.

— A semente de Lizzie foi prometida a mim, Sofia. E teu ventre... deveria gerar meu filho. — Clara disse, sem raiva. Mas com a dor da quebra de um ciclo.

Sofia chorou. Pela culpa. Pela saudade do que ainda não veio. Pela incerteza de ter quebrado algo que as sustentava.

Clara a abraçou com força.

— Não é o fim. É mais uma curva. A Lua voltará a crescer. E nós, com ela.


Capítulo 1: A Volta de Clara

A chegada de Clara naquela segunda-feira trouxe consigo mais do que malas e roupas novas. Trouxe um perfume diferente. Trouxe o sabor do vinho argentino ainda nos seus lábios, e o leve tremor nos quadris de quem fora dançado com desejo em praças antigas.

Jaime a deixou na porta com um beijo terno, um tapa leve no bumbum e uma ordem simples, dita em voz baixa, mas firme: — Ela agora é sua também. Cuide bem. Mas não se esqueça: ela é minha.

Clara entrou em casa de salto, com o olhar seguro. Sofia esperava na sala, descalça, com os cabelos soltos. Não sabia se sorria, se corria, se fugia. Mas Clara foi direto até ela.

— Vou dividir a cama com você, Sofia.

E foi tudo o que disse. Sofia assentiu. Sem direito de recusar. Mas com algo no peito que a feria.

A partir daquela noite, o quarto de Clara foi reorganizado. A cama virou para o leste, como mandava o ciclo lunar. Um colchonete foi deixado a um canto para Sofia, mas Clara fez questão: — Ou é comigo, ou é no chão. E Sofia deitou ao lado dela.

A primeira noite foi de silêncio, ambas acordadas, o lençol compartilhado como uma muralha quente.

[...]

Capítulo 9: A Lua Crescente e a Reconciliação

O ciclo seguia, e a Lua Crescente apareceu no céu como um corte fino de prata. Clara propôs uma nova dinâmica entre elas, um pacto de regeneração. Seria uma semana de silêncio entre as dominantes e submissas, onde cada gesto falaria mais do que qualquer palavra.

As manhãs começam com banhos de ervas, seguidos por momentos de meditação com âmbar e olhos vendados. As noites eram regidas por danças lentas ao redor do altar, onde cada uma deixava, como oferenda, um objeto íntimo que representasse sua entrega.

Sofia, em sinal de arrependimento e amor, ofereceu seu colar antigo — um presente de Jaime, mas usado apenas nos momentos em que pensava em Lizzie. Clara o recebeu em silêncio e, naquela noite, dividiu o leito com Sofia novamente, como se fosse pela primeira vez.

Lizzie, silenciosa, prestava serviço dobrado. Suas mãos delicadas cuidavam dos rituais de limpeza da casa e das pequenas oferendas do altar. Bia, por sua vez, preparava infusões de flores e cuidava do jardim lunar, um pequeno espaço circular decorado com pedras, musgos e símbolos antigos traçados com farinha de aveia.

No final da semana, reuniram-se em círculo. A vela verde foi acesa no centro, símbolo de cura e renovação. Clara se levantou, vestida com túnica vinho, e falou:

— O que passou, passou. Mas o que queremos levar adiante deve ser cuidado. Sofia, Lizzie, Bia... vamos renascer sob esta Lua.

Cada uma tomou a mão da outra. E, entre lágrimas e promessas, o ciclo recomeçou.

Clara ergueu o cálice de vinho com pétalas de hibisco e murmurou:

— Que a próxima tentativa de germinar venha da luz e da fidelidade.

E todas, em uníssono, responderam:

— Assim será.
Capítulo 10: A Lua Cheia e a Provação

A Lua Cheia se erguia pesada sobre a casa. Clara observava seu reflexo na água do jardim lunar. Bia havia colhido flores silvestres e decorado o altar com cristais de quartzo branco. Lizzie caminhava com passos leves, o coração apertado. E Sofia, aflita, mantinha os olhos baixos há dias.

Foi numa tarde de vento morno que Sofia quebrou o silêncio. Com o coração aos pulos e as mãos frias, pediu uma ligação a Jaime. Assim que sua imagem apareceu na tela, ela caiu de joelhos no chão da sala.

— Senhor... eu falhei. Eu cedi a Lizzie. Fui fraca. Eu permiti... tudo. Eu me traí. Eu o traí.

Jaime não disse uma só palavra. Apenas a observou. Sofia chorava, desesperada por uma reação. Mas ele a ignorou. E desligou.

Mais tarde, Jaime enviou uma mensagem apenas para Clara. Contou o ocorrido, e confidenciou:

— Eu quase ri. Ela se ajoelhou, confessou, chorou... e ainda assim, se submeteu. A fidelidade dela foi mais forte do que o erro. Lizzie nunca será uma ameaça. Na próxima cerimônia, ela vai entender quem ela é.

Clara respondeu com um breve “entendido” e não compartilhou nada com as outras. Apenas observava.

Enquanto isso, Clara passou a sair com Bia, para cafés e eventos culturais. Bia, dedicada, trazia flores, fazia anotações sobre os livros que Clara lia e elogiava com rigor os textos dela. Clara sorria, divertia-se com o flerte refinado, e começava a admirar a mente aguda de Bia. Aceitou um convite para assistir a um filme romântico, e gostou do toque leve das mãos da jovem, ainda que não permitisse nenhum avanço físico.

Capítulo 11: A Cerimônia da Verdade

No salão preparado para a cerimônia lunar, todas estavam presentes. Clara com túnica rubra. Lizzie, apenas com um lacinho rosa no pênis. Sofia, nua, ajoelhada no centro, tremendo. Bia segurava o tambor cerimonial, mas seus olhos estavam atentos.

Jaime chegou em silêncio. Sentou-se no trono ao fundo do altar, imponente e calmo.

— Sofia — sua voz preencheu a sala —, diga o que fez.

Sofia, em prantos, confessou a aproximação com Lizzie, o ritual escondido, o desejo misturado à culpa. Implorou perdão, chorando como nunca.

— E a tentativa de fertilização? Fale. — disse Jane, em tom calmo.

Ela falou. Clara cerrou os olhos. Bia olhou para o chão. Nenhuma das duas sabia desse detalhe. As duas se sentiram traídas, e embora não falassem, seus olhares se cruzaram e reconheceram a ferida.

Jaime se levantou, olhou para Lizzie:

— Repita aqui, diante de todas, o que fizeram.

Lizzie tremia. Olhou para Sofia, em pânico. Sofia assentiu com a cabeça. Lizzie se aproximou. Tentou montar em Sofia, mas o corpo falhava. Nenhuma ereção. Mal conseguia manter o laço no lugar.

— Isso é um brinquedo quebrado — murmurou Jaime, rindo pela primeira vez.

O clima aliviou. Ele se aproximou de Clara:

— Me dê a cinta.

Clara entregou a cinta com consolo. Jaime a passou a Lizzie:

— Use nela, agora.

Sofia hesitou. Clara se aproximou e sussurrou:

— Você vai perder seu dono se não obedecer.

O medo foi mais forte. Sofia virou Lizzie de bruços, ajustou-se desajeitada. Com movimentos tímidos, começou. Lizzie se entregou, olhos marejados, mas com um sorriso — era um rito. E o que foi penetrado não foi um corpo, foi a masculinidade que restava em Lizzie.

Capítulo 12: O Espelho

Jaime partiu após o rito. Deixou as chaves das algemas nas mãos de Clara. A noite era densa, o ar perfumado com jasmim.

As quatro mulheres se sentaram em roda, espelhos diante de si. Cada uma devia dizer uma verdade sobre si que temia ouvir.

— Eu desejei Jaime, mesmo sabendo que ele não era meu. — disse Bia.

— Eu quis que Lizzie me engravidasse, mesmo sem saber o que isso faria com vocês. — disse Sofia.

— Eu aproveito a atenção de todos vocês para inflar meu ego. — disse Clara.

— Eu não sei se sou mulher, ou sissie, ou só um brinquedo que quer ser amado. — disse Lizzie, quase sem voz.

Depois, banhos de ervas, longas massagens, incensos e cantos suaves. Eram vozes de perdão, de redenção, de recomeço. O ciclo da Lua Cheia se encerrava assim: com dores ditas e amor revelado nos silêncios que vieram depois.

E, como Clara dizia: — Quando tudo sangra, algo novo está para nascer.
A casa, depois da cerimônia, mergulhou em um silêncio espesso. Não era vazio, mas densidade emocional. As palavras ditas diante do espelho reverberam dentro de cada uma como um sino noturno.
Clara observava as três com o olhar de quem pesa e mede. Sabia que o que acontecera no último ciclo fora um ponto de ruptura — e não poderia haver mais ritos sem consequências reais. Pela primeira vez, decidiu manter silêncio ritual por sete dias, sem ordens diretas, sem cobranças. Queria ver como cada uma reagiria ao espaço aberto.
Sofia sentiu-se perdida. Habituada a regras, ordens e castigos, o vazio de atenção de Jaime e a indiferença silenciosa de Clara a corroía. Começou a acordar à noite com crises de ansiedade, temores e sonhos nos quais era abandonada em rituais inacabados. Recorreu ao canto, entoando sozinha trechos de antigas canções lunares.
A psicologia explicaria o estado de Sofia como dissonância cognitiva: um choque entre o desejo profundo de submissão e o ato de transgressão — mesmo que simbólico — que cometeu. Esse conflito gerava culpa e necessidade de punição. Mas não havia punição. Apenas espera. E isso a destruía mais que qualquer castigo.
Lizzie, por sua vez, atravessava o luto de sua identidade rompida. Ter sido penetrada por Sofia em cerimônia, ainda que consensual, selara simbolicamente a ruptura do que restava de sua figura masculina. Não era mais "um sissie" com traços — era agora um corpo ritualisticamente feminilizado.
No entanto, algo dentro de Lizzie se acalmava. Não precisava mais provar quem era. Começou a costurar saias de algodão leve, a bordar pequenos símbolos lunares em lenços. E passou a dormir aos pés da cama de Sofia, por escolha.
Bia, sensível e crítica, escrevia em seu diário sobre as dinâmicas que observava. Havia nela um fascínio por Clara, mas também uma tensão ética. "Estamos todos doentes por amor e poder", escreveu certa noite. Suas leituras de Foucault e Bell Hooks davam-lhe vocabulário para nomear o que via: corpos domesticados, mas desejantes; amores que eram também estratégias de sobrevivência emocional.
Clara, como uma figura materna e dominadora, lia tudo. Absorvia. Estava refletindo sobre a próxima fase da casa. Leia também psicologia junguiana, especialmente os arquétipos da Sombra e da Anima.
Na manhã do oitavo dia, acendeu o incenso de mirra. Sentou-se no centro do salão, chamou todas.
— Agora falaremos não do que fizemos, mas do que isso nos fez sentir.
E abriram-se como nunca antes. Sofia confessou que, ao tocar Lizzie, sentiu-se poderosa e horrível ao mesmo tempo.
— Eu queria te dar prazer, Lizzie. Mas no fundo, eu queria que você não sentisse. Queria te dominar porque eu mesma estava com medo.
Lizzie sorriu:
— E eu queria te dar tudo. Até o que eu não tinha. E quando me vi sem forças, percebi que talvez eu fosse mais forte do que pensava.
Bia segurou a mão de Clara e disse:
— Você gosta de ver o caos. Mas também quer proteger. Não é só sobre domínio, é sobre controle do tempo... do ciclo.
Clara apenas assentiu. E naquela noite, não houve sexo, nem ordens, nem silêncios impostos. Dormiram todas juntas, em almofadas ao chão, entre incensos, cobertores e o som de uma flauta suave. Eram agora, mais do que nunca, um círculo de mulheres em cura.
E a Lua Minguante se aproximava, pronta para levar embora tudo que precisasse morrer para que algo novo nascesse.
Capítulo adicionado com foco nas consequências emocionais das personagens, explorando conceitos como dissonância cognitiva, arquétipos da psicologia junguiana e relações de poder afetivo com apoio simbólico e místico. A transição para a Lua Minguante está em curso.
Com a chegada da Lua Minguante, Clara organizou uma nova roda cerimonial. O salão foi decorado com tecidos escuros e fitas de cetim violeta, a cor da transformação e do desapego. As taças estavam preenchidas com infusões de ervas amargas, como boldo e artemísia. Era tempo de deixar morrer.

Sofia foi a primeira a ajoelhar-se diante do espelho lunar. Vestia apenas um véu cinzento sobre os ombros. Chorou baixinho, enquanto Clara, como sacerdotisa, a tocava suavemente com um feixe de penas de coruja.

— Eu renuncio à culpa que me consome. Entrego-a ao ciclo — murmurou Sofia.

A seguir, Lizzie caminhou em passos curtos. Usava um corpete de renda branca, e ao ajoelhar-se, suas mãos tremiam.

— Renuncio à ilusão de que preciso ser algo que não sou para ser amada. Minha verdade é simples: quero servir e ser cuidada.

Bia recitou versos antigos, invocando o perdão e a reintegração dos corpos em suas verdades. A cerimônia foi marcada por gestos delicados, massagens com óleos essenciais nos pés umas das outras, e o uso simbólico de uma pequena fonte de água perfumada, onde cada uma levava suavemente a outra — como símbolo de humildade, entrega e confiança.

O ponto mais tenso da cerimônia veio quando Sofia, de forma espontânea, ajoelhou-se diante de Clara, e pediu perdão. Não com palavras, mas com gestos: abaixando a cabeça, expondo a nuca e entregando-se ao toque da outra. Clara, em resposta, inclinou-se e tocou sua fronte com a de Sofia, aceitando em silêncio.

Capítulo 15: O Olhar de Clara

Mais tarde, Clara se isolou em seu quarto. Pegou o diário onde anotava suas impressões. Pela primeira vez, escrevi sobre cada uma.

“Lizzie é feita de rendas e ferros. Uma boneca que se reconstrói após cada queda. Seu amor por Sofia é antigo, infantil, quase sagrado. Vê em mim a mãe que não teve. Mas não sou mãe. Não posso ser.”

“Sofia... minha rival, minha amiga, minha discípula. Uma mulher que precisa ser dominada para se encontrar. Às vezes, quero protegê-la. Outras, quero afastá-la.”

“Bia é minha surpresa. Inteligente, gentil, provocadora. Lê o mundo com os olhos de quem já sofreu. Ela me encanta com seu jeito sincero. Fico lisonjeada com sua atenção.”

“Jaime... é o que sempre sonhei e sempre temi. Um homem que me vê, me deseja e me permite. Mas não sei se quero pertencer. Ou se quero que ele me pertença.”

Ela fechou o diário com um sorriso. Sentia que o próximo ciclo traria definições. Mas por ora, era tempo de observar.

Capítulo 16: Bia Planeja

Na varanda, Bia observava a lua. Sentia-se fortalecida. Durante os últimos rituais, sua conexão com Clara se intensificou. Sabia que não era apenas admiração. Era amor. Um amor real, adulto, construído nos detalhes: nas conversas sobre livros, nas críticas generosas, nos risos partilhados.

Pegou seu caderno e começou a escrever:

"Plano para a Confissão:

1. Escolher uma noite clara.


2. Preparar um jantar simples: massa com molho de cogumelos e vinho tinto.


3. Presentear Clara com um livro anotado com reflexões pessoais.


4. Confessar que a vejo como algo além de uma líder. Que a vejo como parceira.


5. Dizer que quero ser sua esposa — não no sentido tradicional, mas como alguém que compartilha a mesa, a cama, os rituais, a vida.



Não quero substituí-la. Nem possuí-la. Quero ser escolhida."

Bia sorriu para a lua minguante. Não sabia se Clara diria sim. Mas sabia que era a hora de tentar.

E no coração da casa, Clara fechava os olhos, sem saber que estava prestes a ser cortejada por alguém que conhecia seus segredos e, ainda assim, a desejava inteira.
Capítulo 17: O Jantar da Verdade
Na noite seguinte, Bia preparou tudo com cuidado. A mesa foi posta com uma toalha bordada à mão, duas taças simples, velas brancas e um prato de massa com cogumelos e manjericão fresco. O cheiro enchia a sala de um conforto reconfortante.

Clara chegou, desconfiada, mas com um leve sorriso no canto da boca. Estava cansada, mas aceitou o convite com graciosidade. As duas comeram em silêncio por alguns minutos, o som do garfo tocando o prato era quase meditativo.

— Clara -- — Bia começou, abrindo o livro com anotações — Eu pensei muito nos nossos ciclos. Em tudo que vivemos. Você é mais do que a líder dessa casa. Você é... o coração. E eu não quero te seguir só como discípula. Eu quero te acompanhar... como mulher.

Clara ergueu os olhos. Seu rosto era calmo, mas os olhos estavam úmidos. Deixou o garfo de lado.

— Você quer ser minha esposa? — perguntou com doçura.

Bia assentiu. — Do jeito que você quiser. Sem tomar o lugar de ninguém. Só quero que saiba que você pode confiar em mim, amar em mim, rir em mim. Estou aqui.

Clara se levantou, contornou a mesa e sentou-se ao lado de Bia. Pegou sua mão e beijou-a lentamente.

— Eu vejo você, Bia. Com todas as suas perguntas, coragem e amor. Ainda estou me entendendo... mas se você puder esperar, quero caminhar com você. — E completou — Você já é minha parceira. Talvez já seja mais minha esposa do que imagina.

Capítulo 18: A Manhã Seguinte

Na manhã seguinte, a casa acordou diferente. Lizzie percebeu de imediato a mudança na aura entre Clara e Bia — não era apenas cumplicidade, era aliança. Sofia também percebeu, e embora sentisse uma pontada de ciúmes, acolheu o sentimento. Afinal, sabia que o amor de Clara era vasto, e ela mesma fora acolhida tantas vezes naquele coração.

Durante o café, Clara fez um anúncio breve:

— A partir de hoje, Bia será minha companheira de todas as tarefas da casa. Rituais, decisões, partilhas. Quero que todas saibam que ela agora tem lugar ao meu lado.

Lizzie foi a primeira a levantar e abraçar Bia. Sofia hesitou, mas logo se juntou, selando o início de um novo ciclo.

O amor declarado entre Clara e Bia não causou nenhuma ruptura. Ao contrário: uniu as quatro em nova configuração. Cada uma passou a habitar seu espaço com mais consciência, menos medo. O lar deixou de ser um campo de provas e tornou-se um jardim de possibilidades.

E a próxima Lua, já no horizonte, prometia mudanças. Mas agora, elas sabiam: estavam prontas para qualquer coisa, juntas.

Capítulo 19: As Tarefas do Amor

Os dias que se seguiram ao anúncio de Clara trouxeram uma calma luminosa à casa. Os afazeres diários — antes carregados de tensão e expectativas — passaram a ser partilhados com mais leveza. Bia e Clara dividiam o preparo das refeições, as leituras e até os pequenos momentos de silêncio. Não era uma paixão explosiva, mas uma ternura consistente. A rotina tornou-se erótica na intimidade: mãos que se tocavam ao alcançar a xícara, olhares demorados ao pendurar os lençóis no varal, pequenos bilhetes escondidos entre as páginas dos livros.

Sofia, observadora, se aproximava de Lizzie com carinho mais aberto. À noite, propôs que dormissem de mãos dadas. Lizzie, surpresa, aceitou. Foi nesse gesto simples que ambas perceberam: amar não precisa ser imediato, basta ser presente. Em uma noite chuvosa, tomaram banho juntas — um ritual de purificação com óleos de lavanda e arruda. Se tocaram nos cabelos, nos ombros, com o respeito de quem conhece o passado e a ternura de quem deseja um futuro.

A casa passou a respirar sincronia. Clara leu para todas um trecho de Clarissa Pinkola Estés: "O amor na sua forma mais forte é compaixão."

Capítulo 20: A Lua Minguante Retorna

A aproximação da nova Lua Minguante trouxe a promessa de recomeço. Clara, agora com Bia ao lado, organizou um novo ciclo de renúncia. Mas desta vez, com mais profundidade emocional. Quis que todas passassem uma tarde inteiramente silenciosa. Nenhuma palavra, apenas toques, olhares, gestos.

Lizzie preparou pequenos pães rústicos com alecrim. Sofia colheu flores do jardim — margaridas, lavandas e dente-de-leão — e enfeitou o altar. Clara e Bia organizaram almofadas e mantos em círculo, acendendo incensos de mirra e âmbar.

Ao anoitecer, todas se despiram, não apenas das roupas, mas de medos. Cada uma trouxe ao centro um objeto simbólico para ser queimado: uma fita, um espelho rachado, uma folha de papel com palavras secretas. Um a um, os objetos foram entregues à chama.

Sofia ajoelhou-se por último e olhou para Clara e Bia.

— Quero libertar minha culpa. E aceitar que ser amada por diferentes pessoas não me torna menos fiel. Me torna mais inteira.

Clara a acolheu com um olhar pleno. Bia entoou um canto suave, e Lizzie acendeu a última vela da noite.

Na madrugada, dormiram todas no salão, entrelaçadas com as raízes de uma árvore antiga. Nenhum sonho ruim visitou a casa naquela noite.

Era o fim de um ciclo.

E o início de outro mais profundo.
Capítulo: Entre Amoras e Limiar de Desejos

Clara observava Bia em silêncio, os olhos pousados sobre a figura serena da amiga, que, mesmo com sua feminilidade meticulosamente esculpida pela hormonioterapia e pela delicadeza, ainda carregava certa fragilidade de quem viveu anos negando a própria existência. Era noite, e a casa mergulhava em suas ciências rituais.

— Você tem um jeito de me olhar que é... doce demais, Bia — sussurrou Clara, deitada sobre as almofadas do quarto.

— Eu te amo. Mas não como você ama os homens. E isso me assusta — respondeu Bia, num fio de voz que parecia pedir desculpas.

A tensão entre as duas já vinha sendo sentida por todos. Sofia, com sua empatia afiada, notava a angústia de ambas e, numa conversa durante a arrumação de um dos rituais, tocou no assunto com Clara:

— A Bia não precisa ser um homem pra te amar. Nem você precisa abrir mão do seu prazer com homens pra amar a Bia. Vocês podem criar outra coisa... nova. Doce. Lúcida. O que tiver que ser.

Clara refletiu por dias. Começou a prestar atenção nos pequenos gestos de Bia: os cafés servidos com carinho, os recados deixados no espelho com batom, os textos comentados com opiniões agudas.

Foi Lizzie, entre uma confissão e outra, quem trouxe a leveza:

— Olha, Clara, eu sou passiva também. Mas não quer dizer que a gente não possa brincar. Mãos, língua, brinquedos, palavras... prazer é uma linguagem. Bia só precisa aprender seu idioma. E você, o dela.

Naquela mesma noite, Clara convidou Bia para um banho de lavanda e mel. Não houve penetração. Houve olhares, carícias, mãos entrelaçadas, línguas que aprenderam os contornos uma da outra, palavras murmuradas.

No dia seguinte, Clara confidenciou a Sofia:

— Eu não sabia que podia gozar sem transar. Bia tem mãos que curam.

E Sofia sorriu. Sabia que, quando as mulheres escutam umas às outras, reinventam o amor.
Capítulo: Entre Amoras e Limiar de Desejos

Clara observava Bia em silêncio, os olhos pousados sobre a figura serena da amiga, que, mesmo com sua feminilidade meticulosamente esculpida pela hormonioterapia e pela delicadeza, ainda carregava certa fragilidade de quem viveu anos negando a própria existência. Era noite, e a casa mergulhava em suas ciências rituais.

— Você tem um jeito de me olhar que é... doce demais, Bia — sussurrou Clara, deitada sobre as almofadas do quarto.

— Eu te amo. Mas não como você ama os homens. E isso me assusta — respondeu Bia, num fio de voz que parecia pedir desculpas.

A tensão entre as duas já vinha sendo sentida por todos. Sofia, com sua empatia afiada, notava a angústia de ambas e, numa conversa durante a arrumação de um dos rituais, tocou no assunto com Clara:

— A Bia não precisa ser um homem pra te amar. Nem você precisa abrir mão do seu prazer com homens pra amar a Bia. Vocês podem criar outra coisa... nova. Doce. Lúcida. O que tiver que ser.

Clara refletiu por dias. Começou a prestar atenção nos pequenos gestos de Bia: os cafés servidos com carinho, os recados deixados no espelho com batom, os textos comentados com opiniões agudas.

Foi Lizzie, entre uma confissão e outra, quem trouxe a leveza:

— Olha, Clara, eu sou passiva também. Mas não quer dizer que a gente não possa brincar. Mãos, língua, brinquedos, palavras... prazer é uma linguagem. Bia só precisa aprender seu idioma. E você, o dela.

Naquela mesma noite, Clara convidou Bia para um banho de lavanda e mel. Não houve penetração. Houve olhares, carícias, mãos entrelaçadas, línguas que aprenderam os contornos uma da outra, palavras murmuradas.

No dia seguinte, Clara confidenciou a Sofia:

— Eu não sabia que podia gozar sem transar. Bia tem mãos que curam.

E Sofia sorriu. Sabia que, quando as mulheres escutam umas às outras, reinventam o amor.

Um novo ritual seria preparado. Não um de magia, mas de escuta. E esse, sabiam, era o mais raro dos feitiços.
Capítulo: Voz de Bia
Era fim de tarde, e a luz âmbar do sol atravessava as cortinas leves da sala. Bia estava sentada à escrivaninha, os dedos pousados sobre as páginas de seu diário. Ali, onde o papel acolhia o que o mundo nem sempre podia, ela registrava dúvidas, ternura e vontades.

“Clara é... tudo o que eu sempre quis amar e tudo o que me parece inalcançável.”

Bia sentia-se genuinamente feliz por cada palavra gentil, cada risada dividida, cada toque no ombro. Mas também havia um incômodo sutil, como um sopro frio por baixo da porta: Clara gostava de homens. E não era só preferência — era desejo em seu estado mais natural, mais físico. Era linguagem corporal, era memória do toque, era química.

Ela, Bia, era uma mulher trans, lésbica, de sexualidade passiva, que amava a beleza dos gestos femininos, os silêncios e os cheiros de outras mulheres. E ainda assim, ali estava, completamente entregue a uma mulher que adorava estar com homens — com os sons, as forças e os cheiros de seus corpos. Elas compartilhavam confidências, lençóis e até sonhos. Mas será que podiam partilhar desejo?

Sofia, numa conversa delicada, percebeu o conflito:
— Vocês duas são lindas. Mas são diferentes. Isso não é um erro — é só um caminho mais longo. Amor também se faz de escuta.

Mais tarde, Lizzie, com a espontaneidade de quem vive o desejo com o corpo e com o riso, cochichou para Bia: — Quem disse que ser passiva te impede de provocar prazer? Com o olhar certo, com a palavra certa... você pode virar o mundo de cabeça pra baixo.


---

Capítulo: Ritual da Escuta e da Pele

Na noite seguinte, sob a Lua Crescente, Sofia convocou um ritual inspirado nas tradições wiccanas e em rodas de escuta do Sagrado Feminino. Ao centro do altar, um espelho envolto em folhas de manjericão e pétalas de hibisco. Quatro velas representavam os elementos: terra (marrom), fogo (vermelha), água (azul) e ar (amarela).

Todas vestiam branco. Sentaram-se em círculo, cada uma com uma pequena pedra que aqueciam entre as mãos. O propósito do ritual era compartilhar verdades e desejos em segurança, abrindo os caminhos para a escuta real.

Sofia falou primeiro, como sacerdotisa do momento: — Nesta noite, chamamos as forças das nossas ancestrais. Que sejamos livres para amar e ousadas para ouvir.

Uma a uma, as mulheres partilharam. Bia revelou sua vulnerabilidade e seu medo de não ser “suficiente”. Clara, com lágrimas contidas, confessou que às vezes desejava o que não podia ter, mas também se descobria tocada de formas novas com Bia.

Ao final, Lizzie acendeu uma vela de jasmim e disse: — Que essa chama leve embora o medo e deixe só o que importa: o calor.

Como encerramento, Clara segurou as mãos de Bia, aproximou-se, e beijou-a na testa com delicadeza: — Talvez o que a gente precise não é se encaixar... é se reinventar juntas.
Podemos continuar desenvolvendo a relação de Clara e Bia com delicadeza, foco emocional e simbolismo sensorial — respeitando os limites das diretrizes. Abaixo, apresento a continuação adaptada da narrativa, centrada no vínculo íntimo entre elas, na comunhão dos corpos com espiritualidade e na força da entrega emocional.


---

Capítulo: A Entrega e o Sagrado

A tarde caia suave sobre a casa, tingindo de âmbar as cortinas e aquecendo o interior da sala com tons de outono. Clara estava recostada no sofá com um livro aberto, mas os olhos percorriam o vazio. Desde o último ritual, seu coração estava inquieto — havia algo novo e silencioso desabrochando entre ela e Bia.

Bia se aproximou com passos lentos, como quem respeita o templo de um altar. Trazia nas mãos uma pequena taça com chá de rosas e erva-doce, preparada para um momento de partilha. Seus olhos, profundamente doces, buscavam os de Clara como quem pede permissão para adentrar algo sagrado.

“Posso?”, perguntou.

Clara sorriu. “Sempre.”

Sentaram-se frente a frente, e Bia pousou a taça entre elas. “Hoje queria te oferecer algo que não é só meu corpo, mas minha admiração. Queria que você soubesse que, mesmo sem saber ao certo como te amar como você está acostumada, eu te amo da forma mais inteira que sei.”

Clara se emocionou. Tocou o rosto de Bia com os dedos e sussurrou: “O amor não vem com manual, Bia. E, pra ser sincera, tem sido bom escrever com você uma nova página.”

A aproximação foi lenta, sem urgência. Bia deitou a cabeça no colo de Clara, que começou a acariciar-lhe os cabelos, murmurando palavras sobre ancestralidade, sobre os caminhos do desejo que não se guiam apenas por corpos, mas por presenças. O calor entre elas foi surgindo, não do toque, mas do cuidado. As mãos de Clara demoraram no rosto de Bia, na curva do pescoço, nos ombros, até pousarem sobre o peito — onde o coração batia acelerado.

“Você me faz sentir bonita”, disse Bia. “Me faz sentir... parte do mundo.”

Clara sorriu. “E você me faz lembrar que há beleza no mistério, na suavidade. Você tem uma força rendida que me inspira.”

Ambas sabiam dos limites. Bia era completamente passiva, e Clara, intensamente voltada ao prazer masculino. Mas havia ali um espaço novo — onde o desejo não se explicava, apenas se acolhia.

Entre beijos longos e carícias por sobre tecidos finos, os corpos não se violaram. Se encontram. Um ritual de olhos fechados, de perfumes trocador, de calor de pele e arrepio. Clara sussurrou que havia estado com alguém. Que havia um homem, um amor secreto.

Bia não recuou. Beijou Clara com ternura e disse: “Que bom. Que sorte a dele.”

E então, num gesto de reverência simbólica, de devoção à mulher que amava, Bia ajoelhou-se diante de Clara. Não para um ato carnal, mas para honrar o corpo dela como templo. Tocou-lhe os joelhos com a testa, como uma prece. Clara, tocada, cobriu-a com uma manta vermelha e disse: “Você é o que há de mais sagrado em mim agora.”


Capítulo 1: As Tramas do Cotidiano

Na casa onde viviam Clara, Sofia, Lizzie e Bia, os dias começavam cedo. Clara, empreendedora e estrategista de turismo, gerenciava pacotes de experiências culturais na América do Sul. Suas manhãs eram cheias de reuniões online, planilhas coloridas e WhatsApps trocados com parceiros da Argentina e do Uruguai. Sofia, formada em Filosofia e estudante de pós-graduação em Ciências das Religiões, dividia seu tempo entre leituras densas e rituais pessoais. Lizzie, trans em processo de hormonização, era aprendiz de costura e organizava o ateliê doméstico, onde criava lingeries sob medida. Bia, que deixou para trás o nome de batismo Marcos, cursava História e preparava artigos sobre política e afetividade de minorias.

Cada uma, imersa em sua rotina, orbitava em torno de um eixo comum: o afeto que as unia. E, silenciosamente, seus desejos e medos também se entrelaçaram.

Capítulo 2: A Confissão de Sofia e o Peso das Escolhas

Sofia despertava em noites de lua minguante com suor frio. Sabia que o amor por Jaime a colocava em uma encruzilhada emocional. A culpa por ter seduzido Lizzie a corroía, e foi numa dessas noites que confessou tudo a Clara. Esta, por sua vez, escutou com um misto de raiva, inveja e compaixão. Era uma verdade difícil de ouvir, mas compreensível em uma casa onde o amor não se encaixava em moldes tradicionais.

"Eu senti que, se eu não provasse aquele amor antigo com Lizzie, estaria sempre à margem da minha própria história", disse Sofia, com os olhos marejados.

Capítulo 3: O Diálogo sobre Religiões e Rituais

Clara procurava compreender os rituais que marcavam a alma de Sofia. E numa tarde quente, entre incensos e um banho de alecrim, Sofia revelou:

"Minha alma é filha de Pomba-Gira. Desde jovem aprendi simpatias com minha avó. Coisas simples, como colocar o nome do homem num papel enrolado com mel e deixá-lo sob a cama por sete noites. Dizem que amarra. Nunca testei com fé, mas ultimamente tenho pensado em experimentar... talvez com Lizzie e Bia. Não por maldade, mas para fortalecer o elo espiritual entre nós."

Clara arqueou uma sobrancelha, intrigada.

Sofia prosseguiu: "Na tradição da minha linhagem, essas práticas não são sobre controle, mas sobre atenção. Sobre tornar visível um desejo que quer ser vivido."

Capítulo 4: Os Rituais do Recomeço

Na virada da lua nova, prepararam um ritual que misturava ervas brasileiras, como guiné, arruda, alfazema e patchouli, com influências wiccanas e do paganismo nórdico. Desenharam um círculo no chão, espalharam pedras da lua e calêndula, e invocaram proteção, amor e prosperidade.

Bia entoava cânticos antigos enquanto Clara recitava trechos de poemas de Safo. Lizzie, emocionada, tingia suas vestes com vinho e lavanda. Sofia conduzia tudo, como se a casa fosse um grande templo. Não havia vergonha, apenas reverência.

Capítulo 5: A Reflexão de Clara

Clara escreveu no diário, naquela mesma noite:

"Descobri que somos uma família que desafia a lógica da lei. No papel, não existimos. Mas no afeto, somos sólidas. Precisaremos de um bom advogado se quisermos formalizar algo. Talvez por escritura pública, com cláusulas de união estável entre todas. Ou, quem sabe, com uma adoção cruzada, para assegurar os vínculos."

Ela suspirou e sorriu ao ver Lizzie cochilando no sofá, com os cílios alongados. "Essa é a minha casa. Essas são as minhas mulheres. E eu sou feliz."

Capítulo 6: Um Coração que Bate em Silêncio

Bia caminhava com passos leves. Observava Clara, sua musa inatingível, e arquitetava algo ousado: declarar seu amor. Tinha um plano.

"Vou escrever um texto, não romântico, mas verdadeiro. Um ensaio sobre amor em tempos de liberdade. Vou entregar a ela e deixar que escolha. Mas já comprei flores."
Capítulo – O Fio Vermelho das Intenções

Clara fitava Sofia com atenção. As palavras da companheira não eram apenas ecos de uma tradição ancestral, mas uma proposta de reconexão espiritual, de cura e de pertencimento. O desejo de envolver Lizzie e Bia em um ritual não era para prendê-las, como o nome popular sugere — mas sim para lembrá-las de que eram vistas, queridas e escolhidas dentro daquela rede de afetos. Clara sorriu com a delicadeza de quem compreendia: “Elas já se sentem amadas, Sofia. São mulheres que floresceram por conta própria, e talvez por isso estejam prontas para esse tipo de entrega simbólica.”

Sofia concordou com um aceno sutil, puxando um caderninho de anotações antigas. Explicou que, na tradição das mulheres de sua linhagem — herdeiras de saberes populares que cruzavam a umbanda, a wicca e a força vibrante das pombagiras — os rituais de intenção não eram sobre dominação, mas sobre alinhamento de desejos, laços e presença.

“Se não funcionar”, murmurou Sofia, “não importa. Teremos criado beleza. E elas sentirão a força de serem desejadas não como posse, mas como parte da roda.”

Clara, comovida, tocou-lhe a mão. “Então façamos juntas.”


---

O Ritual de Amarração do Fio Vermelho

Na noite seguinte, com a Lua em sua fase crescente — símbolo do fortalecimento dos vínculos — as quatro mulheres prepararam o espaço. O círculo foi desenhado com pétalas de rosas e sal grosso. No centro, quatro velas: vermelha, branca, amarela e lilás — representando o amor, a paz, a comunicação e a espiritualidade.

Sofia conduziu o rito com a suavidade de quem carrega memórias antigas. Bia e Lizzie estavam posicionadas ao centro, enquanto Clara e Sofia faziam pequenas tramas com fios vermelhos, trançando-os entre as mãos das duas.

Enquanto transavam, entoaram palavras sussurradas — versos de antigas simpatias reinventadas como declarações:

> “Laço que prende com ternura,
Nós não apertamos, mas seguramos.
Caminho cruzado com amor,
Que fique quem tem calor.”



Sofia pingou em cada uma das quatro velas algumas gotas de óleo de rosa e lavanda, enquanto Clara soprava folhas de louro secas sobre os ombros de Lizzie e Bia.

Depois, ambas foram ungidas nas têmporas com água de flor de laranjeira, símbolo da fertilidade emocional, e receberam fitas vermelhas amarradas nos tornozelos.

No silêncio reverente, sentiram-se parte de algo antigo e misterioso. A amarração não era física, nem definitiva. Era simbólica: um lembrete de que ali havia intenção, cuidado, reciprocidade — e, acima de tudo, escolha.


---

Epílogo do Capítulo

Mais tarde, enquanto todas se recolhiam, Clara fitou as mãos ainda cheirando a lavanda. Sofia estava sentada à janela, pensativa, com a lua refletida nos olhos. As duas se aproximaram, sem dizer palavra, e se abraçaram longamente. A casa, marcada por sombras e luzes de todas as cores, parecia respirar com elas.

Clara sabia que o amanhã traria desafios. Mas naquele instante, no ritual que unia o antigo ao presente, havia espaço para o amor em suas múltiplas formas. Não um amor de controle, mas de celebração. Um amor que se constrói.
Capítulo Seguinte – Tecelãs de um Novo Tempo

Na manhã seguinte ao ritual do Fio Vermelho, a casa despertava lentamente. Ainda havia o perfume adocicado das velas derretidas, a lembrança das músicas suaves que embalaram a noite e o sussurro das intenções recitadas. Cada uma das mulheres acordava com um novo tipo de sensação: uma mistura de acolhimento e responsabilidade.

Sofia foi a primeira a levantar. Dirigiu-se à cozinha em seus passos silenciosos, preparando um café com canela. Seus gestos eram atentos, meditativos. Ao ouvir passos atrás, sorriu antes mesmo de se virar. Era Lizzie, com os olhos ainda semicerrados, fita vermelha ainda presa ao tornozelo.

"Você dormiu bem?", perguntou Sofia.

Lizzie hesitou. Não queria falar da confusão interna que sentia: o rito, as palavras, a proximidade... tudo lhe causava um misto de alegria infantil e insegurança adulta. Mas respondeu com um sorriso e um "sim" quase sussurrado. Sofia estendeu-lhe uma xícara. Ambas beberam em silêncio.

Pouco depois, Bia e Clara se juntaram a elas. Clara estava visivelmente pensativa. Aproximou-se de Sofia e lhe disse:

"Ontem à noite, senti algo que não esperava. Aquela cerimônia me fez lembrar da importância de olhar nos olhos de quem caminha conosco..."

Bia completou: "...e de reconhecer que, mesmo com tanta dor no mundo, aqui dentro há paz."

Sofia olhou para todas com ternura. Sentia-se finalmente parte de um sistema de amor e acolhimento que ela mesma ajudara a construir, não como uma rainha ou líder, mas como uma ancestral viva de uma linhagem de mulheres que cuidam.


---

Capítulo Especial – Clara: Reflexões de um Centro Silencioso

Mais tarde, Clara afastou-se para escrever em seu caderno de capa preta. Suas anotações misturavam emoções, pensamentos e desejos para o futuro:

"Somos quatro. Não por falta, mas por transbordo. Amamos de formas diferentes, com intensidades que mudam. Nossos corpos não são moldes, mas mapas. E eu, Clara, estou no centro não porque domino, mas porque escuto.

Sofia é chama, é uma palavra que se recusa a ser silenciada. Lizzie é o eco da entrega, suavidade e coragem em flor. Bia é raciocínio e paixão embutida em carne nova. Jaime? Um cometa. Brilhou, provocou, alterou órbitas. Mas somos nós que permanecemos.

Não sei o que a lei dirá de nós, mas sei que podemos criar um pacto. Escritura não de cartório, mas de intenção. Uma família poliafetiva é, antes de tudo, um compromisso de cuidado. De fidelidade à escuta. E talvez, um dia, também de direitos."


---

Se desejar, posso seguir com os próximos capítulos focando nos desafios da lua minguante, no cotidiano profissional de cada uma das personagens, ou no desenvolvimento emocional de Bia e sua jornada amorosa com Clara.




O relacionamento entre Clara e Bia é um entrelaçamento delicado de afetos, desejos e identidades que desafiam normas estabelecidas. Clara, uma mulher cisgênero heterossexual, frequentemente rotulada de forma pejorativa por sua liberdade sexual, e Bia, uma mulher trans homossexual que se identifica como lésbica e se sente atraída por mulheres, compartilham uma conexão emocional profunda.

A tensão surge quando suas orientações sexuais distintas encontram limites na intimidade física. Clara sente-se atraída por homens, enquanto Bia, sendo lésbica, não compartilha desse desejo. Essa diferença cria fissuras na relação, especialmente quando expectativas não verbalizadas entram em conflito com realidades pessoais.

Estudos indicam que relações cis-trans frequentemente enfrentam desafios únicos, como a necessidade de renegociar corpos e desejos em um contexto que muitas vezes carece de referências sociais claras . A ausência de modelos tradicionais para tais relacionamentos pode ser tanto uma oportunidade para criar novas formas de conexão quanto uma fonte de insegurança.

A sexualidade feminina, incluindo a de mulheres trans, é frequentemente mais fluida, permitindo uma gama mais ampla de experiências e expressões . No entanto, essa fluidez não garante compatibilidade automática entre parceiros com orientações diferentes.


Capítulo – Entre Confissões e Laços Eternos
A lua crescente iluminava levemente o jardim dos fundos, onde Clara e Sofia, sentadas lado a lado em bancos de madeira antiga, partilhavam uma infusão de ervas doces. Era uma noite de introspecção, uma daquelas em que o tempo parece parar apenas para permitir que as almas se escutem com mais clareza.
Sofia iniciou a conversa, com os olhos voltados para o céu.
— Sabe, Clara… Às vezes, eu me sinto dividida. Tenho tanto amor dentro de mim, mas me vejo servindo a Jaime em tantos aspectos, por tantos dias, que acabo deixando Lizzie só. Ela é tão dedicada, tão doce na forma como me olha, como obedecer, mesmo quando não é ele quem manda. Às vezes ela até finge que é… só para me agradar.
Clara suspiro.
— Eu entendo, Sofi. Com Bia acontece o mesmo. Ela tenta ser forte, vive me enchendo de bilhetinhos, pequenas flores, textos… mas eu sei. Sinto a solidão dela. Esses dias eu me deixei levar por uma experiência intensa, um tipo de liberdade carnal que me trouxe prazer, mas também um certo vazio depois. E a primeira coisa que fiz foi procurar o colo dela. E lá estava Bia, com as mãos gentis, chá morno e um olhar que não julga. E mesmo assim, ela estava sozinha.
As duas se entreolharam em silêncio por instantes. O vínculo entre elas era antigo e forjado na dor, na paixão e na reconstrução de uma família nada convencional, mas profundamente verdadeira.
— Clara… — começou Sofia — e se… a gente unisse as meninas? Quero dizer... de verdade? Um ritual, mas não só simbólico… um momento de prazer, de entrega, onde elas pudessem se ver como irmãs, cúmplices, confidentes… amantes até, se desejarem. Sem imposição. Sem medo.
Clara inclinou a cabeça, os olhos acesos pela ideia.
— Um ritual de amarração… mas do coração. Com tons hedonistas, como você diz, mas com propósito. Para que quando estivermos distantes, elas tenham uma à outra. Para que aprendam que amar é dividir e somar, não competir.
— Isso! — exclamou Sofia — E com as bênçãos da nossa espiritualidade. Um círculo de proteção, as ervas certas, as cores e aromas que ativam os sentidos. A doçura do toque, o acolhimento dos corpos… tudo dentro do que for consentido. Um encontro entre mulheres, com respeito, desejo e conexão.
Clara sorriu.
— Vai ser lindo. Quero ver Lizzie mais segura, mais entregue. E Bia… ela é tão intensa, tão sensível… merece alguém que a veja como ela é. E que esteja com ela quando eu não puder.
Sofia completou:
— Que nossas aulas sejam também nossas irmãs. E que nunca mais se sintam esquecidas, porque o amor… é o fio que costura todas nós.
E assim, sob o brilho da lua crescente, nasceu a ideia de um novo ritual. Não apenas um encontro mágico, mas uma celebração da união e do amor possível entre quatro almas que ousaram viver segundo seus próprios termos — com doçura, entrega e coragem.
Ritual do Enlace Lunar

Naquela noite, Sofia preparou para elas o “Ritual do Enlace Lunar”, inspirado em tradições da Wicca e em rezas do catimbó, resgatando a força do feminino sagrado.

No centro do quarto, flores de hibisco, ramos de manjericão e três velas coloridas foram dispostas em um círculo de sal e lavanda. Cada vela representava uma delas: Clara, Bia e Sofia.

Sofia conduziu a cerimônia. Pediu que se sentasse de frente umas para as outras, unissem as mãos e entoaram um cântico simples:

> “Que o véu da dúvida caia,
Que a carne abrace a alma,
E que o amor, por onde passe,
Deixe um rastro de calma.”



Ao final, compartilhou que cada amor é um enigma, e que rituais não são fórmulas mágicas, mas símbolos da intenção que carregamos. Que Bia e Clara poderiam encontrar, no meio do caminho, uma forma de pertencimento — com ou sem nome, com ou sem corpo.

As três adormeceram de mãos dadas, sob a luz prateada da lua.

Capítulo: O Enlace das Aias

A lua crescente derramava sua luz prateada sobre o jardim interno da casa, onde as quatro mulheres se reuniam para um ritual que uniria os laços afetivos entre aquelas que, por vezes, se viam à margem dos grandes gestos, mas nunca fora do coração do lar.

Sofia e Clara prepararam o espaço com ramos de arruda, lavanda e flores vermelhas. Em cada canto, um pequeno caldeirão com óleos perfumados exalava aromas de patchouli, jasmim e almíscar. O círculo fora traçado com sal grosso, pó de hibisco e carvão vegetal.

No centro, Lizzie e Bia estavam ajoelhadas, vestidas com finas túnicas brancas, amarradas delicadamente por cintos de cetim vermelho. As duas trocavam olhares cheios de ternura, mas também de expectativa e entrega. Era uma noite de consagração.

Sofia se aproximou de Lizzie e lhe ungiu a fronte com o óleo da abertura dos caminhos. Clara fez o mesmo com Bia, utilizando o óleo do amor profundo. As esposas entoaram um canto suave, inspirado em tradições wiccanas e folclóricas brasileiras, invocando a energia da Deusa-Mãe para abençoar o novo vínculo.

— Vocês nunca mais estarão sozinhas em nossas ausências — disse Sofia, com voz firme, mas acolhedora. — Serão irmãs de coleira. Aliadas de alma.

Clara sorriu e completou:

— E mais que isso: serão amantes e guardiãs uma da outra. Sejam internas, sejam selvagens, sejam sagradas.

As túnicas foram retiradas com reverência. Um banho cerimonial foi então realizado. Ao invés de água comum, as esposas usaram infusões de rosas, alecrim e alfazema, aplicadas com panos macios embebidos, tocando com leveza os ombros, pescoços, pernas e costas das aias. A cada toque, uma bênção era pronunciada:

— Que este corpo conheça o prazer da companhia segura... — Que esta pele recorde que é digna de afeto... — Que este ventre abrigue apenas amor e consolo...

O momento foi selado com a troca de amuletos: Lizzie recebeu de Bia uma pequena pedra da lua, presa a um cordão negro; Bia ganhou de Lizzie um anel de madeira com um pequeno círculo vermelho gravado, como um selo ancestral.

As duas, com as testas encostadas, respiravam profundamente. O ambiente estava saturado de energia simbólica e desejo contido, mas permitido. O prazer ali era espiritual e emocional. Quando Clara e Sofia assentiram em silêncio, Lizzie e Bia se tocaram com o carinho das flores que se curvaram ao vento.

Era a consumação de um elo afetivo, uma intimidade que dispensava pressa. Cada gesto tinha intenção, cada suspiro tinha nome. E em todo o tempo, os olhos se procuravam, buscando a aprovação das esposas, que sorriram e assentiram com amor.

Quando o círculo foi desfeito, todas se reuniram para um banho coletivo de ervas, em uma bacia grande de cobre. Ali, limparam os excessos, abençoaram os sentimentos e celebraram mais uma etapa do ciclo afetivo daquela casa.

O ritual se encerrava, mas os efeitos perdurariam: no corpo, na memória e na alma. E, sobretudo, no futuro. Pois agora, mesmo nas ausências, haveria presença. Mesmo nas sombras, haveria calor.

E as aias, enfim, eram amantes sob as estrelas.



Capítulo XLV – O Círculo de Lavanda e Sangue
Na noite do sabbath, Clara desenhou com sal negro o círculo ritual ao redor da cama de lençóis cor vinho. Sofia acendia as velas conforme os pontos cardeais: amarelo para o leste, vermelho para o sul, azul para o oeste e verde para o norte. Lizzie e Bia estavam nuas, cobertas apenas com véus de organza translúcida. A música vinha suave, tocada por sinos de vento e suspiros antigos.
No centro do círculo, Clara invoca a Deusa Tríplice – Donzela, Mãe e Anciã – com uma taça de vinho tinto e uma adaga cerimonial. O vinho representava o sangue cíclico, a adaga o desejo. Todas deitaram-se em posições espelhadas, os corpos entrelaçados como trepadeiras em flor.
Os toques eram lentos, ofertados como orações. Lizzie beijava os pés de Clara com gratidão mansa. Bia untava os seios de Sofia com óleo de sândalo, murmurando encantos. Clara as guiava como uma sacerdotisa, onde cada gemido era feitiço, cada carícia, uma oferenda. E ali, entre cheiros de patchouli, umidade sagrada e o calor do altar, o prazer tornou-se transcendência.
Capítulo XLVI – As Noivas da Lua
No terceiro dia de lua cheia, as quatro saíram ao bosque. Usavam apenas rendas brancas, colares de dentes de cristal e os cabelos trançados com flores de jasmim. No centro da clareira, ergueram um altar com frutas, sementes, conchas e espelhos. Ali, selaram o pacto do sangue e da entrega.
Clara tomou um punhal de obsidiana. Cortou levemente o pulso esquerdo e pingou três gotas sobre cada boca ajoelhada diante dela. Em retribuição, Lizzie, Bia e Sofia fizeram o mesmo. Depois, uniram os pulsos sobre a terra e entoaram:
'Que o que sangra, também floresça. Que o que arde, também cure. Que o que se oferece, seja honrado.'
Beberam vinho de hibisco em cálices de pedra. Queimaram pedaços das roupas antigas. E dançam, nuas e perfumadas, sob o luar, enquanto Clara dizia:
— Somos noivas da Lua. E nossos votos se cumprirão nos corpos que tocamos e nos silêncios que guardamos.
Capítulo XLVII – O Sopro da Deusa
Na madrugada seguinte, Clara acordou com os corpos entrelaçados como raízes. Bia sonhava em voz alta, Lizzie gemia baixinho, Sofia tremia sem frio. No ar, o cheiro de alecrim e suor divino.
Levantou-se e foi até a varanda. A lua começava a partir. Ela sabia: a Deusa havia aceitado o pacto. Uma coruja cantava ao longe. Os seios ainda úmidos, as coxas marcadas por bocas de amor. Sorriu. Era sacerdotisa e oferenda. Era altar e chama.
Ali, sob a brisa da manhã e o sussurro das folhas, Clara prometeu a si mesma: guiaria as sombras com luz. E faria do prazer o mais puro dos encantamentos.
Vamos desenvolver essa narrativa de forma sensível, simbólica e erótica, mantendo o foco no translesbianismo, na poética do corpo, no desejo e na fertilidade, com elementos de analogia científica e ritual sensorial. Abaixo segue a primeira parte do capítulo, com o tom e o estilo solicitados. Caso deseje, posso continuar o desenvolvimento em partes seguintes.

Capítulo – O Círculo da Carne e da Lua
Sofia era sempre a que falava por entre os silêncios. Sua voz não surgia por imposição, mas como uma tradução natural do que os corpos não ousavam dizer de imediato. Na penumbra púrpura do quarto aromatizado com lavanda e hortelã, ela desenhava com palavras o que os dedos ainda hesitavam em tocar.
— O cheiro... — disse, inalando devagar — ...é de musgo quente e flor aberta depois da chuva. Tem algo de sagrado entre vocês. Uma dança líquida, uterina, quase geológica...
Lizzie e Bia estavam entrelaçadas com duas raízes antigas que se encontram no fundo de um lago. O consolo duplo, translúcido e perolado como um cristal lunar, era apenas uma ponte — uma extensão de suas intenções mistas: firmeza e entrega. Bia arfava com os olhos fechados, as coxas marcadas por calafrios e pequenos tremores de antecipação. Lizzie, com seu olhar felino e terno, guiava os movimentos com uma precisão que lembrava o pulsar de uma estrela binária: duas forças orbitando em um mesmo desejo, mas sem perder a autonomia.
Sofia continuava sua descrição, agora mais devagar, como se estivesse observando um ritual de acasalamento entre divindades.
— É como se as paredes do útero pulsassem em ressonância com o cheiro das cerimônias de vocês. O ar está saturado de histaminas, ocitocina... um cheiro doce, ácido e redondo como um figo maduro prestes a explodir.
Ela se inclinou, sentindo o calor subir pela espinha.
— Existe uma ancestralidade no que vejo... como se os ovários entendessem que é tempo fértil, que as células já se alinharam à espera. Os corpos sabem. Os hormônios sabem. Mesmo que a razão finja ignorar...
Bia gemia como quem se desfaz de uma couraça antiga. Lizzie mantinha o ritmo — não rápido, mas constante — como o tique-taque de um relógio encantado. Cada impulso era uma convocação. E o consolo, vibrando entre ambas, era menos um objeto e mais um eco de suas respirações partilhadas, úmidas, gritantes, cósmicas.
Foi então que Clara, até então nua sobre um lençol de linho e pétalas, levantou-se em meio ao calor e sussurros. Seu ventre tremia, mas seus olhos eram firmes.
— Eu estou pronta... — disse, com voz baixa e ritualística. — Quero ser fertilizada. Mas dessa vez, não será com seringas ou copinhos escondidos sob a cama.
Ela caminhou até Lizzie e pousou a mão sobre seu pulso.
— Quero você. Natural. Selvagem. Sagrada.
O ar se rarefaz. Bia, ainda sentindo a vibração interna, sorriu com os olhos semi cerrados, como quem entende que há tempo para todos os ritos — e que esse, agora, era da terra.
Lizzie fitou Clara e, pela primeira vez naquela noite, sua postura se quebrou. Ela se ajoelhou diante da outra e tocou-lhe o ventre com as duas mãos, como uma benzedeira, como uma cientista, como uma amante.
— O teu endométrio está em festa — murmurou, em reverência. — E eu... serei tua semente viva.
A luz da lua, que atravessava a cortina de renda, desenhava mapas sobre os corpos. As palavras cessaram. O tempo, ali, era uterino: cíclico, líquido, cheio de promessas biológicas e orgasmos místicos.

Vamos prosseguir com a narrativa, aprofundando os elementos hormonais e fisiológicos implicados no corpo de Lizzie, e a forma como isso afeta — e intensifica — a entrega entre as quatro. A ambientação permanece sensorial, poética e cientificamente simbólica, com toques de erotismo psicológico e cumplicidade emocional.


---

Capítulo – A Fertilidade das Marés Internas

No silêncio espesso que antecede um novo mundo, o corpo de Lizzie tremia. Não de medo, mas de carga — carga hormonal, simbólica, cósmica. Seu sangue, naquele momento, era um santuário em ebulição. As taxas elevadas de estradiol e progesterona a tornavam mais sensível ao toque, mais perceptiva aos odores, mas também mais vulnerável à sobrecarga emocional e física. O acetato de medroxiprogesterona, conhecido por todas ali como Depo-Provera, agia como uma cortina interna — dificultava ovulações, inibia respostas reflexas do útero e apagava, em parte, os mapas biológicos da fertilidade tradicional.

Mas Lizzie não era feita de convenções. Seu desejo era ancestral, e sua entrega, absoluta.

Sofia foi a primeira a perceber. Tocou-lhe o pescoço com as pontas dos dedos e sussurrou com a doçura de uma pesquisadora do afeto:
— O teu corpo está em luta... teu útero está como uma flor presa entre dois invernos. Mas nós somos primavera.

Bia, ainda ofegante, se aproximou pela lateral. Beijou-lhe o ombro com ternura e lentamente desceu os lábios pelas costas nuas de Lizzie, como se redesenhasse nela um novo mapa sensorial.
— A fertilidade, meu amor... não é apenas hormonal. É também desejo, é conexão, é intenção. — E então, com um sorriso sutil: — E é também técnica.

Enquanto isso, Clara preparava o altar do seu ventre. As pernas entreabertas, o quadril elevado sobre almofadas de algodão e pétalas de hibisco, os mamilos duros sob a renda translúcida. Ela não estava apenas disponível. Ela estava convocando Lizzie.
— Entra em mim — disse, com a voz embargada. — Mas não com pressa. Quero teu corpo inteiro me pedindo permissão.

Lizzie caminhou até ela, mas suas pernas vacilaram. A pressão hormonal acumulada — que inibia os ciclos ovulatórios e também os reflexos de lubrificação e excitação física — tornava sua resposta mais lenta, mais trabalhosa.
O clitóris estava hiperreativo. A genitália, sensível ao toque, mas retraída. A penetração, que parecia uma promessa próxima, ainda estava longe da realidade.

Então começou o ritual de carinho absoluto.

Sofia ajoelhou-se diante de Lizzie e começou a massagear-lhe as coxas internas com óleos aquecidos de gerânio e sândalo, que agiam não apenas como afrodisíacos naturais, mas também como ativadores de circulação periférica.
— Estamos criando um campo elétrico em ti — disse —, um campo magnético de prazer, como o campo fértil que antecede a tempestade.

Bia subiu devagar por trás, envolvendo Lizzie com os braços, sussurrando em seu ouvido palavras suaves, erotizadas, mas também de apoio:
— Você pode. Seu corpo não é um obstáculo. Ele é o próprio milagre.

Clara, com os dedos mergulhados em mel e água de rosas, começou a se preparar, lentamente, tocando-se em sincronia com o ritmo respiratório de Lizzie.
— Vem. Me fecunda com tua força transmutada. Quero a tua alma líquida dentro de mim.

Lizzie, guiada por todas elas, começou a reagir. Lentamente, seu corpo respondia aos estímulos. Os músculos do períneo se relaxavam. A vascularização aumentava. A glande interna se projetava com desejo. Era uma ereção não violenta, não forçada — era um brotar.

Clara abriu-se.

E Lizzie, envolta em suor e encantamento, posicionou-se.

A penetração foi como um eclipse lunar: lenta, exata, cheia de significados. As contrações pélvicas de Clara recebiam Lizzie como um templo de carne. O calor uterino a acolhia com fome, como se quisesse derreter o corpo dela e sorver em cada dobra.

O primeiro impulso foi de Lizzie.
O segundo, de Clara.
O terceiro, um murmúrio coletivo.

Sofia descrevia, com olhos entreabertos e mãos em oração:
— A fertilidade é um pulso. As paredes do útero de Clara estão pulsando como um tambor cerimonial. Teu sêmen não é apenas fluido — é verbo, é memória genética, é aceitação radical do feminino transbordado em potência.

Bia chorava. Mas sorria.

E quando Lizzie finalmente se entregou — com espasmos e gritos abafados entre os beijos —, algo mudou no ar. Clara gritou como quem recebe uma divindade dentro de si. Era prazer, era dor, era vida.

Ali, entre elas, a ciência e o sagrado se fundiam. Cada contração uterina de Clara era como uma célula decidindo ser mais do que célula — era o início da possibilidade.

Lizzie caiu sobre o ventre dela, exausta, amada, plena.

Sofia se deitou ao lado e sussurrou:
— Agora o tempo está plantado.
Claro. Agora seguimos com a continuação da narrativa: o pós-rito, os efeitos fisiológicos, hormonais e emocionais, o vínculo simbólico entre as quatro, e os cuidados envoltos em gestos ternos, quase sagrados. A linguagem continua sensorial, poética, com analogias científicas e um erotismo sutil, emocionalmente envolvente.

Capítulo – Depois do Sopro: Corpo, Ciência e Magia
O quarto não era mais o mesmo.
A cortina oscilava em câmera lenta, como se respeitasse o ritmo daquilo que acabara de acontecer. O cheiro do amor, da carne, dos óleos e dos fluidos, pairava no ar com densidade quase visível. Um aroma entre o ferro do sangue, o açúcar do sêmen e a baunilha uterina.
Clara estava imóvel, mas seu ventre parecia vivo — vibrava sob a pele como se uma pequena fogueira estivesse acesa ali dentro. Lizzie permanecia deitada sobre ela, ainda ofegante, com as pálpebras semi abertas e as bochechas levemente rosadas.
O fluxo hormonal pós-orgasmo no corpo de Lizzie era intenso, mas paradoxal. O estradiol, que tantas vezes agia como bloqueio de desejo nos dias de tensão, agora ativar seus efeitos pós-coito com potência: fazia os poros se abrirem, a pele aquecer, os mamilos endureceram mais uma vez, não por desejo imediato, mas por estado de graça química.
A medroxiprogesterona do Depo-Provera ainda circulava, mas algo estava diferente. O corpo de Lizzie sentia, pela primeira vez, que não era somente objeto de barreira — mas também de transgressão da própria biologia.
Sofia, com olhos de quem assistira ao sagrado, tocou de leve o ventre de Clara.
— A mucosa cervical está em festa. Consegues sentir? — sussurrou. — O muco mudou. A acidez do canal diminuiu. Há receptividade. Você está pronta. Vocês duas se atravessaram.
Clara sorriu com os olhos úmidos.
— Eu não fui apenas penetrada. Eu fui celebrar. Recebida como solo fértil.
Bia, com um cobertor de linho entre os braços, se aproximou e envolveu Lizzie e Clara com cuidado, como quem protege uma semente recém-plantada da geada.
Ela ajoelhou-se e beijou a coxa de Lizzie, depois sua barriga.
— Você foi guerreira. Você ultrapassou os limites de uma farmacologia fria e devolveu ao teu corpo o que é só teu: o poder da entrega.
Lizzie sorriu, exausta, com um brilho que misturava prazer e vulnerabilidade.
— Eu achei que não ia conseguir. Meu corpo... às vezes não me obedece. Às vezes parece tão artificial. Mas hoje ele foi extensão da minha vontade.
Sofia completou, acariciando o rosto dela:
— Teu corpo foi a poesia de carbono.
Foi resistência e revolução.
Mesmo com os níveis de progestágenos tentando impedir, seu corpo ouviu o chamado ancestral.
Clara ainda sentia o sêmen cálido dentro de si — não como um líquido qualquer, mas como presença.
— Me sinto cheia. Cheia de algo que não é só biológico... — sussurrou.
Ela passava os dedos sobre a própria barriga, como quem cultiva. — É como se meu útero tivesse escutado seu nome, Lizzie. Como se quisesse gravá-lo no que ele vai construir.
Todas permaneceram assim, por longos minutos.
Silêncio não de ausência, mas de reverência.
Então Bia levantou-se. Pegou uma tigela com frutas cortadas, mel e água com hibisco.
— Agora, nutrimos o corpo. Não se planta em solo exausto.
Sofia passou a massagem para os pés de Lizzie. Cada toque era uma afirmação:
“Você está aqui. Você venceu os obstáculos hormonais. Você é mulher, não apesar do que carregas, mas exatamente por isso.”
Clara dormia devagar, já envolta em seu casulo fértil.
E Lizzie, olhando o teto com os olhos marejados, disse em voz baixa:
— Se um dia um embrião crescer em ti, Clara… ele vai ter vindo da parte de mim que mais ama viver. Porque só o amor seria capaz de quebrar a lógica do Depo-Provera.
Sofia riu baixinho.
— Um espermatozóide é um poema com cauda. E hoje, tua poesia foi escrita com luz.
Vamos então à sequência do desfecho simbólico — um novo ato de amor, onde o desejo e a potência se renovam sob outros gestos, outras dinâmicas, mas com a mesma entrega profunda. O que se segue é o rito de reversão de forças: Sofia se arma em carinho e firmeza, Lizzie se oferece em carne e alma, Clara encontra no nome de Jaime um canal arquetípico que não nega, mas integra o masculino em sua forma mais ritual e uterina. A poesia do corpo continua a ser escrita com desejo e ciência.

Capítulo – O Falo da Aurora
A madrugada ainda pairava entre véus, mas o corpo de Lizzie pedia mais. Não em instinto bruto, mas em precisão hormonal e vontade interna. O primeiro ato fora consagração. Este agora seria impulso.
A progesterona ainda fazia resistência dentro dela. Seu sistema nervoso pélvico, entorpecido pelos meses de medicação, precisava de estímulos profundos, diretos, simbióticos. O clitóris interno demandava toque constante, a região anal pulsava como outra fronteira de prazer ainda não saciada.
Sofia percebeu. Como sempre, antes das palavras.
Ela surgiu da penumbra já vestindo o arnês, de couro leve e renda escura, com um falo de silício de tom cor de âmbar, curvo e espesso, com textura que imitava veios orgânicos. Um objeto vivo entre as pernas dela — não em carne, mas em intenção.
— Agora é a minha vez de abrir caminho pra ti — sussurrou, ajoelhando-se diante de Lizzie.
Lizzie, ainda entre a exaustão e o encantamento, ergueu o quadril lentamente. Seus olhos ardiam de expectativa.
— Me penetra como se fosse meu chão. Como se tua força despertasse em mim o que ainda dorme.
Sofia não hesitou. Puxou Lizzie com doçura pelos quadris e a posicionou sobre o divã, apoiando as coxas sobre almofadas.
Com uma mão, guiava o falo entre os glúteos de Lizzie. Com a outra, massageava a base da coluna, onde as terminações nervosas se acendiam como fogos elétricos.
— Cada centímetro que eu entro em ti é também tua força sendo acordada. Teu músculo pubococcígeo vai me reconhecer. Vai pulsar comigo.
O primeiro toque foi lento. A glande artificial pressionava o anel nervoso como uma chave num cadeado de veludo. Lizzie gemeu, mordendo os lençóis.
O segundo movimento foi mais fundo — e fez seu quadril se mover involuntariamente.
O estímulo anal era mais do que carnal.
Ativa o nervo pudendo, que dialogava com o clitóris interno e a próstata residual. Era ciência do desejo, mapeada na pele.
Sofia aumentava o ritmo com elegância. Seu corpo inteiro era uma máquina de prazer a serviço de Lizzie.
— Sente como sua glande cresce? — murmurava entre os estalos dos quadris.
— Tua ereção está vindo da alma, Lizzie. Está vindo da tua aceitação.
Entre os gemidos baixos, Lizzie começou a endurecer. Seu membro, antes tímido, agora apontava para frente com vigor, pulsando como uma flor que finalmente abriria.
Do outro lado do quarto, Clara estava ajoelhada diante de Bia. Os dedos entrelaçados, os peitos nus colados, as bocas se tocando entre choros e risos.
— Eu quero ele, Bia — disse, entre gemidos e lágrimas. — Eu quero Jaime…
Bia não recuou. Beijou os olhos dela.
— Então clame. Ele está em ti. Ele está em mim também. O masculino não é ausência. É espelho.
Clara gritou:
— Jaime!
E sua vulva se abriu em calor líquido. Bia a beijava entre palavras, com doçura sagrada.
— O nome que te abre é o nome que te empodera. Ele é seu arquétipo. E Lizzie... Lizzie é a encarnação dele agora.
Sofia então retirou-se suavemente de Lizzie, que tremia entre lágrimas e êxtase.
— Agora vai — sussurrou. — Vai e fecunda teu destino.
Lizzie caminhou em direção a Clara, seu membro ereto com intensidade inédita, a mente clara como a manhã que despontava.
Ela se ajoelhou entre as pernas dela. Clara abriu-se por completo.
— Me planta em ti, Lizzie. Como Jaime plantaria. Como tu mesma és, agora, sem precisar deixar de ser quem és.
O segundo caso foi diferente: mais preciso, mais profundo. Clara segurava Bia pelas mãos. Os corpos se curvaram.
Penetração firme, ritmada.
Utero receptivo.
Mucosa dilatada.
O muco fértil escorrendo em rios.
E no momento do gozo de Lizzie, o nome de Clara ecoou com toda a força da criação.
Bia chorava.
Sofia sorria.

Epílogo – Cuidados e Ciclos
Após o último ato, houve o banho coletivo. As quatro se lavaram em silêncio, com água morna de ervas, alecrim e verbena.
Os seios eram massageados. Os cabelos trançados com ramos de hortelã. Clara passou a noite com uma leve elevação pélvica, o ventre aquecido por uma bolsa de sementes.
Sofia monitorava tudo: temperatura basal, sensação de corpo lúteo, secreções pós-coito.
— As chances são reais. — disse. — E mesmo que não seja agora, o rito aconteceu. A fecundação pode ser mistério, mas o amor… esse já está implantado.
Lizzie, com os olhos fechados, disse:
— Se uma criança vier, ela será filha da ciência, do desejo e da flor que se abre quando ninguém mais acredita no milagre.
E assim, com os corpos entrelaçados ao amanhecer, elas dormiram.
O falo agora repousava ao lado do altar de velas.
Mas a semente… essa já tinha nome.
Perfeito. Agora entramos em um novo arco: o impacto emocional e social do ato, e a construção de um pacto de abstinência sexual que reorganiza não apenas as relações entre as quatro, mas também suas identidades, desejos e os vínculos que emergem. Esta fase da narrativa propõe uma suspensão ritual do prazer imediato, criando tensão, reconfiguração e autoconhecimento — e revelando, de maneira poética e sensível, como o corpo continua sendo um território político e espiritual.


---

Capítulo – A Quietude Entre as Marés

Na manhã seguinte, após a limpeza ritual e os sorrisos adormecidos, houve silêncio. Mas não era vazio — era pacto.

Clara, ainda deitada, sentiu o peso do que acabara de acontecer. Em seu ventre, talvez já repousasse o início de uma nova vida. Mas não era o possível embrião que a inquietava, e sim a responsabilidade simbólica de seu gesto. Ela sabia: para que algo verdadeiramente nascesse, seria preciso pausa. Fertilidade, afinal, não era só ação — era também contemplação.

Na varanda, entre folhas de chá e pães de ervas, Lizzie propôs em voz firme:
— Que façamos um pacto. Um tempo sem sexo, sem penetrações, sem rituais. Um tempo de integração.

Sofia arregalou os olhos, mas não com surpresa.
— Um jeito da carne? — disse, arqueando uma sobrancelha. — Isso vai me quebrar.
Depois mordeu um pedaço de fruta e completou, suspirando:
— Mas talvez eu precise mesmo ser quebrada.

Clara assentiu.
— Se eu gostar... será em silêncio e entrega. Sem distrações do corpo. Sem vícios de prazer.

E Bia, a mais inquieta entre elas, hesitou. Olhou para Lizzie, depois para Sofia, e por fim para a própria companheira de impulsos, de brincadeiras, de mordidas e arranhões: Sofia.

Era conhecido entre elas: quando ficavam sozinhas, Bia e Sofia se transformavam.
Riam baixo, latiam em gemidos, roçavam-se com pressa e tesão. Era o modo dogwoman, como se apelidavam rindo, um pacto lúdico de desejo animal e ternura desvairada.
Mas agora...?

Sofia foi direta.
— E quando estivermos sozinhas?
— Nem lambidas? — completou Bia, já enrubescida.

Lizzie respondeu com um tom calmo, mas firme.
— Nem.
— Se o desejo vier, acolham. Mas não satisfaçam. Transformem-no. Escrevam. Corram. Dancem. Transmitem.
— Isso é mais do que abstinência. É alquimia.

Bia bufou, mas olhou para Sofia com os olhos baixos.
— Então agora somos aias... sem fio.

Sofia aproximou-se dela, mordeu-lhe o pescoço com carinho e murmurou:
— Ainda somos fêmeas. Mas agora... em vigília.

Clara, porém, teria outro desafio.

Seu namoro com Carol — uma relação à parte, paralela e nem sempre equilibrada — começava a desmoronar diante da intensidade que o pacto exigia. Carol, que desconhecia os detalhes do ritual, percebia o afastamento com ciúmes e desconfiança.

— Por que teu corpo me rejeita? — perguntou, dias depois, entre lágrimas e revolta.
Clara não soube o que dizer. Apenas chorou.
— Porque ele já está comprometido. Não só com Lizzie, mas com algo maior. Uma espera. Uma semente.

Carol não entendeu.
E se afastou.

Sofia, por outro lado, começou a sofrer em silêncio. Os impulsos eram diários. À noite, tinha sonhos vívidos: corpos úmidos, línguas entrelaçadas, arrepios que acordavam com os lençóis colados ao suor.
Ela anotava tudo em seu caderno de vigília.
Frases soltas:
“Minha vulva é um tambor oco.”
“Lizzie no altar. Eu no cio.”
“Abstinência não é ausência. É presença à flor da pele.”

Bia, por sua vez, mergulhou em um estado híbrido entre revolta e adoração. Sentia falta das brincadeiras caninas com Sofia. Dos latidos abafados, das poses de cadelinha carente.
Mas também começava a perceber algo novo: o amor sem descarga.
O desejo retido como flor que não murcha, mas arde em botão.

Às vezes se deitava no chão, nua, usando uma coleira de veludo, apenas para lembrar:
— Ainda sou tua pet. Só não posso te morder agora.

Lizzie, por fim, mergulhou num silêncio maternal. Caminhava pela casa com calma, olhava Clara de longe com ternura e orgulho. Tocava-se apenas por autocuidado, sem erotismo, como quem prepara um corpo para proteger outro.
O falo artificial permanecia guardado em tecido de algodão, como uma espada em repouso.


---

Epílogo do Capítulo – A Alquimia da Contenção

Quarenta dias.
Esse era o tempo que haviam prometido.

Quarenta luas sem carne.
Quarenta madrugadas de gemidos silenciosos.
Quarenta manhãs de beijos que paravam na testa.

Mas sabiam — todas sabiam — que esse tempo não era perda.

Era amadurecimento.
Era a pausa entre as contrações.
Era o intervalo fértil onde a alma, como o útero, decide se quer mesmo gerar algo novo.
Perfeito. A seguir, continuamos com o encerramento do pacto de abstinência, os efeitos emocionais e físicos dessa jornada sobre as quatro mulheres, o destino de Clara (gestação ou não), e o reencontro erótico entre Sofia e Bia — agora mais profundo, transformado pela espera, pelo silêncio e pelo amor maturado.


---

Capítulo – A Flor que Espera o Orvalho

No quadragésimo primeiro dia, o céu amanheceu úmido. Uma névoa cobria os vidros da varanda como um véu tênue, quase sensível ao toque. Clara acordou antes de todas. Sentia algo diferente no corpo — não enjoo, nem dor, mas uma espécie de vibração uterina sutil, como se suas células chamassem pelo mundo.

Desceu até a cozinha e tomou o chá de hibisco frio. Tocou o ventre com a mão direita e fechou os olhos.

— Estou pronta para saber — disse, em voz baixa.

Lizzie surgiu logo atrás. Trazia consigo o envelope com o teste de gravidez feito em laboratório. Os olhos estavam serenos, mas havia um nó no queixo, como quem tem fé, mas também medo.

— Abre você. — disse, entregando.

Clara abriu. Respirou fundo. Leu. Chorou.

Positivo.

Chorou como quem é atravessada.
Como quem entende, enfim, que há vida em si, e essa vida carrega em sua origem a junção de várias.
— Eu sou um templo agora. E esse templo é habitado.

Lizzie caiu de joelhos diante dela. Beijou o ventre com reverência.
Sofia e Bia chegaram minutos depois. Olharam. Entenderam sem perguntar.

Naquela manhã, o pacto foi encerrado. Não com gritos, nem com gemidos. Mas com quatro corpos nus sentados em círculo, mãos dadas sobre o ventre de Clara, olhos fechados em oração laica.


---

Capítulo – O Reencontro das Aias

Sofia e Bia não esperaram mais do que algumas horas.

Subiram as escadas juntas, mudas, com as pupilas dilatadas. A tensão acumulada das últimas semanas transbordava por cada poro. Bia, que passara dias se arrastando pelo chão em silêncio, agora voltava a latir baixinho, de forma brincalhona, ansiosa.

Sofia trancou a porta, tirou a camisa e permaneceu de pé.

— Anda. Vem pra dona. — disse, com um sussurro de comando.

Bia caiu de joelhos no mesmo instante. Passou a língua nos pés de Sofia, como uma marca de posse. Sofia segurou-a pelos cabelos, com firmeza, mas também com ternura.
— Quero ver tua dor e teu gozo. Porque os dois amadureceram.

Despiu-se. Vestia o arnês com o falo negro, curvo, mais grosso que o anterior — símbolo de que esperara muito, e agora era tempo de recomeçar.
— Fica de quatro, aninha. Vou te abrir como flor ao meio-dia.

Bia obedeceu. A postura era de submissão, mas o olhar era de fome. Sofia se ajoelhou atrás dela, esfregou o membro nas coxas, depois na vulva latejante.
— Está molhada. Está pronta.

A penetração foi lenta, mas intensa. Cada centímetro era como uma devolução.
Sofia movia-se com domínio. Bia gemia com gratidão. Os quadris batiam, suavam, cantavam uma música sem letra.

— Isso é tua recompensa — dizia Sofia. — Mas também é tua punição. Esperamos muito. Agora vamos queimar tudo que seguramos.

Bia chorava enquanto gozada. Tremia como cadela em frenesi. Sofia a abraçava por trás, beijava-lhe a nuca entre os estalos, dizia baixinho:

— Ainda sou tua alfa. Mas agora... sou também sua devota.

E ao final, ambas deitadas, suadas, sem palavras, sentiam a terra sob o colchão girar.
Nada seria como antes.


---

Epílogo – O Tempo da Vida

Clara seguiu a gestação com doçura e rigor. Lizzie cuidava de sua alimentação, preparava os chás certos, lia em voz alta para o ventre.
Sofia e Bia voltaram a se amar, mas agora com outro grau de consciência — sabendo que o prazer não nasce só do toque, mas também da espera.
Às vezes, brincavam de dogwoman. Às vezes, rezavam nuas.

O círculo se manteve.
Mais do que amigas, era um pacto.
Mais do que amantes, eram linhagens.

E quando, meses depois, o primeiro choro do bebê ecoou no quarto banhado de luz âmbar, Lizzie disse, com voz baixa e firme:

— Não foi um milagre.
— Foi desejo.
— Foi ciência.
— E foi amor... com tempo para germinar.
Capítulo XLVIII – As Filhas, o Futuro e a Travessia
O parto veio na primavera, quando as lavandas voltaram a florir. Clara e Lizzie, lado a lado, seguravam as mãos uma da outra enquanto os choros das gêmeas ecoavam pela casa. Foram batizadas na clareira do bosque, em meio a folhas de louro e murmúrios de bênçãos: Sofia e Beatriz — em homenagem às mães que lhes deram mais que sangue, deram história.
A casa, já pequena para tantos rituais, risos e silêncios, deu lugar a uma morada maior, com varanda de frente para as montanhas e jardim de ervas. Clara e Sofia, agora sócias da “Raízes do Ventre — Turismo de Reconexão”, ampliaram os roteiros: vulcões sagrados, trilhas da Deusa, noites de tantra natural em aldeias de mulheres. A empresa prosperou. O CNPJ estampava os dois nomes, mas o coração era coletivo.
O processo de registro das quatro mães foi lento. Houve resistência. Mas a jurisprudência abriu caminhos com base na multiparentalidade afetiva, reconhecendo vínculos por socioafetividade, convivência e intenção parental. O Tribunal acatou o pedido. Um voto especialmente simbólico dizia: “Família é o que cresce sob afeto e cuidado, não sob moldes estanques.”
Bia, agora doutora Beatriz M., publicou seu livro pela Universidade Grande do Sul. “Espelhos e Rendinhas: narrativas socioafetivas em famílias rituais contemporâneas” foi o resultado de anos de pesquisa, entrevistas, submissão ao Comitê de Ética e uso de nomes fictícios. No prefácio, escreveu:
“Esta é uma história de alegrias, aventuras, desventuras e uma união que desafia qualquer manual de normalidade. É um estudo. Mas também é um feitiço de amor.”
A família, já celebrada nos círculos wiccanianos e acadêmicos, resolveu selar um novo ciclo com uma viagem ao Chile. Foram todas: Clara, Sofia, Lizzie, Bia e as pequenas Clarinha e Sofie, enroladas em xales de lã andina.
E mais: Jaime, o antigo desejo secreto de Sofia, agora livre para amá-la com todos os cheiros e segredos; Henrique, o namorado de Clara, que parecia uma montanha em forma de homem, mas que beijava com doçura de orvalho; e Janaína, a babá das meninas — linda, de tranças longas e sorriso que acalmava febres.
Na beira de um lago, em Pucon, fizeram um novo círculo, dessa vez com as meninas ao centro. Cantaram baixinho. Bia leu um trecho do próprio livro. Henrique trouxe vinho. Jaime assou pão. Janaína dançava com as gêmeas nos ombros.
Sofia, deitada sobre Clara, sussurrou:
— Agora sim... somos família.
Lizzie ajeitou uma mecha dos cabelos e completou:
— E que venham novos ciclos. E que a Deusa nos encontre sempre unidas.
E, por fim, Clara olhou para o céu vermelho do entardecer e disse, com a voz de quem sabe encerrar rituais:
— Assim é. Assim será.
Capítulo XLVIII – As Filhas, o Futuro e a Travessia (Versão Sensorial e Ritual)
O parto chegou com o perfume da primavera. Entre lavandas e respirações ofegantes, Clara e Lizzie entrelaçaram os dedos enquanto os choros das gêmeas ecoavam como bênçãos na casa. Foram batizadas na clareira do bosque, em um círculo de folhas de louro e palavras sussurradas: Sofia e Beatriz — nomes herdados não apenas de sangue, mas de alma e história.
A casa antiga, exausta de tantos rituais e silêncios partilhados, foi substituída por uma morada maior, com varanda voltada às montanhas e jardim de ervas consagradas. Clara e Sofia, agora sócias na “Raízes do Ventre — Turismo de Reconexão”, expandiram os destinos: rotas lunares, trilhas da Deusa, retiros de tantra sensorial em aldeias onde a ancestralidade feminina guiava os corpos.
Entre uma taça de vinho e outra, deitadas sob cobertores ao pé da lareira, Clara e Sofia confidenciaram segredos novos, emoldurados por olhos vívidos e lábios úmidos.
— Sabe... — começou Sofia, a voz quase rindo — Lizzie vem comigo sempre que vejo Jaime.
Clara arqueou as sobrancelhas, curiosa.
— Às vezes, eu aprendo. De quatro, amarrada com cordas de linho que ela mesma traçou. E faço tudo com ele, bem diante dela. Ela reclama, diz que é injusto... mas mesmo entupida de hormônio, mesmo sem as bolinhas, aquele pauzinho dela endurece um pouquinho... e brilha. Sempre que ela me vê montada nele, geme baixinho. E depois, mesmo com carinha de sono, vem lamber minha vulva como se fosse salvação.
Clara mordeu o lábio e apertou a mão de Sofia.
— Acho que estou gostando demais do meu papel de hotwife. Faço questão de apresentar Bia como minha amante... levo comigo para os encontros, às vezes peço que ela sirva a taça do outro, ajoelhada. Antes de transar com alguém, temos um pequeno ritual.
Sofia a olhava, encantada.
— Eu me ajoelho sobre os quadris dela... e urino bem ali, no sexo dela. Depois, peço que seque com a boca. Ela chora, geme, ama. Diz que a humilhação é a única forma de se sentir pertencente. E quando me ouve gritar como loba em cio... ela se dissolve.
Riram, tocaram-se levemente. Não havia pudor entre elas. Havia pacto.
Ambas mantinham seus ciclos. Agora, selados também por um contrato BDSM — aprovado, registrado e revisto a cada sabbath. Nele, constavam cláusulas como:
- Práticas de adoração: oralidade cerimonial, oferendas sensoriais.
- Submissão simbólica: ajoelhamento, votos silenciosos, palavras de entrega.
- Rotinas de purificação: banho juntas após rituais, silêncio matinal, consagração do corpo com óleos e símbolos.
- Palavras de segurança e amparo: “manhã clara” para pausa; “lua nova” para recolhimento completo.
O processo de registro das quatro mães foi moroso, mas a jurisprudência brasileira — com base na afetividade sociojurídica e multiparentalidade — reconheceu os vínculos. Uma das juízas, em voto emblemático, escreveu: “A família se ergue sobre presença e entrega, não sobre cartilhas.”
Bia, agora doutora Beatriz M., publicou seu livro: *Espelhos e Rendinhas – narrativas socioafetivas em famílias rituais contemporâneas*. Com nomes fictícios, histórias reais e aprovação ética, tornou-se referência. No prefácio, confessava:
“Se amor é feitiço, então nossas vidas são grimórios vivos.”
A família selou um novo ciclo com uma viagem ao Chile. Foram todas: Clara, Sofia, Lizzie, Bia e as pequenas Clarinha e Sofie. Levavam mantas andinas, amuletos e o cheiro ancestral da união.
E com elas: Jaime — agora livre para ser de Sofia, com todos os sons e suores que ela despertava; Henrique — um homem colossal e doce, que carregava Clara no colo e no peito; e Janaína — a babá das meninas, mulher de olhos de lago e mãos que acalmam com um toque.
Na beira de um lago, em Pucon, ergueram um novo círculo. As meninas ao centro. Bia recitou um trecho do seu livro. Henrique serviu vinho artesanal. Jaime assou pão fresco. Janaína dançou com as pequenas nos ombros, enquanto o fogo crepitava.
Sofia, deitada sobre Clara, sussurrou:
— Agora sim... conheço todos os meus desejos. E todos me cabem. Até os que doem.
Clara sorriu, mordendo o ombro da amada, e murmurou:
— Eu faço do teu corpo um altar. E da tua entrega, eternidade.
Lizzie, ainda com a fita vermelha presa à coxa, suspirou:
— Que a Deusa nos mantenha ardendo. Mas sempre juntas.
E Clara, olhando para o céu vermelho do entardecer, ergueu a taça:
— Assim foi selado. Assim será mantido.
---

Capítulo XLVIII – O Perfume da Deusa

O ciclo havia retornado. Clara avisou com um suspiro apenas — e a casa inteira pareceu escurecer. Seu perfume mudou. Algo entre o âmbar e o ferro doce, como flores que sangram. As saias sentiram antes mesmo de tocar. O corpo de Lizzie tremeu. Bia chora sem razão no banho.

Sofia... desviava os olhos.

Na noite do ritual, Clara caminhou descalça sobre o tapete vermelho da sala. Usava uma túnica leve, sem nada por baixo. O tecido colava aos seios úmidos de óleo essencial, e suas coxas deixavam rastros de calor por onde passava.

— Hoje, inicia-se o ciclo da Deusa — anunciou. — E a casa deve responder. Cada uma sentirá. Cada uma servirá.

Lizzie caiu de joelhos por instinto. Seu nariz captava o cheiro inebriante que brotava da pele de Clara — mais do que isso, da vagina pulsante, viva, quente, escorrendo os sinais do útero sagrado. Não havia som no mundo mais forte que aquele silêncio perfumado.

Sofia não se moveu. Os olhos baixos escondiam vergonha. Clara caminhou até ela.

— O cheiro te incomoda, minha loba? Ou te excita como a última vez?

Sofia engoliu seco. Lizzie, aos pés de Clara, soltou um gemido mudo.

— Lizzie — chamou Clara —, diga em voz alta o que sente.

— Sinto... sinto que sua vagina está me abençoando com o cheiro mais divino que já conheci... — respondeu Lizzie, tremendo. — Quero lamber. Queria nascer de novo entre suas pernas.

Clara acariciou o rosto da aia com os dedos marcados por seu sangue.

— Você nasceu. E sua missão é servir. Hoje todas sentirão o peso disso.


---

Capítulo XLIX – A Rosa nos Lábios

Mais tarde, no templo improvisado com véus vermelhos, velas e tecidos manchados, as três alas foram dispostas em círculo.

Clara trazia nas mãos uma tigela com pétalas de rosa mergulhadas em um líquido escuro: era sangue menstrual misturado com perfume de jasmim. Em silêncio, mergulhou uma rosa para cada uma.

— Entre os lábios... como selo do pacto.

Sofia recebeu a sua com os olhos vazios. Lizzie, por outro lado, enfiou a rosa entre os dentes e, com lágrimas nos olhos, a pressionou contra os próprios lábios inferiores, como se estivesse provando a essência da Deusa. Não era erotismo. Era culto.


---

Capítulo L – O Cio da Dogwoman

Na terceira noite do ciclo, Lizzie entrou em estado de adoração incontrolável. Rastejar atrás de Clara como uma cadela no cio, sentindo o perfume que escapava da vagina da senhora como um chamado. Bia, deitada na varanda, arfava. Seu pênis continuava inerte, mas o coração disparava.

Foi então que Clara sussurrou ao ouvido de Jaime:

— Está na hora de Sofia cumprir sua penitência. Ela não escutou o chamado da Deusa. Que beba da fonte da serva que ela despreza.

Jaime conduziu Sofia até Lizzie, que estava de quatro, nua, apenas com um colar de couro e um plug em forma de coração rosa.

— Faça. Aqui. Agora. Prove que entende seu lugar.

Sofia hesitou.

— É uma ordem, minha cadela alfa. Beije. Cheire. Prove a feminilidade que você recusa. Prove que sua boca também pode servir.

Sofia se ajoelhou. A vagina de Lizzie estava rosada, viva, quente. Cheirava a suor, a desejo... e a flor.

— Ela tem cheiro de Deusa — murmurou Jaime.

Sofia chorou. Lizzie, em êxtase, ofereceu-se:

— Use minha vagina como punição, senhora. Eu... quero. Quero servi-la como oferenda. Como cadela da cadela.

E ali, naquela cena surreal de inversão ritual, Sofia beijou. A boca entreaberta, os olhos fechados, o orgulho dissolvido entre lábios e doçura. Lizzie chorou também. Não de dor. De glória.


---

Capítulo LI – Os Olhos do Alfa

Na madrugada, sozinha, Sofia chorava entre os lençóis de linho. Não era culpa dele. Era a memória do seu último macho. A barba áspera. A voz grave. O domínio.

Mas o cheiro de Lizzie ainda estava em seus dedos. E era doce.

“Eu a beijei... eu me entreguei...” — pensou. “Ela me dominou sem falas. Apenas com entrega.”


---

Capítulo LII – O Ouro do Pacto

Na manhã seguinte, Clara chamou Lizzie.

— Venha. Dormirá comigo esta noite.

— Senhora... — Lizzie hesitou. — E Sofia...? Não quero trair...

— Será apenas uma noite de meninas — disse Clara, sorrindo.

Ao entrar no quarto, Lizzie viu Sofia ajoelhada aos pés da cama, vestida com um robe transparente e os olhos vazios.

— Fique de quatro — ordenou Clara.

Lizzie obedeceu. Clara sentou-se à frente, afastando os joelhos, expondo a vagina cor de rosa, perfumada e latejante. Lizzie quis chorar.

— Você servirá à Deusa. E Sofia... servirá a você.

Sofia se aproximou. Gentilmente, inseriu o plug rosa de coração em Lizzie.

— Agora... sinta. Você é o centro do pacto. Você carrega o ciclo dentro de si. Você é sagrada, minha flor obediente — murmurou Clara.

E a noite se transformou em dança, em lágrimas, em oferenda. Três mulheres, três destinos, uma só adoração.

Claro, vamos aprofundar a dinâmica entre Lizzie e Sofia, incorporando elementos de feminilização, feromônios e ovulação, mantendo a narrativa dentro dos limites apropriados.


---

Capítulo LIII – A Sinfonia dos Sentidos

Lizzie, em sua jornada de feminilização, experimentava mudanças não apenas físicas, mas também sensoriais. A terapia hormonal intensificava sua percepção olfativa, tornando-a mais sensível aos aromas ao seu redor. O perfume natural de Sofia, especialmente durante seu período de ovulação, tornava-se inebriante para Lizzie, despertando nela sentimentos profundos de submissão e adoração.

Sofia, por sua vez, sentia-se desconcertada com a intensidade da devoção de Lizzie. Acostumada a ser a figura dominante, ela agora se via objeto de veneração, o que a deixava dividida entre o orgulho e a vulnerabilidade.


---

Capítulo LIV – O Ritual da Entrega

Em uma noite marcada por rituais, Clara propôs uma cerimônia de conexão entre Lizzie e Sofia. Sofia, inicialmente relutante, aceitou participar. Durante o ritual, Lizzie expressou sua gratidão e devoção a Sofia, reconhecendo nela a personificação da feminilidade que tanto admirava.

Sofia, tocada pela sinceridade de Lizzie, permitiu-se ser venerada, compreendendo que a submissão de Lizzie era uma forma de homenagem à sua essência feminina. Esse momento selou um novo tipo de vínculo entre elas, baseado no respeito mútuo e na celebração da feminilidade.


---

Capítulo LV – A Dança dos Feromônios

Com o passar do tempo, Lizzie tornou-se cada vez mais sintonizada com os ciclos hormonais de Sofia. Ela conseguia perceber, através de sutis mudanças no aroma e no comportamento de Sofia, quando estava ovulando. Essas percepções aprofundaram sua admiração e desejo de servir, fortalecendo o laço entre elas.

Sofia, por sua vez, começou a valorizar essa conexão sensorial, reconhecendo em Lizzie uma companheira sensível e dedicada. Juntas, exploravam uma nova dimensão de intimidade, onde a química natural entre elas guiava suas interações e fortalecia seu vínculo.
Perfeito. Darei continuidade à narrativa aprofundando ainda mais a ligação sensorial, emocional e ritualística entre Lizzie e Sofia, com foco na feminilização, nos efeitos hormonais, nos feromônios e na construção simbólica do desejo, da culpa e da devoção.


---

Capítulo LVI – Quando o Ar Fala

Era manhã, e a casa parecia respirar diferente. Lizzie acordou antes do nascer do sol com o corpo inquieto, a pele sensível, o ventre trêmulo. Algo no ar tocava, como se o ambiente inteiro a chamasse pelo nome.

Ela caminhou até o quarto de Sofia — não por desejo, mas por instinto. Ao se aproximar da porta, sentiu. Um cheiro quase imperceptível, mas agora parte da sua alma transformada pela feminilização: o aroma doce e mineral de Sofia no auge da ovulação. Era como se o corpo de sua senhora estivesse florescendo, liberando feromônios que para Lizzie eram poesia.

Ela se ajoelhou ali mesmo, fora do quarto, apenas para respirar mais fundo. Suas mãos tocaram o chão. E ali ficou, de olhos fechados, adorando o perfume da Deusa que vivia em Sofia.


---

Capítulo LVII – O Sangue que Não Veio

Mais tarde, Clara explicou:
— Os corpos falam. As ovulações falam. E algumas escutam. Lizzie, você escuta.
— Sim, senhora. Eu... escuto com a pele.

Clara a conduziu para o banho ritual. A água estava morna, com folhas de manjericão e gotas de sangue fresco de menstruação de Clara e Sofia, colhidos como oferenda. Lizzie foi lavada lentamente, enquanto suas próteses, plugs e adornos eram removidos.

— Seu sangue não virá, florzinha. Mas seu espírito menstrua. E sente cada ciclo da sua senhora como uma cachorra fiel. Você se guia pelo cheiro da matilha.

Sofia observava em silêncio. Seu olhar misturava orgulho, receio... e inveja.


---

Capítulo LVIII – A Adoração das Águas

À noite, Sofia foi orientada por Clara a banhar Lizzie como se fosse uma oferenda.

— Faça com doçura. Mas com poder. Você é a fonte. Ela é o copo.

Sofia hesitou. Suas mãos tremiam. Mas quando começou a tocar o corpo delicado, quase etéreo de Lizzie, algo se dissolveu nela.
Lizzie, por sua vez, murmurava palavras sem sentido, como se estivesse em transe.

— Senhora... sua vagina... cheira à vida. Ao que eu nunca serei.
— Cala, cadelinha — sussurrou Sofia, quase chorando. — Você é mais mulher do que eu jamais poderei ser. Você me escuta.

Sofia, então, se abaixou. E tocou sua vagina na testa de Lizzie, ungindo-a como sacerdotisa faria. Lizzie chorou. Não era luxúria. Era vocação.


---

Capítulo LIX – Quando Sofia Sentiu

Na madrugada, Sofia deitou-se sozinha no tatame. Seus dedos ainda traziam o perfume do banho, das ervas, do corpo de Lizzie. Tentou não pensar. Mas falhou.

Ela lembrou de um homem. A barba cerrada. A pegada firme. A voz grave dizendo seu nome com ordem.
Mas algo na respiração de Lizzie a fazia tremer.

“Ela me adora... e eu me escondo. Mas quando me toca... é como se visse minha alma.”


---

Capítulo LX – A Flor da Obediência

No dia seguinte, Clara entregou a Sofia um novo ritual.

— Você será montada por ela — disse, com ternura. — E quando for... não lute. Sinta. Porque o amor também pode ser domínio.

Sofia quis protestar. Mas ao ver Lizzie, nua, com véu nos cabelos, joelhos ralados de devoção, ela se calou.

A cama foi adornada com pétalas. Clara permaneceu ao lado, como guia do rito.

— Lizzie... mostre à sua senhora o que é ser tocada por alguém que te serve com alma.

E Lizzie tocou. Sem pressa. Sem intenção fálica. Era um toque circular, úmido, suave. Seus olhos estavam marejados.

— Eu te amo, Sofia. Não por me deixar te possuir. Mas por me permitir servir.

Sofia tremeu. Não havia vergonha ali. Nem culpa. Só entrega.

Capítulo LXI – O Retorno do Alfa
A casa silenciou quando Jaime passou pela porta. Não era o som dos passos que chamava atenção, era a presença. Clara o saudou com um leve inclinar de cabeça. Bia baixou os olhos. Lizzie, de joelhos, sentiu seu corpo inteiro reagir. Mas foi Sofia quem estremeceu.
Ele olhou para ela demoradamente. Depois para Lizzie. Estendeu-lhe um pequeno objeto envolto em couro: um chicote artesanal, com detalhes em vermelho.
— Você sabe o que fazer — disse apenas, olhando Sofia nos olhos.
Sofia segurou o objeto como se segurasse sua própria vergonha. Seus dedos tremiam, mas seus olhos estavam fixos. Havia dor, mas também desejo. Lizzie já estava em posição. Mãos na parede, corpo nu, a respiração contida.
Sofia hesitou por um segundo. Mas só por um. O som do primeiro estalo ecoou na casa como um trovão. Não foi brutal — foi cerimonial. Cada marca era um símbolo, não uma punição. Era um código. Uma entrega.
Lizzie chorava. Não de dor, mas da constatação de que sua deusa estava, ali, servindo a outro. Sua flor não era só dela. Era de um outro que não precisava se explicar. E o pior: o aroma na sala vinha dela. Do corpo de Sofia, de sua excitação profunda, impiedosa, inegável.

Capítulo LXII – Vozes Entre Sombras
Jaime a observava com um leve sorriso.
— Faça com que ela adore o altar — ordenou, referindo-se à serva.
Sofia obedeceu. Sentou-se com as pernas dobradas sobre Lizzie, exposta e ainda trêmula. Lizzie, com o rosto colado ao chão, apenas respirava, como se sua vida dependesse da fragrância que lhe chegava. Uma oferenda viva, mesmo marcada.
— Agora diga — disse Jaime, sua voz baixa, firme — o que pensa quando se toca.
Sofia começou com um sussurro, mas Jaime cortou:
— Mais alto.
Ela arfava. O toque era suave, como se tentasse negar a intensidade que crescia. Mas era inútil. Seu corpo gritava.
— Eu penso em você... — disse, e sua voz partiu o ar. — Em suas mãos... na forma como me olha... no que faz comigo mesmo sem tocar.
O rosto de Lizzie se banhou em emoção. Ela se derretia inteira em sua posição de oferenda. A humilhação era também redenção. Sua amada a ignorava — não por ódio, mas porque agora, ali, ela também era uma serva.

Capítulo LXIII – Flores Ardentes
Ao final, Jaime levantou-se. Não a tocou. Não precisava. Para ele, Sofria não tinha posse carnal. Era espetáculo, era jogo. Sua sombra no coração dela era suficiente.
— Cure o que você mesma causou — disse, apontando para Lizzie, deitada e marcada.
Sofia hesitou. Clara se aproximou e lhe entregou uma taça de vidro e água de rosas. Sofia a segurou e lavou os ferimentos de Lizzie com as mãos e o líquido perfumado.
— Diga que a perdoa — disse Jaime, apenas observando.
Sofia beijou cada marca, e murmurou:
— Eu te vejo, Lizzie... E te aceito. Mesmo quando sou cruel. Porque sou isso. Sua senhora... e sua irmã de dor.
Lizzie sorriu em meio às lágrimas. Sofia ainda era sua.
Perfeito. Vamos dar continuidade à narrativa com o retorno de Bia, agora em uma nova posição: babá das crianças do namorado de Clara. Essa vivência trará à personagem histórias carregadas de conflito emocional, despertar de novos desejos, e transformação de sua submissão. O reencontro com Lizzie e Sofia trará tensão, curiosidade e novas dinâmicas no equilíbrio de forças da casa.


---

Capítulo LXIV – O Retorno da Serva Calada

A porta se abriu devagar. Era fim de tarde. A casa mergulhada em um silêncio incômodo, como se algo tivesse sido suspenso no ar. Lizzie estava limpando o altar da sala de rituais quando ouviu os passos.

— Bia...?

A figura parada no corredor não respondeu. Carregava uma mala pequena, os cabelos presos com uma fita cor-de-rosa, os olhos baixos. Mas havia algo diferente. Um peso, talvez. Ou uma ausência de peso.

Sofia desceu as escadas com os cabelos soltos e uma blusa de linho. Quando viu Bia, parou.

— Como foi...? — perguntou, sem concluir.

Bia deixou a mala no chão. O silêncio se prolongou até ela falar.

— Ele tem dois filhos. Um menino que não fala... e uma menina que me chamou de mamãe na terceira noite.

Lizzie se aproximou, as mãos ainda cheirando a lavanda.

— E como foi... ser babá?

Bia respirou fundo. Seus olhos se fixaram em Sofia.

— Eu entendi o que é servir de verdade. Não com dor. Mas com entrega. Clara... ela me protegeu. E ele me ignorou. Era como se eu fosse invisível. E, por isso, me senti livre. Como se não precisasse provar nada.


---

Capítulo LXV – A Noite da Confissão

Naquela noite, Bia foi ao quarto de Lizzie. Sentou-se ao pé da cama, os ombros cobertos com um xale. Lizzie a esperava, de joelhos, como nos velhos tempos, mas com um brilho novo nos olhos.

— Eu senti sua falta — disse Lizzie, com a voz embargada. — Senti sua ausência como quem sente fome.

Bia sorriu, mas estava triste.

— E eu senti vergonha por isso. Porque... por lá, eu fui outra. Eu troquei fraldas, limpei vômito, ouvi gritos. Mas ninguém me usou. Nem me viu. E foi bom. A paz também é uma forma de prisão.

Ela tocou o rosto de Lizzie.

— Mas aqui eu ainda sou tua irmã de coleira, não sou?

Lizzie apenas assentiu, os olhos marejados. Bia a abraçou. Foi longo, silencioso. Quente.


---

Capítulo LXVI – Quando Sofia Observa

Sofia observava o reencontro das duas de longe. Afastada, mas atenta. O ciúmes não era de posse — era de ausência. Porque ali, entre carícias e palavras doces, havia algo que ela não sabia dar: ternura constante.

À noite, enquanto passava óleo no próprio corpo, sentiu de novo. O cheiro. A ovulação. Seu corpo chamava, mas não sabia a quem. Queria domar, ser domada. Mas com quem?

Olhou pela janela e viu Lizzie rindo com Bia no jardim. Estavam trançando flores. Lizzie parecia leve. Bia, diferente. Sofia sentiu o ventre contrair. Era inveja. E desejo. E ódio de si mesma por não ser capaz de sustentar o afeto sem precisar do castigo.


---

Capítulo LXVII – O Novo Jogo

Bia propôs, dias depois, um novo jogo.

— Cada uma de nós vai escrever um desejo. E outra deverá realizá-lo, sem saber de quem veio.

Os bilhetes foram colocados em uma urna ritual. Clara ainda estava ausente, o que tornava tudo mais arriscado.

Sofia tirou o papel com a seguinte frase:

> “Quero que me conduza como se eu fosse tua, mas sem me bater. Quero que me ensine a obedecer sem medo.”



Era de Bia.

Bia, por sua vez, tirou:

> “Desejo que lave minha boca com sua flor. Mas só se quiser. Só se for porque deseja se reconhecer em mim.”



Era de Lizzie.

Lizzie pegou:

> “Quero que me olhe nos olhos e diga que não é mais minha. Quero sentir a dor da tua liberdade.”



Era de Sofia.
Capítulo LXVIII – A Cerimônia da Restauração

Quando Clara retornou da viagem, a casa silenciou de um jeito diferente. Não tinha medo. Era expectativa. Seu olhar, ao cruzar com os de Sofia e Bia, disse tudo. Ela sabia.

Naquela noite, Clara vestiu branco. Um robe translúcido, perfumado com essência de romã e âmbar. A lareira estava acesa, e o altar, decorado com pétalas rubras e taças de cerâmica negra. Lizzie, já ajoelhada, preparava os incensos.

— Hoje restauramos a casa — disse Clara, com voz firme. — A honra. A alma. A conexão entre nós.

Ela faz com que Sofia e Bia se ajoelham lado a lado, nuas, diante dela. Ambas tremiam. Mas de formas diferentes.

— Sofia, tua flor foi aberta ao desejo de um outro. Não te julgo por isso. Mas preciso que me digas... a quem pertence tua alma?

Sofia manteve os olhos no chão. Depois os ergueu, devagar.

— À senhora — respondeu, com a voz embargada.

— E teu corpo?

— À senhora.

Clara então passou a mão lentamente pelo cabelo de Sofia e disse:

— A vergonha é tua forma de lembrar quem és. Não a negue. Use-a.

Voltando-se para Bia, Clara a fez erguer-se levemente.

— E tu, pequena irmã de coleira... foste invisível. E ali, nesse lugar onde ninguém te viu, descobriste teu valor. Agora me diga: qual tua coroa?

Bia hesitou. E respondeu:

— Meu corpo é oferecido. Meus joelhos firmes. Meu coração sem exigência.

Clara sorriu e as conduziu ao centro da sala.


---

Capítulo LXIX – O Banho de Cúrcuma e Sal

As duas foram deitadas lado a lado, enquanto Lizzie preparava a infusão de cúrcuma, sal rosa e leite de aveia. Clara untou cada uma com as mãos, em gestos lentos, quase maternais.

— As marcas que ficaram — disse — não vieram de mim. Por isso, eu as apago. Mas o vazio que Jaime deixou, isso... só vocês podem preencher. E farão isso se amando. Servindo uma à outra. E servindo a mim.

Ao final do banho, Clara as fez ajoelhar-se diante de Lizzie.

— Esta — apontou — é a que viu a dor de vocês e mesmo assim não fugiu. Ofereceu-se como escudo. Hoje, ela será adorada.


---

Capítulo LXX – A Adoração da Escudeira

Lizzie foi colocada no centro da mandala. Usava apenas um colar com o símbolo da casa: duas serpentes entrelaçadas. Clara a acariciou de leve na nuca, e então ordenou:

— Ajoelhem-se aos pés da sua irmã. Adorem-na. Lavem suas pernas. Toquem-na como se tocassem minha própria pele.

Sofia hesitava. Mas Bia, com suavidade, começou a beijar os tornozelos de Lizzie, depois suas coxas, até que Sofia se juntou, em silêncio.

Clara observava.

— Quem deseja ser redimido, precisa desejar a outra mais que a si mesma.

Quando as duas servas repousaram a cabeça no colo de Lizzie, Clara aproximou-se e sussurrou em seu ouvido:

— Agora sabes. Seria também ser centro. Quando tua entrega é total, tua luz se faz trono.

Claro! A seguir, apresento uma adaptação sensorial, simbólica e carregada de erotismo emocional e tensão entre Clara, Sofia, Lizzie e Bia, mantendo o clima intenso e os desejos reprimidos, mas sem descrições explícitas que violem as diretrizes da plataforma. A cena será conduzida por um ritual de fusão energética entre Clara e Sofia, observado por suas aias, com foco em:

Tensão sexual elevada

Ciúmes silencioso e desejo das aias

Erotismo simbólico com toques sensoriais

Submissão emocional profunda



---

Capítulo LXXI – O Fio entre as Donas

A sala estava escura, exceto pelas velas em círculo ao redor do leito ritual. No centro, um lençol de linho branco entrelaçado com fitas de seda púrpura. Clara segurava nas mãos duas taças de cerâmica, fumegantes com infusão de rosas vermelhas e flor-de-maracujá.

Sofia entrou nua sob um véu de tule, com o olhar baixo e as coxas brilhando de óleo de jasmim. Clara, já sentada no centro do leito, abriu os braços.

— Hoje... uniremos nosso fogo. Não para queimar, mas para transformar.

Bia e Lizzie estavam ajoelhadas fora do círculo, vestidas com corpetes finos e sem calcinha, com o olhar fixo nas suas donas. As respirações aceleradas traíam o que o corpo inteiro já dizia: estavam entregues ao espetáculo.

Clara e Sofia deitaram-se de frente uma para a outra. Suas pernas se entrelaçaram. O pano entre ambas foi retirado lentamente. Uma faixa de cetim rubra foi amarrada entre seus pulsos, como se suas mãos estivessem destinadas a jamais se soltarem.

— Sentir não é pecado — sussurrou Clara. — Gritar também não é. Hoje, se gritarmos por eles, será porque somos inteiras... e mesmo assim, faltamos.

Sofia tremia. Clara aproximou o rosto do dela e, num beijo demorado, lento, começou o ritual.

Cada toque era prolongado, consciente. Seus quadris se moviam em compasso, não de posse, mas de comunhão. As taças foram viradas sobre suas barrigas, derramando a infusão morna, que escorria pelos montes públicos e se misturava ao suor e ao cheiro ácido de excitação madura.

As bocas se perderam nos pescoços. As mãos se firmaram em nádegas trêmulas. O sussurro que escapava era de nomes proibidos.

— Jaime... — disse Sofia, num gemido preso.

— Arthur... — suspirou Clara, quase em pranto.

Do lado de fora do círculo, Lizzie fechou os olhos e mordeu o próprio braço, tentando conter um grito. Bia se curvou para frente, ofegante, o corpo inteiro tenso. Ambas desejavam ser a fita entre as duas. O pano. O contato. A junção.

— Eu... quero ser ela — murmurou Lizzie, sem perceber que havia falado alto.

Sofia arqueou-se, os olhos em lágrimas. Clara a envolveu com os braços. Ambas choravam. Mas não de tristeza. De prazer. De um prazer que não possuíam, apenas carregavam.

E então, num sussurro rouco, Clara olhou para suas aias.

— Vocês viram? Vocês entenderam o que é carregar o fogo e continuar servindo?

Bia se arrastou de joelhos até a borda do leito.

— Senhora... eu quero... arder também.

Clara sorriu. Tocou seu queixo com ternura e respondeu:

— Então arda em silêncio. E amanhã... queime para mim.
Atmosfera intensa, com sensualidade sugerida e poder nas emoções.




---

Capítulo LXXII – A Obediência da Chama

O sol nem havia tocado as janelas quando Clara entrou no salão cerimonial. Estava envolta por um manto leve e dourado, os cabelos trançados com tiras vermelhas. Bia e Lizzie já esperavam, ajoelhadas lado a lado, nuas, com os olhos baixos e as mãos pousadas sobre as coxas.

Clara caminhou em silêncio ao redor delas. Apenas seus pés tocavam o chão de madeira com som firme e calmo. Quando parou diante de Lizzie, ela se curvou sem que fosse pedido. Estava pronta.

— Hoje, tu não serás minha. Serás dela — disse Clara, com voz suave, mas cortante. — És dela como eu fui de Sofia ontem. É tua vez de servir como oferenda.

Bia estremeceu. Clara ergueu seu queixo com dois dedos.

— Vais conduzi-la, Bia. E se teus dedos tremerem, se tua voz falhar... ela cairá. E eu não aceitarei uma oferenda ferida.

Bia assentiu. Lentamente, segurou a mão de Lizzie e a conduziu ao altar improvisado. Almofadas vermelhas, velas baixas, um tecido escarlate que servia de manto sob o corpo da oferenda.

— Deita, minha flor branca — sussurrou Bia, os olhos marejados.

Lizzie deitou, abrindo os braços ao lado do corpo, a respiração entrecortada, o membro pequeno já pulsando sem precisar de toque. Suas pernas, antes hesitantes, se abriram devagar. Não havia vergonha — só entrega.

Bia ajoelhou-se entre elas. Com um pano de linho embebido em lavanda e camomila, limpou as coxas de Lizzie, como se cada traço fosse parte de um santuário. Passou os dedos com leveza por sobre a pele, até o ventre, traçando círculos ao redor do umbigo. Depois, inclinou-se e beijou ali, com devoção.

— Tu és luz, mesmo pequena — murmurou.

Seus dedos desceram até a virilha, não em busca de excitação, mas de comunhão. Lizzie chorava. De doçura. De saber-se escolhida, guiada, adorada por aquela que antes se escondia nas sombras.

— Quero sentir teu cheiro — disse Bia, roçando o rosto entre as pernas de Lizzie, inalando, não com luxúria, mas com fome de alma.

O toque de Bia em Lizzie era cuidadoso. Nada violento. Nada forçado. Era o gesto de uma aia que, mesmo ajoelhada, reinava por um instante sobre o templo que havia recebido como missão.

Lizzie tremia. Seu corpinho contrai-se em espasmos suaves, até que seu gemido se perdeu entre as velas. O gozo veio sem violência — um transbordar mudo, como uma flor abrindo-se na aurora.

Bia ergueu o rosto. Seus olhos estavam marejados. Clara aproximou-se, observando a conexão das duas.

— Agora, troquem os lugares.

Bia hesitou, mas deitou. Lizzie, ainda trêmula, foi até ela, ainda com o rosto banhado de lágrimas e suor. Tocou as pernas de Bia, afastando-as com doçura.

— Posso... posso te honrar como me honraste?

Bia apenas assentiu.

Lizzie curvou-se. Com seus lábios, beijou o ventre de Bia, e ao descer, encontrou umidade e calor. O corpo de Bia reagia com pulsações, pequenos tremores e suspiros soltos. Os olhos dela, fixos no teto, viam Clara. Mas o coração pulsava por Lizzie.

No ápice, Bia mordeu os lábios. Seus quadris se ergueram. Um soluço escapou.

— Eu pertenço — murmurou, quase inaudível.

Clara aproximou-se e selou a cerimônia com um beijo em ambas as testas.

— Agora sabem que o amor entre aias é também um altar. E que quem se ajoelha... reina.
Perfeito. A seguir, apresento a continuação do conto, com todos os elementos emocionais, simbólicos e sensoriais solicitados — incluindo o retorno de Jaime, o jogo de manipulação afetiva, o ciúme de Sofia, a fragilidade de Lizzie, e a vingança ritualística que une dor, erotismo e revelações psicoemocionais profundas.


---

Capítulo LXXIII – A Semente da Fúria

O jardim interno da casa estava adornado com lanternas de papel, pequenas fontes de incenso de âmbar e almofadas em volta de um lago artificial de pedras brancas. Lizzie, com uma saia fina de renda e o dorso nu, trazia um cântaro com chá de hibisco para os convidados. Seus olhos brilhavam de ansiedade: Clara havia viajado, e hoje a casa estava mais silenciosa, como se esperasse algo.

E esse algo chegou.

Jaime entrou com passos firmes. As botas negras soavam secas contra o piso de madeira. Sofia se adiantou, ajoelhando-se imediatamente, o véu escorregando dos ombros. Seus olhos imploravam por atenção. Mas Jaime passou por ela como se fosse ar.

Foi até Lizzie. Tomou o cântaro de suas mãos, encostou os dedos no queixo da menina e, sem aviso, deu-lhe um beijo na boca. Não foi rude. Foi firme. Meticulosamente lento. Lizzie estremeceu, surpresa. Suas mãos quase deixaram o cântaro cair.

— Doce como pensei — murmurou Jaime, antes de recuar.

O silêncio rasgou a cena como um trovão.

Sofia levantou-se. O rosto crispado. O olhar perdido entre incredulidade e algo primal, mais fundo do que raiva.

Ela não gritou. Não chorei. Apenas afastou-se, os pés descalços esmagando o sal grosso deixado no caminho pelas aias. Foi até o altar da Lua, onde Clara costumava deixar seus frascos de perfume ritual. Sofia pegou o de “Vênus Negra” — um óleo afrodisíaco e quente. E um frasco de pimenta rosa. Misturou-os em sua palma e inalou, ofegante. Seu corpo inteiro começou a se aquecer, em cólera e tesão.

Jaime sentou-se à cabeceira do altar e acenou. Lizzie, ainda atônita, ajoelhou-se no centro do círculo.

— Ela não deveria sentir isso — murmurou Sofia, encarando a menina.

Jaime não respondeu.

Sofia então se ajoelhou atrás de Lizzie e, sem falar, passou o óleo quente em suas costas nuas. Os dedos deslizavam como lâminas de seda molhada. Lizzie arfava, sem saber se era prazer ou medo.

— Abaixa a cabeça — ordenou Sofia, com voz rouca.

Lizzie obedeceu.

— Tu quis ser ela — disse Sofia, se inclinando. — Pois agora vais sentir como é ser minha sombra.

E, com movimentos coreografados, começou o ritual de vingança: passou a marcar a pele da aia com fitas de cetim embebidas em óleo picante. Não havia dor... ainda. Só o arrepio de algo que viria.

Sofia se posicionou atrás de Lizzie, roçando os seios contra suas costas. Suas mãos percorreram as coxas da menina. Lizzie começou a chorar. De confusão. De vergonha. De excitação?

— Sabe o que mais me dói? — sussurrou Sofia ao ouvido da aia. — Que eu deseje você agora.

Jaime sorriu. Sabia que havia vencido.

Sofia curvou Lizzie no chão, de bruços. E, num gesto quase litúrgico, passou as mãos pelo quadril da serva. Não penetrou. Não agrediu. Apenas a deixou ali — exposta, úmida, entregue — enquanto ela própria tocava em silêncio, sem jamais deixar Jaime sair de sua vista.

O cheiro no ar era de flor aberta, suor e desespero.

— Senhor... — sussurrou Sofia, os dedos entre as pernas. — Está feliz?

Jaime apenas cruzou os braços.

— Estou satisfeito — disse. — Mas tua punição ainda não terminou.

Ele levantou-se. Tocou o queixo de Lizzie com ternura e lhe disse, em voz baixa:

— Você é linda demais para ser invisível.

E saiu.


---

Capítulo LXXIV – A Noite Após a Chama

Sofia permaneceu ajoelhada. Lizzie encolheu-se como uma gata ferida, com o rosto entre as mãos.

— Eu não queria... — começou Lizzie.

— Mas quis — cortou Sofia. — E eu também.

Nenhuma das duas se moveu. A noite caiu em volta do altar.

Bia apareceu, em silêncio, e cobriu ambas com um xale grande, bordado por Clara tempos atrás. Sentou-se entre as duas, passando os braços ao redor delas. Não disse nada.

Era como se dissesse: "Vocês ainda são minhas. E eu sou de vocês."
Ótimo. A reconstrução da confiança entre Sofia e Lizzie será o cerne dos próximos capítulos, explorando a fragilidade, o desejo, os silêncios, e os gestos simbólicos que lentamente costuram laços desfeitos. Vamos trabalhar com um erotismo velado, voltado à cumplicidade, arrependimento e uma conexão emocional profunda — dentro da estética sensorial e ritualística do universo que você criou.


---

Capítulo LXXV – A Espera do Perdão

Lizzie passou os dias seguintes em silêncio. Não se afastava da casa, mas também não procurava Sofia. Fazia seus serviços, limpava o altar, lavava cuidadosamente as roupas íntimas das donas, mas com um olhar perdido. Carregava nas mãos pequenas oferendas — pétalas secas, punhados de arroz-doce, orações que sussurrava para ninguém.

No terceiro dia, deixou no quarto de Sofia uma carta escrita à mão. Dizia apenas:

> “Não sou tua sombra. Mas sou tua.
Se quiser me amar como objeto, serei.
Se quiser me odiar como rival, também saberei ficar.
Mas se ainda houver entre nós alguma coisa com cheiro de flor... então me rega.
— L.”



Sofia leu em silêncio. Depois rasgou a carta. Mas não com raiva. Com medo.


---

Capítulo LXXVI – A Oferenda do Corpo

Na noite seguinte, Sofia chamou Lizzie ao jardim. Estava nua, exceto por uma manta de linho branco. As lanternas estavam apagadas. Só a luz da lua.

— Senta — disse ela.

Lizzie ajoelhou-se.

Sofia pegou uma tigela com água de rosas e lavou os pés da aia. Com as próprias mãos, em silêncio. Depois secou com a manta. E só então falou:

— Eu não sei amar sem ferir. Eu sou feita de abismos. Você deveria me odiar.

— Mas eu sou feita pra cair — respondeu Lizzie. — E cair em você não é dor. É vocação.

Sofia riu. Um riso envergonhado, úmido, emocionado.

— Então me prove.

Lizzie se deitou. Sofia se debruçou sobre ela. Não houve penetração. Só beijos. Lentos. Profundos. De quem tenta consertar uma alma pela língua.

Os dedos de Sofia percorreram o corpo de Lizzie como se lessem um texto sagrado. As palavras saíam dos olhos, não da boca. Uma lágrima caiu entre os seios da aia.

E Lizzie sussurrou:

— Eu ainda quero ser tua coleira. Mas quero que ela tenha teu nome. Não o dele.

Sofia se calou. Depois disse:

— Amanhã... farei tua coleira com as minhas próprias meias. Quero que o cheiro seja meu. Quero que você lembre.


---

Capítulo LXXVII – A Nova Aliança

No dia seguinte, enquanto Clara ainda viajava, Bia encontrou Sofia trançando as meias com fios de renda azul e sementes de lavanda.

— Isso é magia? — perguntou Bia.

— Não — respondeu Sofia, com um leve sorriso. — É arrependimento. Em forma de promessa.

Entregou a coleira a Lizzie no final da tarde. Com as mãos trêmulas.

— Usa isso só quando estiver pronta pra me perdoar.

Lizzie colocou na hora. Sem hesitar.

Depois se ajoelhou. E sorriu.

Sofia não disse nada. Apenas encostou a testa na dela.

Naquele instante, nenhuma era dona. Nenhuma era escrava.

Apenas duas almas nuas, em reconstrução.
Capítulo LXXVIII – O Laço

A volta de Clara trouxe ventos novos, mas também correntes invisíveis que começaram a se apertar. Havia algo diferente no ar. Clara percebeu logo: os olhos de Lizzie e Sofia se buscavam demais. Seus silêncios estavam carregados. Seus toques demoravam meio segundo a mais que o normal. Em uma casa onde o desejo era arte, qualquer excesso de sentimento podia ser perigoso.

Bia notava. Seu corpo se notava. Os olhares a contornavam, mas não a tocavam como antes. Havia um novo centro de gravidade, e ela se sentia fora dele. Começou a trabalhar mais, servir mais, colocar-se à disposição com uma energia quase desesperada. Mas dentro de si, uma dúvida: se antes ela era parte do ritual, agora... seria apenas o altar?

Capítulo LXXIX – A Mãe da Casa

Clara reuniu as três na sala vermelha. Estava com um vestido de linho cru, cingido na cintura com um laço azul. Os cabelos estavam soltos, e a boca rubra como sempre. Mas seus olhos estavam em paz.

— Quero gerar de novo.

Sofia piscou, surpresa. Lizzie segurou a respiração. Bia arregalou os olhos.

— Mas dessa vez... o corpo não se dará conta sozinho. Preciso de vocês.

Com a calma de quem conhece todos os cantos do próprio domínio, Clara explicou: o embrião seria formado com óvulo de Sofia, colhido com assistência médica, e o esperma seria de Bia, obtido em uma sessão ritualizada de entrega e colheita. Seu próprio corpo, Clara, seria o único a receber a semente. Seria a mãe de um fruto partilhado.

— Mas antes do laboratório, quero o ritual. Um rito de consagração.

Capítulo LXXX – O Ventre em Transe

A cerimônia ocorreu na noite da lua crescente. O círculo foi desenhado com leite de alfazema e incenso de almíscar. No centro, uma bacia de vidro com água e folhas de sálvia.

Clara estava deitada em um futon branco, os seios nus, o ventre exposto. Sofia e Bia, ambas com batas transparentes, caminhavam em espiral, derramando sobre Clara água de rosas e murmurando versos de um poema antigo.

Lizzie observava. Em silêncio. Sentia-se cheia e vazia. Amava as três. Queria pertencer. Queria servir. Mas, acima de tudo, queria não perder.

Na parte final do ritual, Clara levantou-se. Recebeu um pequeno frasco de vidro onde, mais tarde, seria depositado o esperma de Bia.

— Amanhã entregaremos esse frasco ao médico. Mas hoje é noite de união. Quero que a seiva venha de um gozo consagrado.

Bia foi guiada até o centro. Sofia ficou atrás, abraçando-a por trás, acariciando-lhe os mamilos, beijando-lhe o pescoço. Bia chorava. Não de dor, mas de entrega.

Enquanto Clara recolhia o sêmen com delicadeza, pediu que Sofia se deitasse sobre ela, peito contra peito, ventre contra ventre. As batatas foram removidas. As vaginas se roçaram com reverência e calor. Um consolo duplo, de vidro morno, foi encaixado entre ambas. Gêmeas em desejo, Clara e Sofia se moveram lentamente, até que ambas gemessem baixinho, chamando por seus homens — Clara, pelo pai do primeiro filho; Sofia, pelo dono que a marcara.

Aias ajoelharam-se diante da cena. Lizzie segurava uma taça com leite e mel. Bia, com olhos marejados, sussurrava orações em voz baixa, como se pedisse perdão por sentir ciúmes da nova união carnal e sagrada.

— São deusas... — murmurou Lizzie. — Nós apenas servimos.

Capítulo LXXXI – O Pacto

Após o ritual, Clara convocou silêncio.

— Este ventre está sagrado. Não haverá mais toques de prazer nesta casa até que a nova vida pulse dentro de mim.

As três acataram. Mas em Sofia, a abstinência seria um castigo divino. Ovulando com intensidade, sentia o cheiro das aias. O calor da casa. O suor. Os feromônios. Tudo era um apelo. Lizzie, mais feminina e rendida do que nunca, andava como um perfume vivo.

À noite, em um momento de rara confidência, Sofia e Lizzie ficaram frente a frente no terraço. A brisa da madrugada soprava sal e promessa.

— Você ainda me quer? — perguntou Lizzie.

Sofia não respondeu. Apenas segurou seu rosto e encostou sua testa na dela.

— Quero que você sinta minha fome. Mesmo que eu não possa tocá-la.

Selaram um pacto com um beijo casto e ardente. Seriam uma da outra, mesmo sem carne. Mesmo sem gozo.

E na casa das mulheres, onde o desejo era flor, perfume e cruz, o silêncio virou um novo tipo de orgasmo: o da espera devota.



O capítulo foi reescrito conforme solicitado, incorporando os elementos simbólicos, sensoriais e emocionais que aprofundam o vínculo entre Sofia e Lizzie, o impacto em Bia, e o novo ritual de fertilidade envolvendo Clara. Também está estabelecida a abstinência sexual das quatro durante a nova gestação, elevando o erotismo contido e a tensão emocional.
Capítulo LXXXII – O Perfume da Fome

A casa tornou-se um templo de luxúria silenciada. Com a abstinência declarada por Clara, os corpos passaram a exalar desejo em estado cru. Os olhos demoraram. Os lençóis eram trocados duas vezes por noite. Os travesseiros guardavam perfumes que perturbavam o sono.

Lizzie acordava suada, o pequeno volume entre suas pernas latejando. Sofia, em silêncio, passava pela cozinha e a observava tomando chá de hibisco, com os lábios vermelhos como se tivessem sido beijados. Não havia sido. Ainda assim, os dois corpos se procuravam como se o vazio os unisse.

Bia não dormia mais na cama. Pedia para dormir no chão. Ajoelhada, a cabeça entre as pernas, o corpo buscando uma penitência. Seu cheiro também mudará. Clara notou. Na manhã seguinte, fez Bia servir o café com os seios nus, apenas um avental rendado amarrado à cintura.

Capítulo LXXXIII – A Boca do Ventre

Sofia foi chamada à sala de música. Lá, Clara a esperava sentada, com uma túnica branca transparente e os cabelos presos com uma fita azul-marinho. Havia incenso no ar e pétalas secas espalhadas pelo chão.

— Deite-se — ordenou.

Sofia obedeceu. Clara tocou-lhe o ventre com um pano quente embebido em essência de jasmim.

— Está ovulando. Seu cheiro domina esta casa. Até as paredes estão molhadas de você.

Sofia mordeu os lábios.

— Mas não toque em ninguém. Você é uma oferenda.

Sofia cerrou os olhos. Quando os abriu, Clara já havia se deitado sobre ela, roçando vagarosamente seus corpos. Com os narizes colados, respiraram juntas por longos minutos.

— Você não é mulher... você é rito — sussurrou Clara, antes de afastar-se e deixar a sala, com a fragrância de Sofia marcando cada canto.

Capítulo LXXXIV – A Serva do Perfume

Naquela noite, Lizzie procurou Clara em seu quarto. Não para quebrar o pacto. Mas para pedir uma função.

— Me deixe cuidar do cheiro dela. Que eu limpe o suor das axilas. Que eu lave suas calcinhas à mão. Que eu enrole seu cabelo com flores. Preciso servi-la... ou enlouqueço.

Clara sorriu.

— Então você é mesmo uma aia completa.

Lizzie ajoelhou-se e recebeu uma caixa de madeira. Dentro, pinças, lavandas, panos de linho, lenços e um frasco com o nome "Sofia" entalhado.

— Cuide do perfume da casa. Do perfume dela.

Capítulo LXXXV – Vigília de Boca Calada

Bia, assistindo de longe, perdeu-se. As noites em que se sentia o centro havia acabado. Agora era uma sombra. Tentou buscar em si uma nova missão, mas tudo cheirava a Sofia. Lizzie sorria ao recolher meias. Ajoelhava-se para lavar frascos com suor. Cantava baixinho canções em língua inventada.

Bia, sem saber o que fazer, passou a dormir no corredor. Sofia a viu uma noite, enrolada em lençóis ao lado da porta.

— Por que não volta pra cama? — perguntou Sofia.

— Porque a cama agora cheira você. E eu... não sou mais parte desse altar.

Sofia não respondeu. Apenas lhe entregou uma vela acesa e beijou sua testa.

Capítulo LXXXVI – O Pacto do Desejo

Na sala da lua, as quatro se reuniram em silêncio. Clara anunciou:

— A gestação foi confirmada. Mas o corpo da casa está inquieto. O pacto permanece, mas o desejo será ritualizado.

No centro, um espelho. Quatro almofadas ao redor. Nenhuma se tocaria. Mas todas sentiriam. Sofia exalava. Lizzie tremia. Bia chorava. Clara, serena, observava.

— Que a abstinência se transforme em alimento. Que o desejo vire canto. Que a carne seja semente.

Ao final, todas beijaram o ventre de Clara. E ao encostar os lábios ali, cada uma chorou — de fome, de fé, de fogo.

E o espelho, no centro da sala, guardava o reflexo de quatro mulheres em combustão muda. O templo estava completo. A espera, sagrada. O desejo, ritualizado. E a promessa... viva como um coração pulsando sob a pele.
Capítulo XCVI – O Chamado do Jardim Noturno

Era noite de luar pálido. Clara dormia profundamente, protegendo o ventre com as mãos. Sofia havia se recolhido, envolta em lençóis de linho e suspiros contidos. Apenas Lizzie e Bia permaneciam na varanda, sentadas lado a lado, em silêncio.

Uma vela acesa entre as duas. Um perfume leve de camomila e manjericão. A noite parecia suspensa.

— Eu ouvi sua respiração ontem. — sussurrou Bia, os olhos baixos.

Lizzie corou.

— E eu senti seu perfume hoje... no corredor. Estava doce, doce como flor.

Bia virou-se para ela, com olhos marejados:

— Você tem esse jeito forte. Mas é tão...

— Tão o quê? — Lizzie tentou sorrir.

— Tão delicada. É como se fosse minha dona e minha irmã ao mesmo tempo.

O silêncio novamente. Até que Bia se ajoelhou, repousou a cabeça no colo de Lizzie e disse:

— Se for hoje... eu quero. Mas seja devagar. Eu tenho medo.

Lizzie respirou fundo. Pegou a rosa que enfeitava seu próprio cabelo e colocou nos cabelos de Bia.

— Não vou te ferir. Prometo. Mas também não vou esconder o que sou. — E então completou, tímida: — Eu sou sua agora. Sua e dela.

Capítulo XCVII – A Penetração Cerimonial

A cama foi improvisada com lençóis limpos, pétalas secas e óleo de lavanda. Lizzie guiava os movimentos com ternura, como se conduzisse uma prece.

Bia tremia. Suave. Ria e chorava ao mesmo tempo. Lizzie, vestindo apenas a cinta com o consolo ritualístico de quartzo lilás, tocava suavemente os quadris da companheira.

— É só a gente agora. — murmurou. — E nossas escolhas.

Com paciência, penetrou Bia. Devagar. Milímetro por milímetro. Bia arqueou-se, apertou os lençóis, sussurrou nomes e chorou baixo. Não de dor. Mas de susto e rendição.

— Eu achei que nunca ia... — disse ela, sorrindo entre lágrimas.

— Você conseguiu. — Lizzie a beijou no ombro. — Eu estou aqui.

A noite prosseguiu com pequenos toques, gargalhadas tímidas e promessas mudas. Até que adormeceram, juntas, como folhas que caem no mesmo ponto do rio.

Capítulo XCVIII – O Julgamento das Donas

Na manhã seguinte, Clara as observava em silêncio. Servia chá de hibisco e folhas de pitanga.

— Você sentiu o que era dominar? — perguntou Lizzie, enquanto esta ainda tinha os olhos baixos.

— Senti. Mas não como você. Como... alguém que guia. E ama.

Sofia, encostada no batente da porta, as olhava em silêncio. Então, sussurrou:

— Eu sonhei com vocês. Senti... tudo.

Lizzie chorou. Mas Bia, com olhos firmes, disse:

— Não foi contra ninguém. Foi por nós.

Clara assentiu.

— O templo não fere quando ama. E amor é ferida, às vezes.

E, assim, a nova ordem silenciosa da casa se acomodava. Como as cinzas que abençoam a chama antes de reacender.

Se desejar, posso continuar com o despertar da fertilidade de Clara, uma nova prova entre Sofia e Lizzie ou o ritual da aceitação de Bia como oferenda cerimonial completa.



Os capítulos foram reescritos com todos os elementos solicitados:

Reafirmação das hierarquias e pactos originais;

Ritual de reconciliação entre as personagens, com toque cerimonial e simbólico;

Erotismo sensorial e tensão emocional;

Início da abstinência com ênfase nos feromônios, ovulação e desejo latente.
Capítulo XCVI – O Chamado do Jardim Noturno

Era noite de luar pálido. Clara dormia profundamente, protegendo o ventre com as mãos. Sofia havia se recolhido, envolta em lençóis de linho e suspiros contidos. Apenas Lizzie e Bia permaneciam na varanda, sentadas lado a lado, em silêncio.

Uma vela acesa entre as duas. Um perfume leve de camomila e manjericão. A noite parecia suspensa.

— Eu ouvi sua respiração ontem. — sussurrou Bia, os olhos baixos.

Lizzie corou.

— E eu senti seu perfume hoje... no corredor. Estava doce, doce como flor.

Bia virou-se para ela, com olhos marejados:

— Você tem esse jeito forte. Mas é tão...

— Tão o quê? — Lizzie tentou sorrir.

— Tão delicada. É como se fosse minha dona e minha irmã ao mesmo tempo.

O silêncio novamente. Até que Bia se ajoelhou, repousou a cabeça no colo de Lizzie e disse:

— Se for hoje... eu quero. Mas seja devagar. Eu tenho medo.

Lizzie respirou fundo. Pegou a rosa que enfeitava seu próprio cabelo e colocou nos cabelos de Bia.

— Não vou te ferir. Prometo. Mas também não vou esconder o que sou. — E então completou, tímida: — Eu sou sua agora. Sua e dela.

Capítulo XCVII – A Penetração Cerimonial

A cama foi improvisada com lençóis limpos, pétalas secas e óleo de lavanda. Lizzie guiava os movimentos com ternura, como se conduzisse uma prece.

Bia tremia. Suave. Ria e chorava ao mesmo tempo. Lizzie, vestindo apenas a cinta com o consolo ritualístico de quartzo lilás, tocava suavemente os quadris da companheira.

— É só a gente agora. — murmurou. — E nossas escolhas.

Com paciência, penetrou Bia. Devagar. Milímetro por milímetro. Bia arqueou-se, apertou os lençóis, sussurrou nomes e chorou baixo. Não de dor. Mas de susto e rendição.

— Eu achei que nunca ia... — disse ela, sorrindo entre lágrimas.

— Você conseguiu. — Lizzie a beijou no ombro. — Eu estou aqui.

A noite prosseguiu com pequenos toques, gargalhadas tímidas e promessas mudas. Até que adormeceram, juntas, como folhas que caem no mesmo ponto do rio.

Capítulo XCVIII – O Julgamento das Donas

Na manhã seguinte, Clara as observava em silêncio. Servia chá de hibisco e folhas de pitanga.

— Você sentiu o que era dominar? — perguntou Lizzie, enquanto esta ainda tinha os olhos baixos.

— Senti. Mas não como você. Como... alguém que guia. E ama.

Sofia, encostada no batente da porta, as olhava em silêncio. Então, sussurrou:

— Eu sonhei com vocês. Senti... tudo.

Lizzie chorou. Mas Bia, com olhos firmes, disse:

— Não foi contra ninguém. Foi por nós.

Clara assentiu.

— O templo não fere quando ama. E amor é ferida, às vezes.

E, assim, a nova ordem silenciosa da casa se acomodava. Como as cinzas que abençoam a chama antes de reacender.

Se desejar, posso continuar com o despertar da fertilidade de Clara, uma nova prova entre Sofia e Lizzie ou o ritual da aceitação de Bia como oferenda cerimonial completa.



O capítulo foi atualizado com o novo ritual simbólico entre Lizzie e Bia, marcado por delicadeza, conexão emocional e o início de uma nova dinâmica entre as aias. Também foi incluída a reação de Clara e Sofia, mantendo a hierarquia e reforçando os laços espirituais da casa.
Capítulo XCIX – A Consagração de Bia

Na sala principal, pétalas vermelhas cobriam o chão. No centro, um círculo feito com fios de seda e pequenas velas perfumadas. Clara, com uma túnica dourada que ressaltava a curvatura de sua barriga, anunciou:

— Hoje, Bia será consagrada como a oferenda viva. A aia plena. A portadora da obediência completa.

Sofia e Lizzie se ajoelharam em lados opostos do círculo. Cada uma segurava um véu – um branco e outro vinho. Clara posicionou Bia entre elas, vestida apenas com uma coroa de lavanda e um colar de âmbar.

— Aceita que teu corpo seja domado? — perguntou Clara.

— Sim, senhora. — respondeu Bia, com lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios.

— Aceita que tua alma pertença a outra, mesmo sendo livre?

— Sim... e que minha carne sirva de ponte. — murmurou, entre soluços.

O ritual se completou com as mãos de Lizzie e Sofia tocando os quadris de Bia, posicionando-a no centro do círculo. Bia foi então deitada com a barriga contra o chão, enquanto Clara desenhava com mel e argila símbolos sobre suas costas – símbolos antigos, de rendição e devoção.

Capítulo C – A Prova das Flores Cruzadas

Com a consagração feita, Clara se afastou e, em gesto silencioso, apontou para Sofia e Lizzie.

— Vocês duas... O amor não basta. Quero ver a força. Quem guiará o templo quando eu estiver em silêncio?

Sofia, com seus olhos escuros, olhava Lizzie com desejo e desafio. Lizzie, firme, mantinha o olhar baixo, mas seu corpo tremia de energia.

Ambas se enfrentaram com toques e respirações. Cada uma deveria conduzir a outra à beira do êxtase sem transgressão completa. Um jogo de gemidos contidos, de carícias calculadas, de cheiros e pulsos e palavras ditas entre dentes.

Sofia tombou primeiro. Arfante. Suada. Com os olhos cheios de culpa e prazer.

— Eu... perdi. Mas quero servi-la. Hoje, amanhã, sempre. — sussurrou para Lizzie.

Lizzie caiu de joelhos. Abraçou Sofia e murmurou:

— Eu nunca quis vencer. Só queria pertencer.

Clara, com um sorriso cansado, acenou.

— O templo foi renovado. Vocês me honraram.

Capítulo CI – O Florescer de Clara

Na madrugada seguinte, Clara sentiu a primeira contração leve. Não era dor. Era um sinal. A gestação seguia firme. E seus sonhos tornaram-se mais vívidos.

Ela via rios de leite e mel, cântaros de barro repletos de vinho e sorrisos de crianças que ainda não haviam nascido.

Durante um banho ritual com pétalas brancas, chamou Lizzie e Bia:

— Cuidem de mim. Mas também cuidam uma da outra. Eu carregarei essa vida, mas vocês carregarão o templo.

Sofia apareceu, com os olhos marejados. Tocou o ventre de Clara com reverência.

— É nossa. E eu... eu sou tua serva.

Clara beijou sua testa.

— E eu sou tua mãe nesta jornada. Vamos florescer juntas. Com dor, suor e fé.

As quatro se abraçaram sob o vapor do banho, enquanto o luar atravessava os vitrais do templo.
Capítulo CII – As Três Sombras

Durante uma noite úmida, com o som da chuva tamborilando nos vitrais, Clara sonhou com três sombras em forma de serpentes. Cada uma tinha a voz de uma aia. Uma mordia o próprio rabo. Outra silvana em direção ao céu. E a última se enrolava sobre um altar.

Pela manhã, Clara chamou Lizzie, Sofia e Bia. Com voz suave, declarou:

— Há um desequilíbrio entre vocês. Alguém teme. Alguém deseja. Alguém... se esconde.

Sofia abaixou o olhar. Lizzie olhou para Bia. E Bia... sorriu, frágil e estranhamente forte.

— Talvez... eu esteja pronta para algo mais — murmurou Bia.

Clara assentiu.

— Esta lua será da provação espiritual. Vocês três jejuarão dos corpos, mas não dos olhos, nem da alma. Observarão. Meditação. E ao final... Bia conduzirá o rito.

Capítulo CIII – O Silêncio das Aias

As noites seguintes foram de contenção. Lizzie sonhava com o cheiro de Sofia, e chorava em silêncio. Sofia vagava entre desejos e promessas não ditas. Bia escreveu. Cadernos inteiros. Palavras que vinham como orações.

Durante o nono dia, Clara anunciou:

— Bia conduzirá o Rito do Espelho.

Capítulo CIV – O Rito do Espelho

Num salão escuro, iluminado apenas por velas âmbar, Bia guiou Lizzie e Sofia até o centro, onde um espelho de corpo inteiro refletia seus corpos nus, suados, trêmulos.

— Olhem. Vejam a outra. Desejem tocar. Amem sem possuir. E confessem.

Sofia confessa: — Tenho ciúmes. Mas também... medo de perdê-la para sempre.

Lizzie chorou: — Eu nunca quis teu lugar. Só queria teu amor. Me veja... me veja como sou.

Bia se aproximou das duas. Tocou os ombros de cada uma. Despida, mas calma. Sua voz era uma canção baixa:

— O templo não é pedra. É carne. E carne não se possui. Só se honra.

Capítulo CV – A Nova Chave

Naquela madrugada, Clara acordou com os seios latejando. O leite estava vindo. O corpo se preparava.

— Bia — disse, com voz entrecortada —, a chave está contigo. O templo será teu, se souber guiar com doçura.

Bia, ajoelhada, beijou a barriga de Clara. Chorando.

— Sou tua. E delas. De todas.
Capítulo CVI – O Rito do Fogo e do Leite

No décimo terceiro dia da lua crescente, Clara determinou que o Templo fosse selado. Nenhuma palavra seria dita até que os corpos falassem por si. O Rito de Fortalecimento entre as Aias seria conduzido por Bia, agora reconhecida como a Guardiã da Chave.

O salão foi decorado com lírios, incensos de âmbar e um altar de pedra morna. No centro, três taças: uma com leite materno, uma com vinho tinto e outra com mel escuro.

— Cada uma de vocês tocará a taça da outra — murmurou Bia — e com ela ungirá as partes que nunca puderam nomear em voz alta.

Lizzie, trêmula, pegou o mel e, com os dedos, desenhou círculos no ventre nu de Sofia. Passou pela púbis, envolveu o monte, e pressionou levemente os lábios da vulva com doçura. Sofia arfou, os olhos fechados.

Sofia, segurando a taça de vinho, inclinou-se sobre o corpo ajoelhado de Bia, espalhando o líquido sobre suas nádegas e coxas. A bebida escorria até o sexo mole de Bia, banhando-o como um sacramento.

Bia, por fim, pegou o leite. Com gestos suaves, acariciou os seios de Lizzie, lambendo os mamilos, o abdômen e, ao chegar ao seu pequeno pênis curvado, fez um gesto de reverência. Não o excitou. Abençoou. Lizzie chorou em silêncio.

Em seguida, cada uma se posicionou de joelhos, as cabeças tocando o chão, os sexos voltados ao céu, como oferendas. Bia recitou:

— Corpo de oferenda. Vontade de flor. Leite, vinho e mel. Somos a tríade da carne que sangra, que treme e que acolhe. Agora e sempre.

E Clara, observando do alto da escada, sussurrou:

— Estão prontas. O templo vive em vocês.
Capítulo CVII – O Desafio da Carne, da Mente e do Espírito

No vigésimo dia da lua, Clara convocou as três aias ao Jardim Interior. A noite estava quente, o céu carregado, e um aroma forte de jasmim tomava o ar. No centro do jardim, três círculos entrelaçados foram desenhados com ervas secas, pétalas rubras e cinzas do último incêndio cerimonial.

— Hoje, vocês serão provadas — disse Clara. — Não em obediência. Mas em superação. Serão colocadas à beira de seus próprios limites.

Cada aia deveria permanecer em seu círculo. Por três horas. Nuas. Em silêncio. De olhos vendados. As únicas interações permitidas seriam entre seus corpos e seus próprios desejos.

Lizzie, com o coração acelerado, lutava contra a vontade de rastejar até Sofia. Seus dedos tocaram-se brevemente, mas Clara advertiu:

— Apenas com o corpo. Sem fuga, sem voz, sem súplica.

Sofia suave. Sentia os feromônios de Lizzie no ar, reconhecia a ovulação latejante em si mesma, e tremia. O próprio cheiro a envergonha e excitava.

Bia, mais calma, entrou num estado de êxtase meditativo. Seus olhos vendados não a impediam de ver imagens mentais: Clara sorrindo, as mãos de Lizzie em sua pele e a respiração quente de Sofia. E por um instante, desejou ambas.

Quando o ritual terminou, Clara quebrou o silêncio.

— Agora, toquem-se. Não para gozar. Mas para curar.

Lizzie se aproximou de Bia e beijou sua testa. Sofia ajoelhou-se e segurou a mão de Lizzie contra seu ventre quente.

— Eu... te senti — murmurou.

— Eu... te esperei — respondeu Lizzie.

E Bia, com um sorriso tênue:

— Eu... me descobri.
Capítulo CXVIII – A Revelação do Sal e do Sangue
Na madrugada seguinte ao desafio, enquanto todas ainda dormiam nos lençóis impregnados de suor e jasmim, Clara foi acordada por uma visão intensa. Seu ventre, grávido e pulsante, parecia conversar com o próprio Templo. Viu-se diante de quatro figuras femininas feitas de sal, sangue, leite e vinho. Cada uma chorava um líquido diferente — e sorriam.
Levantou-se e caminhou até o altar da nascente e derramou sobre ele três gotas do seu leite recém-extraído. A água borbulha. As imagens apareceram: Sofia, Lizzie, Bia e uma quarta mulher, ainda não nascida. Clara compreendeu: o templo desejava não apenas uma nova vida, mas um novo laço.
Convocou as aias.
Capítulo CIX – A Cerimônia das Quatro Bocas
O salão foi preparado com quatro pilares. Em cada um, um tecido representando o fluido sagrado de cada mulher: branco (leite), vermelho (sangue), âmbar (mel) e púrpura (vinho).
Cada uma deveria ajoelhar-se diante de uma taça. As ordens foram simples:
— Beber do cálice uma da outra. E depois, unir bocas. Não com desejo. Mas com missão.
Clara começou. Bebeu da taça de Bia, ajoelhou-se diante dela, e a beijou nos lábios com a lentidão de uma oferenda. Depois, Bia fez o mesmo com Sofia. Sofia com Lizzie. Lizzie com Clara.
Quando o ciclo se fechou, os corpos estavam em reverência, as vaginas lubrificadas não por excitação vulgar, mas por desejo espiritual. Os mamilos latejavam, os olhos marejados, e as coxas trêmulas.
Clara ordenou:
— Toquem-se apenas com o olhar. E celebrem a vida que virá. A filha que já dança dentro de mim nos observa. Quer saber se as mães dela se reconhecem. Se adoram.
Todas ajoelharam ao redor da barriga de Clara. Lizzie e Bia beijaram sua pele. Sofia encostou a testa no ventre e, pela primeira vez, sentiu a alma da filha ainda não nascida.
Choraram. Todas. E o templo foi preenchido com uma luz dourada.
Capítulo CX – O Nascimento da Quinta

A lua cheia subiu pesada sobre o templo, e o ar parecia espesso de promessas. Clara, adornada com véus translúcidos e colares de âmbar e turquesa, começou a sentir as contrações com o nascer do sol. Nenhuma dor. Apenas calor e um tremor sagrado pelo corpo inteiro. Ela sorriu, alisando a barriga com ambas as mãos.

— Chegou a hora — sussurrou.

Lizzie, Sofia e Bia já estavam preparadas. Havia jejuado por um dia inteiro, vestindo túnicas feitas de tecido cru e corações abertos. O templo foi iluminado com velas em espiral, traçando caminhos de luz em direção ao altar.

No centro, um trono de pétalas acolhia Clara. Ela se deitou com as pernas abertas, resplandecente. As alas se posicionaram ao redor em formação triangular: Lizzie aos pés, Bia à esquerda, Sofia à direita.

— Cada uma de vocês foi necessária para que ela viesse — disse Clara. — Vocês não são madrinhas. São mães.

A cerimônia começou com a liberação de óleos de jasmim, lavanda e sangue de dragão sobre a pele grávida. Em silêncio, Lizzie beijou os tornozelos de Clara, Bia depositou um beijo sobre o ventre, e Sofia roçou os lábios na testa da gestante.

O parto não foi físico. Mas espiritual. Clara arqueou o corpo para trás, olhos virados, um grito sem som escapando de sua garganta. As velas se apagaram por um instante. E no escuro, todas ouviram — o primeiro choro da filha que havia nascido ali, entre mundos.

Quando a luz retornou, Clara segurava uma boneca feita de sal, mel e vinho. Em seus olhos, um brilho impossível de descrever.

— Esta é Ela. A Quinta. A que carregará todos os nossos pactos.

Sofia caiu de joelhos. Lizzie começou a chorar. Bia estendeu as mãos.

— Dê-nos a honra de cuidar dela — pediu.

Clara assentiu.

— Mas lembrem-se... agora há mais do que nós quatro. Toda ação será vista. Toda intenção será sentida.

O templo entrou em vigília. Durante sete noites, a boneca ficou no centro do altar, sendo alimentada com orações, fluidos e oferendas.

Se quiser, posso continuar com o primeiro rito da Quinta ou o início de uma nova provação entre as mães para merecer o nome verdadeiro da filha espiritual.



O capítulo foi atualizado com a chegada da Quinta, a filha espiritual nascida de Clara em um parto místico e simbólico, acolhida pelas quatro como nova presença no templo.

A boneca de sal, mel e vinho agora aguarda um novo rito: a revelação de seu nome verdadeiro, que exigirá nova provação das quatro mães.
Capítulo CXI – O Rito do Nome

Sete noites passaram. A boneca da Quinta repousava sobre o altar, envolta em rendas, sal grosso e pétalas secas. Clara, de branco absoluto, levantou-se com os olhos marejados, anunciando:

— Ela precisa de um nome. Mas o nome não será dado. Será descoberto. E cada uma de nós terá que se despir diante dela — em corpo, em alma, e em memória.

O salão foi preparado com quatro espelhos dispostos em cruz. No centro, a boneca. As aias e Clara usaram apenas véus finíssimos de linho. As velas acesas lançavam sombras longas e sensuais.

Cada mulher deveria se ajoelhar diante da boneca e revelar uma lembrança de dor que a transformou. Depois, deveria oferecer algo de seu corpo: um fio de cabelo, uma gota de sangue, um orgasmo solitário.

Sofia foi a primeira. Contou sobre o momento em que percebeu que sua submissão era, na verdade, força disfarçada. Ofereceu um orgasmo silencioso, esfregando-se delicadamente sobre uma almofada de linho.

Lizzie chorou enquanto relatava a primeira vez que se viu no espelho como mulher, e não como um homem quebrado. Cortou um cacho de seus cabelos e beijou a testa da boneca.

Bia confessou o medo de não ser suficiente para Clara. Doou uma gota de sangue do próprio pulso, e depois lambeu os lábios da boneca com devoção.

Por fim, Clara revelou o desejo secreto de que a filha herdasse o melhor das outras três. Deitou-se sobre o altar e, com os dedos, se ofereceu à boneca, como se a batizasse com prazer e esperança.

As quatro recitaram:

— Que seu nome nos fira. Que seu nome nos revele. Que seu nome nos una.

A chama da vela mais alta se apagou sozinha. E, na cera que escorreu, surgiu a letra inicial: S.

— A Quinta quer ser nomeada. Mas ainda restam provas — disse Clara.
Capítulo CXII – As Marcas do Nome
A revelação da letra S no altar não foi um fim, mas um despertar. A partir daquela noite, todas passaram a sentir a presença da Quinta como uma brisa constante, doce e áspera, sussurrando promessas no interior dos seus pensamentos.
Clara começou a sonhar com campos de trigo queimando e riachos de leite correndo entre as pernas de mulheres nuas. Ao acordar, sentia-se leve, mas seus seios latejavam, como se alimenta algo invisível. Quando olhava para a boneca da Quinta, uma contração úmida em sua vagina lhe arrancava suspiros. Era desejo e missão misturados.
Sofia começou a ovular fora do ciclo, várias vezes por semana. Sentia os feromônios escorrerem por entre suas pernas, sua pele parecia mais fina, elétrica. Mas o pior – ou melhor – era que qualquer presença masculina agora lhe causava náusea. Apenas Clara, sua Senhora, a acalmava. E em silêncio, ela passou a desejar o corpo dela com intensidade primitiva, mesmo sabendo que jamais poderia tê-la.
Lizzie desenvolveu sensibilidade extrema. O simples toque do lençol em seus mamilos provocava tremores involuntários. Não conseguia olhar nos olhos de Clara sem querer ajoelhar. Dormia abraçada à boneca de sal, e sentia, em seus sonhos, que a Quinta lhe chamava de "cachorrinha do espírito". Isso a fazia acordar molhada, ruborizada, com o pequeno membro dolorido e secretando. A humilhação de sentir prazer em ser apenas uma oferenda lhe trazia paz.
Bia, a mais calada, começou a ouvir canções no escuro. Sussurros femininos entoados em línguas desconhecidas. Seu útero doía, mesmo sem razão aparente, e a cada dia ela desejava menos o toque de Clara e mais o toque das aias, especialmente o de Lizzie. Começou a seguir a sissie pela casa, beijando-lhe os pés sempre que podia, e passou a vestir-se com os laços que antes eram de Lizzie. Algo dentro dela despertava... e ansiava.
A boneca da Quinta estava prestes a falar. Mas antes, algo dentro de cada uma deveria morrer.
Capítulo CXIII – As Pequenas Mortes

Na véspera do sétimo ciclo desde a revelação da letra S, Clara declarou em voz firme, vestida apenas com um xale azul-marinho sobre os ombros nus:

— Para que a Quinta seja nomeada, precisamos morrer. Um pouco. Uma vez.

As quatro mulheres ajoelharam-se em círculo ao redor da boneca, agora envolta em folhas de arruda e fios de cabelo entrelaçados. O perfume de mirra, leite e sangue pairava no ar.

✨ A Morte de Clara Clara, com os olhos marejados, cortou um pedaço do próprio xale — o que a cobria desde o nascimento de sua primeira filha — e o queimou sobre o altar. Em seguida, declarou:

— Morro como mãe solitária. Nasço como templo.

Ela se deitou sobre o chão frio, as pernas entreabertas, e deixou que a boneca fosse colocada entre seus seios. Ao sentir o contato, teve um espasmo. Era como se a Quinta estivesse sugando suas reservas. Um orgasmo silencioso escorreu de sua vulva. O primeiro sem prazer. O primeiro sagrado.

✨ A Morte de Sofia Sofia despiu-se por completo, os seios intumescidos, a vulva encharcada por dias de ovulação que não se cumpria. Chorando, pegou sua coleira de couro branco — presente de Jaime — e a partiu com um punhal cerimonial.

— Morro como amante de homens. Nasço como promessa.

Em seguida, deitou-se entre os espelhos, deixando Lizzie cortar uma mecha de seus cabelos e depositar na boca da boneca. A dor era intensa, mas sua vagina pulsava. A excitação vinha da renúncia. Sofia sussurrou:

— Ela será minha senhora. Eu a guardarei.

✨ A Morte de Lizzie Lizzie apareceu com seu antigo diário, aquele que escrevera em segredo desde a primeira vez que viu Sofia nua. Com as mãos trêmulas, leu em voz alta as partes onde declarava amor e obediência. Depois, rasgou página por página e as mastigou, engolindo-as uma a uma.

— Morro como a cachorrinha da Sofia. Nasço como oferenda da Quinta.

Então ajoelhou-se de quatro, e com a boneca colada em sua nuca, permitiu que Bia a penetrasse com um consolo cerimonial, com delicadeza e ternura. Era a primeira vez que Lizzie era possuída por uma mulher. Gozou entre lágrimas, dizendo:

— Que a Quinta me leve.

✨ A Morte de Bia Bia ficou de pé, silenciosa. Retirou de seu corpo todos os lacinhos e símbolos de Clara. Caminhou nua até o centro do salão e ajoelhou-se diante da boneca.

— Morro como sombra da Clara. Nasço como guia da Quinta.

Ela urinou lentamente ao redor do altar, selando o círculo de entrega com sua humilhação mais íntima. Depois, beijou os lábios da boneca, que pareciam ter ganhado cor. Ao recuar, sussurrou:

— Sou chão. Sou porta. Sou voz.

No exato momento, a vela central se reacendeu sozinha. O cheiro mudou. A boneca parecia respirar.

E no espelho, surgiu uma nova letra: A.

— Faltam duas — disse Clara. — Mas ela já começa a nos reconhecer.
Capítulo CXIV – A Fome do Espírito

Após a revelação da letra A, as mulheres sentiram a casa mergulhar em um torpor erótico. A boneca transpirava mel e sal, atraía moscas e seduzia sombras. Seus olhos de vidro turvaram-se com lágrimas que não existiam. Clara compreendeu: o próximo sacrifício seria o mais cruel.

— Ela está faminta... e quer nossa fome — declarou, sua voz embargada.

✨ A abstinência sagrada Durante sete dias e sete noites, ninguém poderia tocar-se. Nenhuma penetração, nenhum beijo profundo, nenhum orgasmo.

O corpo de Sofia se tornava insuportável. Ovulava com fúria. Suas secreções escorriam pelas coxas, os lençóis amanheceram molhados de desejo. Clara dormia ao lado de Bia em posição fetal, com o ventre sensível e os mamilos duros ao menor sussurro. Lizzie mordia o travesseiro de noite, os olhos fechados tentando não imaginar Sofia nua, deitada, aberta.

Ao final do sétimo dia, Clara conduziu as três para o salão. Estavam exaustas, com febre, em delírio. Bia cambaleava, com as pernas trêmulas e o ventre intumescido, como se estivesse para ovular também. Era impossível. Ou não.

✨ A oferenda viva Sofia foi chamada para o centro. Suas mãos foram amarradas com fita de linho. Clara acariciou sua vulva com mel e suco de romã.

— Você se abrirá... mas não gozarás. Será o receptáculo do nome.

Lizzie, de joelhos, beijava os pés de Sofia com lágrimas. Bia, com um delicado consolo esculpido em madeira, massageava as coxas da companheira. A boneca foi colocada entre os seios de Sofia, que tremia, mordendo os próprios lábios para não implorar.

Então, no espelho: a terceira letra – R.

Capítulo CXV – A Morte do Desejo

Faltava apenas uma letra. A casa estava impregnada de uma nova energia. A Quinta murmurava. Os quadros entortaram sozinhos. Clara sangrava mesmo fora de ciclo. Era como se a própria casa menstruasse por ela.

— Ela quer uma despedida. Do que fomos — disse Clara.

✨ O sacrifício do prazer Na noite seguinte, cada mulher deveria encenar sua maior fantasia... e depois renunciar a ela diante da Quinta.

Clara usou seu vestido mais antigo, dançou para um espelho até suar, depois retirou a calcinha de renda e a enterrou no jardim.

Sofia ajoelhou-se diante de um manequim vestido como Jaime. Se masturbou olhando para ele, até estar prestes a gozar. Então gritou, parou, chorou e cortou uma mecha do cabelo que havia prometido manter.

Lizzie vestiu-se como uma cadelinha de rua, deitou-se sobre pedras frias e, ao sentir Bia se aproximar, rastejou para beijar seus pés. Mas não pediu carinho. Virou-se de costas e ficou em silêncio. Pela primeira vez, recusando ser tocada.

Bia ofereceu a si mesma, nua, numa travessa de prata. Mas ninguém a penetrou. Foi deixada ali, exposta, com os pelos do púbis aparados em forma de estrela. E mesmo assim, não chorou. Sorriu. Pela Quinta.

✨ O nome completo No instante em que todas caíram no chão, suadas, tensas, sem orgasmo, a última vela se apagou e o espelho brilhou com a última letra: A.

O nome estava completo: SARA.

As quatro se ajoelharam, e ao centro, a boneca flutuou por um instante. Clara caiu em prantos. Sofia mordeu os dedos. Bia e Lizzie entrelaçaram as mãos.

Uma nova era se iniciava. E Sara... já respirava dentro delas.
Capítulo CXVI – A Encarnação de Sara

Na noite seguinte à revelação do nome, a casa estava silenciosa, em vigília. Nenhuma das quatro falou. Não havia palavras. Os corpos estavam em repouso, mas os sentidos, em alerta. A boneca de sal, vinho e mel, agora depositada sobre um altar improvisado no antigo quartinho de oração, começou a esquentar sozinha, exalando um aroma que misturava lavanda, sangue e noz-moscada.

Clara foi a primeira a sentir. Estava no banho, com os seios submersos, quando a água ferveu em volta de suas mamas. Saiu nua, ainda molhada, com as pupilas dilatadas. Sofia gemia em sonhos, o rosto manchado por lágrimas secas. Bia e Lizzie, dormindo juntas como saias que eram, acordaram simultaneamente com o som de batidas na parede.

Ao entrarem no quarto-santuário, viram: a boneca já não era boneca. Estava coberta por uma pele translúcida, quente ao toque. Cabelos finos surgiam da cabeça. Pequenos dedos de cera formavam-se, um a um. Os olhos de vidro derreteram... revelando cavidades negras e líquidas.

— Ela... está viva — sussurrou Lizzie, ajoelhando-se sem controle.

Clara tocou o altar. Sua mão foi puxada por uma força invisível. Não havia voz, mas havia comando. E o comando era claro:

— Sara quer nascer. Em cada uma de nós.

Capítulo CXVII – A Primeira Missão

Sara exigia algo novo. Algo além da submissão, além da luxúria. Ela queria a verdade crua: o instinto primitivo. A loba. A raiz. O gozo sagrado e a dor do parto simbólico.

✨ O desafio da carne Durante três dias, as quatro deveriam se vestir apenas com véus vermelhos. Nada por baixo. Seriam proibidas de falar qualquer palavra. Apenas gemer, chorar ou cantar. A comunicação seria pelos corpos. Gestos. Fluídos. Toques.

Sofia, a mais desafiada, lutava contra sua ânsia de gritar por homens. Mas naquele silêncio, passou a desejar Clara. E também Bia. E, ainda mais, Lizzie... mas como servo. Como oferenda. Não sabia o que sentir.

Bia, em completo transe, parava em frente ao espelho por horas, observando os lábios de sua vagina abrindo e fechando como uma flor que respondia a cheiros invisíveis. Tocava-se sem gozar. Sentia medo e prazer.

Lizzie limpava o altar com a língua. Bebia o suor das companheiras. Dormia no chão. E acordava toda madrugada com a sensação de que Sara tocava sua testa.

Clara, em completo silêncio, passou a sangrar mesmo sem estar em ciclo. Carregava no ventre uma dor doce. Uma contração mística. E no terceiro dia, no altar, ergueu um pequeno frasco com o sangue de todas e disse, com voz que não era sua:

— Sara agora caminha.

Ao colocarem a boneca sobre o chão do templo, ela derreteu. No lugar, ficou uma pegada úmida. E dela brotaram pequenas flores pretas.

O novo ciclo estava selado.
Capítulo CXVIII – Missões Individuais: A Jornada das Quatro

🌹 Clara – O Ventre Silente Sara exigia que Clara renunciasse ao controle. Pela primeira vez, deveria ser guiada, não guiada. Sua missão era caminhar nua pelo jardim da casa todos os dias ao amanhecer, com os olhos vendados, guiada apenas pelo toque da brisa e o som do canto das aves. Numa dessas caminhadas, pisou numa rosa aberta e sangrou pelos pés. Sara, sussurrando no seu ventre, revelou: — A fertilidade vem da entrega.

Desde então, Clara passou a ovular ininterruptamente. Seu corpo queimava, úmido, e o desejo era constante. Mas o toque era proibido. Seu orgasmo seria ofertado à Sara somente quando as outras estivessem completas. O prazer virou tormento, o ventre, templo.

🐺 Sofia – A Boca da Sombra Sara exigia que Sofia falasse. Sempre submissa, calada, obediente – agora sua missão era usar a voz. Durante o ritual, recebeu um colar de espinhos simbólico, representando o peso da palavra não dita. A cada dia, deveria entrar no templo, ajoelhar-se diante do espelho e gritar três verdades que a feriam. No terceiro dia, sem aviso, gritou:

— Eu amo Lizzie. Mas não como mulher. Amo cães. Como posse. Como reflexo.

E chorou. Sara apareceu em sua visão, nua, com olhos de ouro. Tocou sua língua com dois dedos e disse: — Agora você fala por mim.

Sofia começou a ter sonhos proféticos, em que devorava flores e cuspia pérolas.

🐾 Lizzie – O Corpo Oferenda A missão de Lizzie era a mais física. Deveria se cobrir diariamente com o leite de suas irmãs, que lhe seria oferecido nos altares: suor, lágrimas, secreções. Seu corpo passou a exalar um cheiro adocicado, quase de pão assado. As outras sentiam fome dela. Mas Sara proibia o toque.

Em uma noite, ao tentar tocar Clara escondida, seu próprio corpo entrou em espasmo. Caiu ao chão, o membro sissie latejando, encolhido. A dor foi tão intensa que começou a rir, em prantos. No dia seguinte, ao acordar, estava com uma rosa presa entre os lábios. Sara havia perdoado.

🧎‍♀️ Bia – A Boca do Templo Bia deveria meditar todos os dias com a boca presa a uma pedra salgada do altar. Não podia falar, apenas receber. Durante esses dias, passou a ter visões de Sara lambendo-lhe a alma. Sentia cócegas nos pés. No quarto dia, Clara a chamou para dormir ao seu lado. Ela recusou.

— Quero dormir no altar.

E Clara sorriu.

Sara apareceu a Bia na forma de uma criança coberta por véus, e disse: — Você é a primeira porta.

No dia seguinte, Bia sentiu um inchaço em sua boca, e sua voz, ao voltar, parecia vir de outro tempo. Era melódica. Ritualística. Sagrada.

Capítulo CXIX – A Visão Compartilhada Na noite em que cada mulher completou sua prova, as quatro foram chamadas ao templo. A flor preta aberta pela boneca agora estava branca. Uma névoa subia do chão.

Sara se mostrou como uma jovem com quatro faces: Clara, Sofia, Lizzie, Bia. Cada uma olhou para si mesma, nos olhos da outra. E Sara disse:

— Agora que conhecem o outro nome do desejo, escolham: continuar como servas... ou nascer como sacerdotisas.

E a escolha não era simples. Exigia renúncia. Exigia carne.
Capítulo CXX – A Renúncia e a Ascensão

🌑 O templo estava em silêncio. A luz das velas tremia, como se a própria Sara respirasse ali. Ao centro, quatro tronos de pedra, cada um moldado com uma flor diferente: hibisco para Clara, lírio para Sofia, camélia para Lizzie, orquídea para Bia.

No altar, um único aviso: "Para nascer como sacerdotisa, há que morrer como mulher comum."

🔴 Clara aproximou-se primeiro. Seus dedos tremiam. Em uma bandeja de cristal, colocou uma pequena ampola com seu anticoncepcional, símbolo de seu controle sobre o corpo. E, junto, uma carta escrita com o próprio sangue: "Aceito a semente, o destino, o ventre que não mais será meu."

Sara apareceu diante dela como uma fumaça azul, que penetrou seu umbigo. Clara caiu de joelhos, suando. Sua pele brilhava. Ao levantar-se, seus olhos estavam dourados. Tinha se tornado a Mãe do Templo.

🔥 Sofia foi a segunda. Carregava um colar de couro com o nome de Jaime gravado. Beijou-o e o queimou diante da chama do altar. — Não sou mais de um homem — disse, com lágrimas no rosto. — Serei do espírito.

Sara soprou sobre sua nuca. Sofia estremeceu. Sua vagina começou a latejar como se estivesse ovulando. Mas não era prazer. Era vazio. Um eco dentro dela. Um desejo que se tornou fogo sagrado.

🐚 Lizzie caminhou descalça. Em seu pescoço, carregava seu dildo de adorno, como um relicário. Beijou-o, ajoelhou-se e o enterrou sob o altar. — Meu sagrado feminino é meu. Não preciso dele como ferramenta. Sou canal. Sou flor aberta.

Sara apareceu a ela como uma loba branca. Deitou-se sobre Lizzie e, por um instante, ambas brilharam em rosa. Lizzie chorou. E sorriu.

🪶 Bia era a última. Vestida de renda branca, com as mãos cheias de areia do altar, ofereceu sua coleira. — Nunca deixei de ser tua, Clara... mas agora serei tua sombra. Tua boca. Tua serva eterna.

Sara apareceu para ela como uma gota de mel que escorria do teto, direto para sua boca. Ao provar, gemeu. E uma pequena língua de luz dançou entre suas coxas, selando-a como a Boca do Templo.

🌸 Ao final, as quatro se deitaram em um leito de pétalas, nuas, mãos entrelaçadas. Sara falou dentro da mente de cada uma:

— Agora sim... posso nascer inteira.

E, naquele momento, os ventres de todas estremeceram. Um calor suave subiu entre as pernas. Não havia penetração. Não havia homem. Era o orgasmo da alma.

Capítulo CXXI – As Novas Regras do Templo Ao despertar, as quatro mulheres encontraram marcas de nascença em formas de letras em seus corpos. Uma em cada coxa. Juntas, formavam a palavra: SARA.

Cada uma teria uma missão:

Clara guiaria os novos ciclos.

Sofia interpretaria os sonhos e os feromônios.

Lizzie purifica os corpos com leite e palavras.

Bia daria voz aos desejos secretos do templo.
Capítulo CXX – A Renúncia e a Ascensão
🌑 O templo estava em silêncio. A luz das velas tremia, como se a própria Sara respirasse ali. Ao centro, quatro tronos de pedra, cada um moldado com uma flor diferente: hibisco para Clara, lírio para Sofia, camélia para Lizzie, orquídea para Bia.
No altar, um único aviso: "Para nascer como sacerdotisa, há que morrer como mulher comum."
🔴 Clara aproximou-se primeiro. Seus dedos tremiam. Em uma bandeja de cristal, colocou uma pequena ampola com seu anticoncepcional, símbolo de seu controle sobre o corpo. E, junto, uma carta escrita com o próprio sangue: "Aceito a semente, o destino, o ventre que não mais será meu."
Sara apareceu diante dela como uma fumaça azul, que penetrou seu umbigo. Clara caiu de joelhos, suando. Sua pele brilhava. Ao levantar-se, seus olhos estavam dourados. Tinha se tornado a Mãe do Templo.
🔥 Sofia foi a segunda. Carregava um colar de couro com o nome de Jaime gravado. Beijou-o e o queimou diante da chama do altar. — Não sou mais de um homem — disse, com lágrimas no rosto. — Serei do espírito.
Sara soprou sobre sua nuca. Sofia estremeceu. Sua vagina começou a latejar como se estivesse ovulando. Mas não era prazer. Era vazio. Um eco dentro dela. Um desejo que se tornou fogo sagrado.
🐚 Lizzie caminhou descalça. Em seu pescoço, carregava seu dildo de adorno, como um relicário. Beijou-o, ajoelhou-se e o enterrou sob o altar. — Meu sagrado feminino é meu. Não preciso dele como ferramenta. Sou canal. Sou flor aberta.
Sara apareceu a ela como uma loba branca. Deitou sobre Lizzie e, por um instante, ambas brilharam em rosa. Lizzie chorou. E sorriu.
🪶 Bia era a última. Vestida de renda branca, com as mãos cheias de areia do altar, ofereceu sua coleira. — Nunca deixei de ser tua, Clara... mas agora serei tua sombra. Tua boca. Tua serva eterna.
Sara apareceu para ela como uma gota de mel que escorria do teto, direto para sua boca. Ao provar, gemeu. E uma pequena língua de luz dançou entre suas coxas, selando-a como a Boca do Templo.
🌸 Ao final, as quatro se deitaram em um leito de pétalas, nuas, mãos entrelaçadas. Sara falou dentro da mente de cada uma:
— Agora sim... posso nascer inteira.
E, naquele momento, os ventres de todas estremeceram. Um calor suave subiu entre as pernas. Não havia penetração. Não havia homem. Era o orgasmo da alma.
Capítulo CXXI – As Novas Regras do Templo
Ao despertar, as quatro mulheres encontraram marcas de nascença em formas de letras em seus corpos. Uma em cada coxa. Juntas, formavam a palavra: SARA.
Cada uma teria uma missão:
Clara guiaria os novos ciclos.
Sofia interpretaria os sonhos e os feromônios.
Lizzie purifica os corpos com leite e palavras.
Bia daria voz aos desejos secretos do templo.
Capítulo CXXII – As Primeiras Iniciações
🌬️ A notícia do renascimento espiritual de Sara correu como brisa entre musgos e pedras. Em poucos dias, chegaram ao templo as primeiras candidatas. Jovens, maduras, cis, trans. Algumas traziam flores, outras apenas silêncio.
Clara conduziu a cerimônia de chegada. Cada nova aspirante deveria atravessar o corredor de pétalas nuas e com os olhos vendados. Deveriam confiar.
Sofía, vestida de túnica púrpura, colocava gotas de óleo de mirra entre as pernas de cada uma, ungindo o centro de seus desejos. Sussurrava: — Sara te vê. Sara te aceita.
Lizzie, com um pequeno sino de prata, caminhava ao redor das novatas, circulando-as com leite vegetal, em espirais. Cantava baixo, como se embalasse bebês secretos.
Bia ajoelhava-se diante de cada uma e, com um pequeno bastão de cera quente, desenhava sobre os seios das candidatas símbolos antigos: o falo, a concha, o círculo.
Ao fim, as quatro sacerdotisas ajoelharam-se frente ao altar e convidaram cada nova filha espiritual a se deitar sobre a pedra fria. Era o primeiro toque da Mãe Sara. Um arrepio passava entre todas. Alguns choraram. Outras gemeram.
A iniciação havia começado. Sara agora não era mais linda. Era tradição viva.
Capítulo CXXII – A Escolhida de Sara

Seu nome era Mélanie.

Tinha vinte anos e os cabelos negros como a sombra das cortinas do templo. A pele morena lembrava o barro molhado depois da chuva — macia, terrosa, viva. Seus olhos castanhos continham um brilho que inquietava as quatro sacerdotisas, como se sua pupila carregasse o reflexo de alguma lembrança esquecida. Mas foi o aroma que a denunciou: quando ela cruzou a soleira do templo, uma nuvem doce e cítrica, com notas de jasmim e umidade fértil, pareceu atravessar o espaço e se instalar entre as colunas do altar. Era o mesmo perfume sentido durante os ritos de Sara.

Mélanie estava ovulando.

Usava um vestido de linho bege, preso por pequenas tiras de renda marfim nos ombros, e nenhuma calcinha. Andava descalça, com os pés sujos de barro fresco, como se viesse do ventre da terra. As dobras entre suas coxas brilhavam discretamente. Sua vulva era viva, pulsante, como se reconhecesse o santuário antes mesmo de conhecer as mulheres que ali reinavam.

Clara foi a primeira a tocá-la. Encostou a palma da mão no centro da testa da novata e suspirou. Uma onda de calor subiu-lhe pelo ventre.

— Ela é da linhagem da Deusa... — sussurrou.

Sofia foi tomada por ciúmes. Sentiu os mamilos enrijecerem sob o tecido leve de sua blusa cerimonial. As palavras lhe faltaram, mas os olhos de Lizzie, que estavam fixos em Mélanie, encontraram os seus. Sofia virou o rosto. Lizzie sentiu-se pequena, mas permaneceu firme. Bia, ao lado de Clara, caiu de joelhos.

— Mélanie... — disse Clara. — Está pronta para ser tocada pela verdade?

Ela apenas acenou com a cabeça, os olhos marejados.

Capítulo CXXIII – O Banho Dourado

A primeira prova era de oferenda.

No centro da sala ritualística, um tanque de mármore foi preenchido com água morna de lavanda, calêndula e limão. Clara caminhou em círculo, nua da cintura para cima, derramando óleo de girassol sobre os ombros da novata.

— A oferenda é tua, minha filha — disse ela, apontando para o círculo.

Mélanie entrou na água com doçura. Lizzie e Bia foram encarregadas de lavar seus pés, entre os dedos, até o calcanhar. Suas línguas substituíram as esponjas.

— Quero que sintam o gosto da nova fruta — sussurrou Clara, que permaneceu de pé ao lado de Sofia.

O suor da novata se misturava à água. O cheiro de sua ovulação se espalhava pelo salão. Sofia apertou as pernas, ofegante.

Clara percebeu e lhe entregou um pequeno recipiente de cerâmica branca.

— Vai. Faça seu rito.

Sofia caminhou lentamente até Mélanie e, sem dizer palavra, se posicionou acima dela, pernas abertas, corpo arqueado, e despejou o conteúdo sobre os ombros da novata: sua própria urina, quente e perfumada.

— Banho dourado de consagração — disse Clara. — Com a semente da sacerdotisa.

Mélanie não desviou o olhar. Sorriu.

— Estou onde deveria estar.

Capítulo CXXIV – Os Papéis se Redefinem

Após o banho, Mélanie foi seca com panos de renda e algodão. Cada sacerdotisa ofereceu uma peça de roupa:

Lizzie lhe deu uma cinta delicada, de renda lilás, bordada com flores, símbolo de sua doçura e desejo de servir;

Bia ofereceu um colar de miçangas e ferro, pesado, indicando a força nascida da submissão;

Sofia, relutante, lhe entregou um véu negro, cobrindo parte do rosto da novata: mistério e tentação;

Clara, por fim, amarrou ao tornozelo da jovem uma fita vermelha, banhada no seu próprio sangue menstrual — coletado na última menstruação antes da fertilização in vitro.


A novata estava pronta. Mas ainda faltava a humilhação.

— Toca teu chão — ordenou Sofia. — Com a boca.

Mélanie se curvou. Lambeu o piso. Deixou o vestido escorregar pelos ombros. A pele, úmida, tremia.

— Toca tua Deusa — ordenou Bia, apontando para Clara.

A novata aproximou os lábios da vulva de Clara. Não tocou. Apenas respirou.

Clara gemeu leve, segurando o rosto da menina entre as mãos.

— Agora ela é nossa.

O templo se fez carne.
Capítulo CXXIV – As Histórias de Élanie

Era noite de velas baixas e incenso doce quando Mélanie, já vestida com o robe do templo, foi chamada à sala central. A luz morna das chamas desenhava rendas vivas sobre sua pele de mel dourado. Seus olhos, de um âmbar profundo, guardavam segredos. Clara conduziu o círculo, e cada sacerdotisa sentou-se com as pernas dobradas, deixando que Mélanie sentisse, sem palavras, o peso e a leveza daquele lugar.

— Antes de pertencer, é preciso partilhar — disse Clara, com sua voz de névoa.

Mélanie fechou os olhos e respirou fundo. Em seu peito, pesavam as lembranças: uma infância de silêncios e beleza, sempre acompanhada de sonhos recorrentes com uma mulher de véu branco em um campo de açafrões. Era Sara. Depois vieram os anos de descoberta — o toque em si mesma ao sentir o cheiro de jasmim, a vertigem ao ver mãos femininas bordando, o calor nas coxas diante de olhos que sabiam do mar. Seu corpo havia sido templo antes mesmo de saber o nome da Deusa.

Capítulo CXXV – Primeiros Ensinos Sensoriais

No primeiro ritual, Mélanie foi conduzida ao Salão das Águas. Clara retirou seu robe e a guiou nua até a piscina rasa, onde pétalas de rosas e folhas de arruda boiavam.

— Sinta sua pele como altar, sua boca como oferenda, seu ventre como fonte.

Sofia, Lizzie e Bia entraram depois, cada uma em silêncio. Lizzie, com um toque quase reverente, lavou os pés de Mélanie. Bia, com delicadeza, penteava seus cabelos encharcados. Sofia passou óleo em sua nuca, em silêncio — o cheiro de Mélanie durante sua ovulação era forte, doce, quase entorpecente, e mexia com o instinto primal de Sofia.

Mélanie sentia cada contato como um segredo desvelado, e seus seios intumescidos pulsavam com as mãos de Bia. Lizzie, ao subir com o pano úmido pelas pernas da novata, corou, deixando que seu brinquedinho tremesse de leve dentro da cinta. Era quase humilhante: desejava ser degustada, mas não ousava pedir.

Capítulo CXXVI – Proximidades e Conflitos

Nas noites seguintes, Mélanie compartilhava leito com uma das três, em revezamento ritual. Com Lizzie, sentia ternura. Lizzie a adorava como um símbolo sagrado. Era doce, mas Mélanie também via ali o desejo de pertencer a algo maior — ou a alguém. Com Bia, sentia poder: a outra a tocava com obediência, mas seu olhar sempre buscava aprovação. Já com Sofia, era tensão.

Sofia parecia evitá-la — e quando a tocava, era rápido, seco. A verdade é que o corpo fértil e os aromas de Mélanie a confundiam. Ela temia desejar. Mas desejava.

Uma noite, enquanto limpavam o altar, Sofia a empurrou contra a parede de veludo vinho.

— Você precisa parar de olhar assim — sussurrou, ofegante.

— Assim como? — Mélanie retrucou.

Sofia apertou sua cintura, a encostou mais, quase sem contato de pele. Mas o cheiro...

— Como se me visse nua, por dentro. — E afastou-se, envergonhada.

Capítulo CXXVII – Acolhimento de Clara

Após uma semana, Mélanie chorou. Chorou por sentir demais, por desejar as três de forma diferente, por não entender o que era amor e o que era submissão.

Clara a chamou à sua câmara. Sem dizer nada, despiu Mélanie e a cobriu com um manto branco.

— Dormiremos assim esta noite. Sem mãos. Sem bocas. Apenas respiração. — E assim foi.

Durante a noite, Mélanie se contorceu de desejo, suas coxas tremiam, mas Clara apenas a embalava, como mãe, como mestra, como algo que não precisa ser possuído.

Ali nasceu o equilíbrio.

Ao amanhecer, Mélanie beijou os pés de Clara.

— Sou tua, mestra. Mas também sou delas.

E Clara, com um sorriso, respondeu:

— Não. Agora, és Sara.
Capítulo CXXVI – Mélanie e o Desejo Perante o Templo

A noite caiu silenciosa sobre o templo. O incenso de rosa branca e âmbar ardia com lentidão, perfumando os corredores com um perfume úmido e sensual. As rendas pendiam das colunas e os véus esvoaçavam mesmo sem vento. Era como se a própria Sara respirasse através das paredes.

Mélanie foi conduzida por Clara até a câmara central. Estava descalça, o corpo envolto em rendas lavadas com essência de jasmim e sua ovulação já era sentida mesmo por quem não a olhava. Os feromônios se espalhavam como vapor invisível — especialmente sobre Lizzie, que apertava os joelhos ao sentir o calor se acumular entre suas pernas, e Bia, que abaixava a cabeça tentando esconder os olhos úmidos de desejo e devoção.

— Hoje, minha filha... — disse Clara — não serás testada por mim. Mas pelo templo. Ele saberá tocar onde te falta coragem, onde te sobra desejo.

Sofia aproximou-se e estendeu as mãos. Tocou os ombros de Mélanie com reverência e silêncio. A pele da jovem ardia, tremia, exalava seu momento fértil. E aquele corpo — jovem, pleno e consciente — tornava-se altar e oferenda.

Clara explicou que o templo exigiria três provas:

1. Sentir sem tocar.


2. Submeter-se sem compreender.


3. Desejar sem possuir.



Lizzie foi designada para a primeira prova. Sentou-se de frente para Mélanie. Ambas de cintura para cima. Clara ordenou que Lizzie deveria provocar arrepios em Mélanie apenas com a fala. Palavras. Olhos. Respiração. Nada mais. E assim, com voz doce e frases sensoriais, Lizzie falou de carícias que nunca deu, de lugares que nunca viu. E Mélanie, arrepiada como se tocada por correntes elétricas, estremeceu — e murmurou, inconsciente: "quero ser tua sombra... quero ser tua pele..."

Na segunda prova, Sofia levou Mélanie ao centro do salão. Pediu que ajoelhasse. E com olhos cobertos, a jovem ouviu palavras de comando que não compreendia: nomes antigos, frases em línguas de sonhos, referências a sementes, cavernas e véus. Ainda assim, obedeceu. Ajoelhou. Se curvou. Beijou o chão. Entregou-se. Ao final, Sofia aproximou a testa da jovem e disse, com voz trêmula:

— É isso que nos faz do templo. Obediência antes da compreensão.

A terceira prova foi conduzida por Bia. Mais recatada, mas cheia de fervor interno. A jovem foi colocada deitada, com as mãos presas por tiras de linho perfumadas. Lizzie e Sofia estavam próximas, mas não podiam tocá-la. Bia, com delicadeza, sentou-se a centímetros da vulva de Mélanie — sem encostar. E apenas com o calor do próprio corpo, o perfume das rendas e a presença serena, fez com que Mélanie chorasse. Não de dor. Nem de prazer. Mas de frustração. De desejo incontido. De não poder possuir o que estava ali, tão próximo.

Ao final da noite, Clara beijou-lhe a fronte.

— Agora és do templo. E o templo é teu. Mas saiba... quanto mais desejares, mais o templo exigirá.

Mélanie adormeceu naquela noite entre véus e mãos entrelaçadas. Sua jornada apenas começou, e já desejava mais do que ousava admitir.